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QUEM SÃO OS INIMIGOS DOS ANGOLANOS

06 Sep. 2023 V E Editorial

Nada de novo. A vitimização não é apenas um traço de carácter dos regimes autoritários. É uma técnica de manipulação de último recurso, usada para se sacudir a água do capote em fases de desnorte total. Os angolanos estão habituados a isso. Senão no conjunto dos 48 anos de Independência, pelos menos nos últimos 21 anos de paz. Quando tudo o resto falha, a culpa passa a ser dos outros. Inequivocamente. Invariavelmente. Ou dos adversários ou dos inimigos. Aliás, dos inimigos porque os regimes autoritários não têm adversários. Ainda recentemente João Lourenço no-lo recordou, quando considerou como inimigo o que se pensava ser o principal adversário do MPLA. 

QUEM SÃO OS INIMIGOS DOS ANGOLANOS

Também com João Lourenço a vitimização do regime atingiu níveis de sofisticação jamais vistos em tempos de paz. No mandato passado, acossado por uma crise económico e social que reanimou os movimentos contestatários em toda a linha, Lourenço apontou o dedo a angolanos que financiavam a desestabilização de Angola a partir de fora. Quase todos desconfiaram que se referia particularmente às duas filhas mais velhas de José Eduardo dos Santos. Desta vez, não foi diferente. Para João Lourenço, a culpa do falhanço da sua campanha de atracção de investimento privado é de “alguns políticos da nossa praça”. Quase todos desconfiam que se referiu a políticos na oposição, nomeadamente da Unita. Todavia, como a contradição é outro dos traços destacados da personalidade política de Loureço, o próprio encarregou-se de encontrar o verdadeiro culpado, no caso, os empresários. Depois de repetir cansativamente o conhecido potencial do país em recursos naturais - lição que os alunos angolanos aprendem desde os livros de leitura da segunda classe - João Lourenço exonerou os certos “políticos da nossa praça” de qualquer responsabilidade no escasso investimento privado. “O que falta só depende dos homens de negócios, que devem ter a sabedoria de ver e explorar as oportunidades de negócio neste ramo tão importante da economia nacional”, concluiu, referindo-se especificamente ao turismo, enquanto discursava na reunião do Conselho Económico e Social que o próprio dirigiu na semana passada. 

Ludibriado, por ingenuidade ou por fingimento, o Presidente da República dá entender que não percebe que os problemas de fundo que explicam a falta de investimento no turismo são os mesmos que ensombram o resto do grosso da economia.

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