QUE SE TRABALHE JÁ NA OPÇÃO C
Na quinta-feira, 5 de Março, a ministra das Finanças dirigiu-se a jornalistas para se referir a um clima de “incertezas” precipitado pela pandemia do novo coronavírus. Todavia, na leitura da governante, ainda era cedo para se equacionar a hipótese da revisão orçamental, assegurando que o Governo estava a dar respostas aos desequilíbrios gerados, com vista à consolidação fiscal.
O que Vera Daves não sabia, na altura, é que, na segunda-feira, 9 de Março, o mundo acordaria com um choque violento que colocaria o barril do petróleo 25 dólares abaixo do preço inscrito no Orçamento Geral do Estado. Num tombo histórico, que só encontra paralelo no contexto da Guerra do Golfo, o petróleo recuou mais de 30% num único dia, pressionado pelo desentendimento entre a Rússia e a Arábia Saudita sobre a (in)viabilidade de extensão dos cortes na produção, para suster os preços, ante a ameaça continuada da pandemia da covid-19.
Para Angola, era a tempestade perfeita, mas o maior susto ainda estava por se anunciar. Aparentemente acomodado na ausência de registos oficiais de infectados pelo novo coronavírus até à terceira semana de Março, o Governo levou tempo para explicar o que pensava fazer com a economia. E, quando o fez, apresentou medidas que deixaram a classe empresarial sem saída no curto prazo.
Não é mera coincidência que, ao longo desta edição do VALOR, não há um único empresário que descarte cenários de falências em catadupa, especialmente com a prolongada paralisação da actividade económica, por força do Estado de Emergência, determinado pelo Presidente da República.
E, como se tudo isso não bastasse, não é descartável, para já, a hipótese de um agravamento ainda mais intenso da tempestade económica. Isto porque, infelizmente, é mais do que provável que a derrocada do preço do petróleo ainda não se tenha revelado com toda a sua crueldade.
Vários analistas internacionais já vão admitindo a eventualidade de os preços caminharem para o nível zero, batendo completamente no fundo, ao ponto de inviabilizarem por completo os produtores. Esta deve ser, desde logo, a dor de cabeça permanente da equipa económica do Governo até que se faça luz.
É que, por muito dramática que seja a situação, os 35 dólares rectificativos ainda servem para ajustar orçamentos. Mas se o petróleo recuar para baixo dos cinco dólares, o país manter-se-á? Depois da opção A (orçamento inicial a 55 dólares o barril), opção B (orçamento rectificativo a 35 o barril), o Governo tem de começar a pensar, por precaução, numa quase surreal opção C (orçamento quase sem petróleo).
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