ANGOLA GROWING
DUAS ESCOLAS ENSINAM E PARTICIPAM EM INICIATIVAS CULTURAIS

Quando a dança se torna um negócio

FORMAÇÃO. Duas irmãs transformaram um espaço de recreio numa escola rentável e que até tem acordos internacionais. Outra escola vai dando os primeiros passos para ter uma estrutura sólida. São dois exemplos de duas escolas de dança, em Luanda, que procuram o sucesso empresarial.

A escola Alpha- Omega é uma das poucas de Luanda que tem uma estrutura tal qual uma escola. Só ensina dança e, ao contrário das muitas que existem, não se limita a ter apenas um salão. A escola, sita no São Paulo, rua Gil Liberdade, foi criada em 1999, por duas irmãs norte-americanas Marie Reynalde Vancol e Danielle Vancol. Alberga mais de 80 alunos dos três aos 18 anos e ainda adultos das mais diversas modalidades de dança. Lecciona, em duas salas, perto de 10 estilos, desde o ballet clássico e acrobático, jazz, contemporânea, afro, hip-hop, sapateado, semba, kizomba, litúrgico e ‘pointe’. As aulas de bailado para crianças mais pequenas ficam por 65 mil kwanzas a inscrição, que inclui o equipamento, e mais uma mensalidade de 9.500 kwanzas. Os adultos, pelos diversos estilos, pagam menos, cinco mil kwanzas mensais, em média, mas o valor varia de acordo com o número de módulos e horas de treino.

Inicialmente, a escola até começou como um divertimento e uma forma de entreter as crianças da rua e não só, com duas sessões semanais, mas, com o passar do tempo, as irmãs sentirama a necessidade de fazer crescer o projecto e contratar pessoal. Tudo isso acarretava custos, o que fez com que criassem condições para tornar a escola num negócio.

Com duas turmas de dança diárias e aulas de duração de uma hora e meia por cada turma, o ‘ballet’ é o mais solicitado. Segundo a professora de dança Elizandra Bernardo, “não há tempo determinado para aprender a dançar ou tornar-se um profissional”, porque “a dança é das disciplinas que requerem sempre actualizações” e, em Angola, “não há ensino específico de dança”, o que faz com que muitos estudantes, depois de atingirem o nível mais alto leccionado em Angola, tenham necessidade de ir terminar ao estrangeiro uma formação superior.

Apesar de o ballet ser o mais solicitado pelos pais e encarregados de educação, há também adultos que ainda querem aprender passos de danças clássicas. “Querem aprender a técnica e vêem como uma actividade física sem o ‘stress’ do ginásio”.

A escola tem também sistemas de bolsas para as crianças do Lar Kuzola, segundo um projecto que nasceu em 2006. A escola realiza anualmente exames com todas as crianças. No fim, levam um certificado da escola que comta com a parceria do CDI, comité da Unicef da vertente dança.

A Alpha-Omega já conseguiu criar uma companhia de dança infantil, a ‘Gift of Dance’, que junta miúdos que se destacam na escola com idades entre os 10 e os 17 anos. É desta forma que a Alpha Omega apresenta ‘performances’, em todo o tipo de eventos.

Com cinco professores, a escola ainda tem um intercêmbio cultural com a Itália, onde Angola vai participar pela quarta vez, com um espectáculo, agendado para Maio.

“Mais do que saber dançar, é necessário conhecer técnica, ter material apropriado e espaço confortável que proporcione condições de acomodação para quem queira tornar-se profissional desta área”, defende Elizandra Bernardo.

ESCOLA E GRUPO

Quem também tem a dança como profissão é Franck Zola, professor há mais de 10 anos, que ensina kizomba, semba, rumba, house, afro, kuduro, dança folclórica, entre outras. O grupo ‘Passadas do Semba’ que ele fundou há quatro anos, no bairro Kapolo II, tem perto de 30 alunos. Cobra pela inscrição mil kwanzas. E por aulas colectivas cobra 300 kwanzas por semana a cada aluno. Já para aulas particulares e ao domicílio são mil kwanzas por hora, a que se deve acrescentar a deslocação, valor que não estipula, porque depende muito da localização do cliente.

O negócio “é rentável”, considera o professor, principalmente com as aulas particulares e domiciliares, justificando que, muitas vezes, os clientes necessitam de aulas intensivas, dependendo do evento em causa. “Normalmente, os noivos procuram-nos quando falta um mês ou mesmo semanas para o casamento e há necessidade de dar aulas intensivas e cobrar mais caro, porque exige mais esforço do professor. Também recebemos alunos que não têm noção de passos de danças e ensina-se o básico”, explica.

Além de alunos nacionais, Franck Zola ensina estrangeiros que querem aprender principalmente a kizomba e o semba por serem danças em expansão internacional. As aulas são dadas entre as 16 e as 18 horas todos os dias.

A escola também formou grupos de dança que animam casamentos, palestras, aniversários e todo o tipo de eventos. Para actuar, o grupo cobra 100 mil kwanzas, “um valor discutível”. Mensalmente, é possível arrecadar perto de 50 mil kwanzas, só com as propinas.

Sem documentação, a escola ‘Passadas do Semba’ vai facturando “até conseguir algum patrocínio para melhor estruturar a sala improvisada de ensaio e aguarda por uma autorização da administração do bairro”. Desta escola, já saíram vencedores do concurso ‘Festival de Kizomba e Semba’, no ano passado.

Diferente da escola Alpha Omega, na escola ‘Passadas do Semba’ o aluno não recebe nenhum certificado ou diploma que comprova o seu profissionalismo.