Receitas chegam aos três milhões de kwanzas
FEIRAS. Administrações encaixam, em média, três milhões de kwanzas com a realização de feiras, também conhecidas como ‘maratonas’. Vendedores querem formalizar os espaços.
Em várias pontes dos municípios, das diferentes províncias, sobretudo nas datas comemorativas, é comum realizarem-se feiras. Os comerciantes pagam pelos espaços às administrações.
Luanda, Viana e Cacuaco são os municípios que dispõem de mais espaços, na província capital, mas a gestão depende das administrações municipais. A de Viana, o município mais populoso do país, apesar de insistentemente ter sido contactada pelo VALOR, ‘escondeu’ os números. O responsável do Comércio, Manuel Gomes Vaz, alega que só mostra as receitas com a autorização de André Soma, o administrador municipal, que não respondeu aos contactos do jornal.
Quem anda pelas feiras, como Ângela Mateus, há mais de 10 anos, considera o negócio “rentável” e com ganhos tripartidos, entre as administrações, por via da cobrança de taxas pela concessão de espaços, os feirantes que conseguem lucros acima dos 50 mil kwanzas e os trabalhadores eventuais que levam para casa entre os 15 e os 20 mil kwanzas ao fim de 30 dias, consoante os termos do contrato.
No Cacuaco, decorrem as festividades em alusão à cidade, criada a 24 de Junho. Os cerca de 200 feirantes pagaram, cada um, 15 mil kwanzas para a ocupação de espaço durante 30 dias. Com os pagamentos a trabalhadores eventuais e com as bebidas, cada feirante investe entre 80 e 150 mil kwanzas. E espera obter lucros, de, no mínimo, 50 mil kwanzas ao cabo dos 30 dias.
As feiras são aproveitadas pelas empresas de bebidas, como o grupo Castel e a Refriango, que disputam a exclusividade. Se a parceria com a administração for com a Castel, as vendedoras ficam proibidas de comercializar produtos de outras empresas.
Ângela Mateus discorda desta exclusividade, defendendo que a rivalidade das empresas prejudica o negócio e sugere que as administrações revejam esses acordos.
No centro da cidade e nos distritos urbanos, é notável a existência de feiras fixas. Nestas, paga-se uma taxa semanal. Por cada tenda ou ‘roulotte’ instalada, a taxa é de 1.500 kwanzas, perfazendo 6.000 kwanzas/mês. Ou seja, nas feiras com até 100 ocupantes, a administracção arracada cerca de 600 mil mensalmente.
A vendedora Júlia Romeu garante que muita gente depende das feiras e até manifesta a vontade de formalizar a actividade, acabando com o sistema ‘abre, encerra, encerra, abre’.
O Grupo Castel, por exemplo, tem o programa ‘Gira Cuca’ em que, com as administrações municipais, promove ‘maratonas’ nas 18 províncias. Está no Cacuaco, a próxima etapa é no Uíge.
PARA MANTER NEGÓCIO
As feirantes defendem a formalização dos negócios para não terem de mudar sempre de espaço. “Estamos dispostas a pagar ao Estado, pois é aqui onde fazemos a nossa vida”, reafirma Ângela Mateus.
Com essas feiras, os governos provinciais, através das administrações, pretendem também organizar os vendedores ambulantes em áreas específicas, por considerarem haver produtos “que não podem e não devem ser comercializados na rua”.
O economista Jesué Chilundulu lembra que, numa altura em que se discute o modelo de financiamento das autarquias, as feiras podem ser uma das fontes de receitas.
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