ANGOLA GROWING

“Quero viver da arte como Pablo Picasso”

ENTREVISTA.Guilherme Mampuyua assume que quer “ser rico” ainda como artista e não morrer pobre como Van Gogh. Por isso, trabalha arduamente e hoje só pinta por encomenda. É um dos artistas com mais sucesso em Angola, com um estilo muito próprio. Em breve, vai abrir uma galeria.

 

Quais são as suas principais influências?

A primeira é do Kenga Avelino, o mestre que me ensinou a pintar. Depois Pablo Picasso e Salvador Dali com a vertente do surrealismo. Influenciaram-me bastante.

Foi assim que desenvolveu o seu estilo?

Exacto. Foi muito a fusão dessas vertentes. Porque, quando bebo as experiências de todos eles, crio o meu estilo.

Já foi plagiado?

Ainda não! Mas a minha pintura já inspirou a nova geração. Acho interessante e alegro-me ao ver que os jovens se inspiram em mim. De certa forma, aumenta as minhas responsabilidades como artista. Quando cheguei a Angola, gritei que cá se vive das artes plásticas.

Já é reconhecido fora do país. Sente barreiras da parte dos críticos?

Não! Actualmente, a nível mundial, a crítica é problemática e é uma opinião subjectiva de quem está a critica. Em Angola, já recebi críticas positivas de Patrício Batsikama, que é um dos críticos e que respeito muito, de Adriano Mixinge e do escritor Luís Fernando. O que tenho de fazer é não olhar muito para a crítica e tentar superar-me sempre. Para mim, é muito importante receber essas críticas.

A sua arte é mais comercial ou mais cultural?

Feliz ou infelizmente, hoje estamos a falar da ideia de produzir obras em termos culturais. Isto é possível quando o artista quer levar uma vida de ermita, ou seja, uma vida simples. Hoje em dia, o mundo está comercial e faço a pintura para viver. Não quero ser como Van Gogh. Quero ser como Picasso que, vivo, tinha já um castelo e Salvador Dalí que, vivo, podia viajar para o mundo todo com a sua riqueza. Tento vender as duas coisas: parte cultural que é a alma da pintura e no intuito de vender os meus quadros.

Pensa em fazer novas linguagens, como a digital?

Sim! A minha próxima exposição que vai decorrer no Instituto Camões, em Maio, em homenagem a África, com cerca de 17 peças, vai constar imagens de Nelson Mandela, a mulher angolana e toda a sua beleza e muito mais. A pintura está a mudar e o mundo também. Há alguns séculos, só tínhamos o óleo, acrílico, mas hoje em dia já há novos materiais como a resina hipnose, que é o meu novo desafio.

Qual foi a encomenda que mais mexeu com o seu ego?

Toda a encomenda é uma aventura. Há muito tempo que pinto e nunca tive uma tela rejeitada.

Todo o seu trabalho é encomendado?

Desde que o ano começou só faço pintura por encomenda.

E como vê a arte hoje em Angola?

Já estamos lançados. Fico contente com a quantidade de exposições que há todos os meses em galerias novas e antigas. Mas o número ainda não é satisfatório. Vou abrir a minha galeria no Zango.

Em média, quantos quadros pinta e quanto custa um quadro seu?

Por semana, posso pintar dois a três quadros.

Não receia que os preços dos quadros baixem por pintar muito?

A pintura tem sempre um efeito contrário, porque, quando o artista se torna conhecido, mais caro as suas obras custam. Essa é a boa parte do nosso trabalho. Se, há cinco anos, por semana, podia produzir cinco telas, era para cinco clientes. Hoje, as cinco telas são para 50 pessoas.

Quanto custa um quadro seu?

As minhas obras não são para qualquer bolso. Uma tela minha, de um metro por um, que custava 100 mil kwanzas, hoje custa 250 mil.

 

PERFIL

Guilherme Mampuya Wola nasceu a 4 de Novembro de 1974 no Uíge. Começou a trabalhar em artes plásticas, em 2002, depois de ter feito um curso de pintura básica. Lançou o livro que retrata 10 anos de carreira. Criou um estilo próprio, que é hoje inconfundível.