Produtor de morango contraria bancos
Angola Investe. Empresário diz que o processo não corre de forma tão pacífica e transparente como os bancos apresentam.
O empresário agrícola Yudo Borges contesta a versão manifestada, inúmeras vezes e por diversas instituições bancárias, segundo a qual os bancos estão disponíveis a financiar os projectos no âmbito do ‘Angola Investe’, desde que cumpram os procedimentos e se apresentem viáveis.
Yudo e Celso Borges são co-herdeiros do então denominado ‘Rei do Morango’ e maior produtor de carne do país, Fernando Borges e, nesta condição, são proprietários das fazendas Chimbolela (10,5 hectares) e Jamba (450 hectares cultiváveis) na Huíla. Estão, neste momento, com três diferentes pedidos de créditos num total de 13 milhões de dólares.
“Infelizmente, estamos nesta batalha há muito tempo, são-nos impostos entraves atrás de entraves que achamos desnecessários. A nossa habilitação de herdeiros saiu em 2012 e desde aí que estamos à procura de financiamento, andamos de banco em banco, mas simplesmente não conseguimos. Temos tudo, contabilidade certa, não temos dívidas nenhumas, mas não há nenhum banco que nos estenda às mãos”, declarou Yudo Borges.
O empresário considera “incompreensível” o não financiamento do projecto de produção de carne, sobretudo pelo facto de os vários técnicos bancários que visitaram a fazenda considerarem existir “óptimas condições” para o financiamento. “Até certo ponto, chateia. Vemos pessoas que nem têm vedação nas fazendas, mas conseguem financiamentos de valores consideráveis. Se ler o nosso plano financeiro, vai ver que apenas precisamos do financiamento para a aquisição do miolo, ou seja, do gado, medicamentos e o fundo de maneio. Não solicitamos para carro, tractores ou casas. A nossa fazenda tem mais de 60 anos, tem pasto pronto, vedação e está electrificada. Até é revoltante”, desabafou.
Muito recentemente, entretanto, uma instituição bancária manifestou o interesse em financiar o projecto que está avaliado em cerca de cinco milhões de dólares e que visa a aquisição de 3.500 cabeças de gado para abate. No entanto, o histórico de insucessos aconselha cautelas, segundo o empresário, que também se manifesta “insatisfeito” pelo facto de a referida instituição bancária pretender financiar apenas 50% do valor solicitado. “Este valor daria para 1.500 cabeças, o que criaria dificuldades porque o empréstimo será de sete anos e, na produção de gado, o número é que conta”, explica Borges, argumentando com contas. “Vamos fazer umas contas rápidas. Com mil cabeças e uma taxa de natalidade anual de 90%, estaríamos a tirar quase 800 bizerros. Destes, supostamente, 400 são fêmeas e 400 machos. Dois anos depois, os machos estão prontos para o abate, mas com 3.500 cabeças teria mais 3,5 vezes e mais rapidamente conseguiria pagar o empréstimo.”
Um segundo produto também voltou a conquistar, novamente, ‘simpatia’ de um banco mas, tal como no caso da carne, o empresário prefere ver para crer. Trata-se de um projecto que está avaliado em cerca de três milhões de dólares e visa a produção de semente de batata.
“Queremos fazer dois pivots de 60 hectares e, pensado por baixo, estamos a falar de 1.800 toneladas duas vezes por ano. A ideia é processar esta semente e vender. O nosso projecto está todo feito, vamos ter uma parceria holandesa que nos vai fornecer a primeira semente e depois teremos de mudar de três em três ou de quatro em quatro anos, mas em quantidades inferiores”, explicou.
Um terceiro projecto, também avaliado em cinco milhões de dólares, visa o ‘upgrade’ da fábrica de iogurte com o objectivo de distribuir o produto também no mercado de Luanda. A fábrica está localizada na fazenda da Jamba e produz cerca de 15 mil litros/semana.
Enquanto aguardam pelo crédito, vão investindo recursos próprios para a manutenção das infra-estruturas. O empresário estima um investimento anual de cerca de 20 milhões de Kwanzas para a manutenção da fazenda da Chimbolela que tem cerca de 10,5 hectares.
Parceria relança produção de morango
Yudo Borges informou que uma parceria com o Hipermercado Candando permitiu à Fazenda Jamba relançar, em 2016, a produção de morango, depois de uma interrupção de dois anos devido à impossibilidade de importação de plantas. Em 2016, o empresário adquiriu 60 mil plantas, número muito aquém das quantidades anteriores que atingiam as 400 mil. “Houve uma grande procura da produção, pelo que as vendas não demoraram. Este ano já conseguimos pôr mais 300 mil plantas, em Maio, que estão a produzir. Conseguimos graças a uma boa parceria com o Candando, eles estão a ajudar-nos de diferentes maneiras, inclusive no acesso às divisas”, assinalou Borges, adiantando que o objectivo é chegar aos 40 hectares que são 1,2 milhão de plantas. “Vamos lutar para ver se conseguimos a alocação destas divisas. Estaríamos a falar 150 toneladas ao longo da produção de vida da planta, que é mais ou menos um ano”.
A exportação é a próxima aposta da empresa e, neste sentido, Yudo Borges esteve, recentemente, reunido com cadeias de supermercados da Namíbia que “se mostram muito interessadas”. Actualmente, a Namíbia depende, sobretudo, do morango importado da África do Sul que Borges considera não ser, muitas vezes, de boa qualidade.
JLo do lado errado da história