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REFERENDO PROVOCA UM 'TERRAMOTO' POLÍTICO E ECONÓMICO

Reino Unido: bye bye Europa

27 Jun. 2016 Emídio Fernando Mundo

BREXIT. As bolsas caíram. A libra bateu no fundo. David Cameron demitiu-se. Mais há países da Europa a pensar em referendos. Os independentistas na Escócia e na Irlanda querem sair, mas do Reino Unido. Eis as primeiras consequências da vitória de quem quer a retirada da UE.

Primeira e imediata consequência do referendo britânico que ditou a retirada do Reino Unido da União Europeia: a libra, a moeda inglesa, atingiu os mínimos históricos e arrastou na descida o euro e o dólar. As consequências seguintes foram a agitação dos mercados e até o outro lado do mundo sentiu o terramoto europeu: as bolsas asiáticas caíram, em especial, as de Tóquio e Hong-Kong. Também o preço do barril do petróleo desceu 6,5%, ficando abaixo dos 48 dólares.

Perante este cenário, logo pela manhã de sexta-feira, quando se soube da vitória do Brexit por 52% contra 48%, o Banco de Inglaterra apressou-se a garantir que iria “tomar todas as medidas necessárias para cumprir com a responsabilidade em termos de estabilidade monetária e financeira”.

Mais de 14 milhões votaram a favor da saída da UE, enquanto 13 milhões preferiram a continuidade. Mas o epicentro deste referendo histórico esteve mesmo na demissão de David Cameron, o primeiro-ministro, defensor da União, e que há um ano venceu as legislativas obtendo a melhor votação dos conservadores em 20 anos, prometendo precisamente a realização de um referendo. Um ano depois, perdeu em toda a linha. Cameron deve continuar na chefia do governo até Outubro, quando decorrer a convenção do Partido Conservador.

Ainda na manhã de sexta-feira, foi criada uma petição online para pedir um segundo referendo. A página teve tantas visitas em tão pouco tempo que foi abaixo. A petição pedia 100 mil assinaturas para conseguir a segunda votação. Na altura em que o site foi abaixo, já se tinham inscrito 55 mil pessoas em apenas duas horas. Quando a página foi reatada, o número já tinha ultrapassado os 99 mil.

Pela Europa, as ondas de choque chegaram a quase todo o lado. A chanceler alemã, Angela Merkel, alertou para o perigo de haver uma “divisão ainda maior da Europa” e pediu aos Estados da UE para “não se deixarem levar pelo ímpeto de tomar decisões demasiado rápidas e simples”.

A vitória do Brexit abriu as portas a intenções parecidas noutros locais, como em França, Itália, Holanda, Dinamarca e até na Turquia que negoceia a entrada para a União. A líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, garantiu que, se chegar à presidência, convoca um referendo que possibilite a retirada do país. As sondagens dão-lhe uma vitória à primeira volta nas presidenciais e apontam para que apenas 30% aceite a UE.

Em Itália, depois do sucesso nas eleições municipais, com vitórias em Roma e Turim, o eurocéptico ‘Movimento 5 Estrelas’, fundado pelo humorista Beppe Grillo, já anunciou a intenção de convocar um referendo sobre a moeda única: o partido defende a criação de um euro para os países mais ricos e outro para os mais pobres.

Segundo sondagens, os holandeses querem um referendo sobre a Europa e mostram-se muito divididos. Na Dinamarca, o líder do Partido do Povo, também de extrema-direita, não hesitou em pedir que o país siga o exemplo do Reino Unido. A secretária de Estado para o Emprego da Suécia alertou que se a vizinha Dinamarca avançar, o sentimento anti-Europa pode alastrar-se na Escandinávia e forçar também um referendo na Suécia.

Por outro lado, a saída da União Europeia poderá levar a referendos, mas de sinais contrários, na Escócia e na Irlanda do Norte. Se a Escócia continuar no Reino Unido será obrigada deixar a UE. Mais de 61.9% votaram para que o Reino Unido continuasse integrado. Na Irlanda do Norte, o Sinn Féin, segundo maior partido, avisava, em comunicado, que o governo britânico tinha perdido “toda a legitimidade para representar os interesses da Irlanda do Norte”, onde 55,8% dos eleitores votou contra a saída.

 

Jogadores e emigrantes afectados

A saída do Reino Unido poderá afectar os emigrantes. À partida a livre circulação de pessoas e bens será a mais atingida. Todos os cidadãos da UE são livres de se candidatar a um emprego em qualquer Estado-membro. É assim aliás que a Inglaterra tem acolhido muitos emigrantes, alguns vindos de África, mas com a facilidade de terem outra nacionalidade como a portuguesa, francesa ou belga, pertencentes à EU. Fora da Europa, reduz-se a possibilidade de contratação e de os emigrantes beneficiarem dos apoios sociais ingleses.

As comunidades de emigrantes mostram-se sobretudo preocupadas com o crescente nacionalismo inglês. A rejeição à Europa é associada ao sentimento nacionalista.

Também a contratação de futebolistas poderá ser afectada em que os clubes ingleses se arriscam a não poder ter ‘estrelas’ europeias. Um estrangeiro só pode jogar no Reino Unido depois de ter uma considerável carreira internacional. Por exemplo, Cristiano Ronaldo foi para o Manchester United com 18 anos. Fora da UE, esta contratação seria impossível. Uma análise feita pela BBC calcula que 332 jogadores podem ficar sem visto de trabalho. No futebol escocês, a situação seria ainda mais grave. Nenhum dos 162 jogadores europeus tem carreira internacional que justifique um visto de trabalho.