Profissão com cada vez mais músculo
DESPORTO. Cresce o número de jovens que afluem aos grupos de rua à procura de um corpo perfeito. Manter a coxa perfeita, barriga lisa ou o traseiro grande, saúde ou mesmo por ‘banga’ é que muitos jovens procuram nos ‘personal trainers, quer sejam em academias ou nas ruas e praias.
Todos os dias vêem-se nas pedontes, rotundas das principais vias, largos adjacentes e à beira-mar, grupos de jovens em fileiras organizadas de cima a baixo, direita esquerda à de manhã ou de noite e a fazer flexões. Estes grupos são normalmente orientados por um preparador físico, hoje, denominados ‘personal trainers’. Será porque em grupos organizados e nas ruas fica mais barato? Será que os ‘personal trainers’ pagam algum imposto pelo espaço? Até porque praticam uma actividade que gera alguma receita.
A verdade é que, usando uma ponte, passeio, largo ou rotunda o preparador físico não paga nada, porque, segundo eles, são espaços públicos e nem sequer são incomodados por fiscais, apesar de usarem os locais para fins comerciais. Os preços, modalidade de pagamento e qualidade de preparador físico variam de zona para zona. Há também os que prestam serviços domiciliares, em que o tipo de serviços é mais caro, confessa Jack Tchindje, ‘personal trainer’ que cobra, por sessão particular, três mil kwanzas. Além disso, ainda tem o ‘seu’ espaço, no triângulo dos congolenses, onde orienta cerca de 10 pessoas, número não muito regular, mas que pagam pela inscrição seis mil kwanzas e a mensalidade de três mil.
O técnico acredita que esta profissão já “está a ser mais respeitada e valorizada”. Há mais pessoas interessadas em manter a boa forma. O número de clientes, tanto masculinos como femininos, é equilibrado. Se, por um lado, os homens vão para ganhar peso e musculatura e derrubar a famosa ‘barriga de tanque’, as senhoras vão à procura de aumentar as coxas, emagrecer e ter um ‘bumbum’ mais saliente.
Jack Tchindje acredita que a aparência do preparador é um cartão-de-visita para os clientes, porque, de certo modo, é um modelo a seguir.
Como em qualquer negócio, o de ‘personal trainers também tem momentos baixos e altos. As épocas em que os clientes mais procuram pelo profissional é a aproximação do calor, sendo que as praias e piscinas são as grandes incentivadoras.
André Gabriel, de 44 anos, aluno particular, procurou um ‘personal trainer’ para manter a saúde, apesar de já ter sido praticante de desporto desde a infância, mas sente a necessidade de ter um acompanhamento de um profissional para evitar lesões. Aconselha a quem deseja praticar algum desporto ou perder quilos, que tenha, acima de tudo, disciplina. “Só com disciplina se consegue alcançar os objectivos preconizados”, reforça, desaconselhando “as dietas falsas que só acontecem de segunda a sexta”.
Há ainda quem, por diversão, opte por não cobrar pelas sessões. É o caso do jovem Fernandes Manuel, de 23 anos, que usa a rotunda do Mercado dos Kwanzas, em Luanda, já há dois anos para ensinar o pouco que sabe aos companheiros. Rodeado por mais de 20 jovens, Fernandes Manuel procura fazer só exercícios para manter e aumentar a coxa, prática condenada por Jack Tchindje, que tem formação em Educação Física, pois considera que um preparador físico não pode deixar o cliente trabalhar um só exercício, pois “poderá causar” desproporção ao corpo. “É necessário fazer uma entrevista ao cliente e mostrar as vantagens de exercitar o corpo todo”, remata.
Na mesma rotunda há um grupo que cobra 500 kwanzas por semana para ajudar a perder peso. São mais 30 jovens, todos do bairro dos Kwanzas, que alinham, uns por que se sentem acima do peso, outros para manter e ainda há quem esteja por diversão.
Nesta rotunda, há materiais para exercício montados pelas administrações, em os jovens aproveitam o cair da noite para queimar o tempo e exercitar.
Nas pentes da via principal ‘Deolinda Rodrigues’ ou Estrada de Catete, a ‘febre’ começa a partir das 17 horas. Desde a ponte da Boavista até Viana, o sobe-e-desce das escadas tem uma razão: aumentar coxas e ‘bumbum’. Maioritariamente meninas, dos 14 aos 24 anos, acorrem a esses locais para atingir os seus objectivos. Mil kwanzas por semana é o que cobra um ‘personal trainer’ para transmitir determinados exercícios para alcançar os desejos preconcebidos.
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