Reino Unido com novo governo e novas polémicas
EUROPA. Depois do referendo que ditou a saída do Reino Unido da União Europeia, a Grã-Bretanha reorganiza-se politicamente para negociar a saída sem grandes transtornos económicos. Tem Theresa May como primeira-ministra, 26 anos depois de ter tido uma mulher a chefiar o governo. Mas já começaram as polémicas: a subida a ministro de Boris Johnson e os negócios do marido da primeira-ministra.
Mal foi empossada primeira-ministra, em substituição de David Cameron, a conservadora Theresa May já enfrenta polémicas que começam na própria casa. A nova chefe de governo britânico, que vai negociar os termos da saída da União Europeia (UE), é casada, há 30 anos, com Philip John May que é ‘apenas’ o executivo de um fundo de investimento, uma das maiores e mais poderosas instituições financeiras do mundo. O fundo controla 1,4 mil milhões de dólares em activos, entre eles, 20 milhões de dólares em acções da Amazon e da Starbucks, duas das empresas que a nova primeira-ministra citou no discurso que prometia “um maior combate à evasão fiscal”: “Não interessa se falamos da Amazon, do Google ou da Starbucks: todas têm o dever de repor alguma coisa, têm uma dívida para com os vossos concidadãos, têm a responsabilidade de pagar impostos. Por isso, como primeira-ministra, vou combater a evasão fiscal individual e empresarial”.
A notícia dos negócios do marido foi dada pelo jornal The Independent que baseou a investigação em registos das autoridades norte-americanas. O Capital Group, com sede em Los Angeles, é o empregador de Philip May e detém enormes quantidades de acções de uma série de multinacionais, incluindo o banco de investimento JP Morgan Chase, a fabricante de armas Lockheed Martin, a tabaqueira Philip Morris International e a companhia aérea Ryanair.
A empresa confirmou que Philip May, especialista em fundos de pensões, trabalha nos seus escritórios de Mayfair, em Londres, A porta-voz da empresa revelou ao jornal que o marido de Theresa May “é um gestor de relações com clientes que se mantém em contacto com organizações e instituições do Reino Unido, para garantir que estão felizes com os serviços executados pelo Capital Group”. Sarcasticamente, o jornal alerta que continua, para já, por se apurar se Theresa May tem conhecimento das enormes participações do empregador do marido nas empresas que cita e que pretende responsabilizar.
As duas empresas para as quais Philip May trabalha são as que mais têm sido criticadas no Reino Unido por criarem estruturas que lhes permitem pagar menos impostos e que foram referidas por Theresa May. Por causa destas posições duras, a nova líder do governo britânico já é chamada a ‘Ãngela Merkel inglesa’
Além dessa polémica, a nova chefe de Governo surpreendeu ao nomear Boris Johnson para ministro dos Negócios Estrangeiros, um acérrimo defensor da saída do Reino Unido da UE e até ‘cabeça-de-cartaz’ do ‘Brexit’. Mas não será este antigo presidente da Câmara de Londres a negociar com os (ainda) parceiros da União, cabendo a essa responsabilidade a David Davis, também membro do Partido Conservador. No entanto, não minimiza a ‘chuva’ de críticas. Por exemplo, as que vieram de França, através do homólogo Jean-Marc Ayrault, que, indirectamente, chamou “mentiroso” ao ministro britânico: “Na campanha mentiu bastante, agora é ele que está encostado à parede para defender o seu país, mas o que importa é a unidade dos 27”. Contudo, o ministro francês não esconde a preocupação de como será a relação entre Londres e Paris. “Preciso de um parceiro em quem possa negociar, que seja credível e fiável”, desabafou numa entrevista a uma rádio francesa.
Também o presidente do Parlamento Europeu alertou para aquilo que chama “um perigoso círculo vicioso do Reino Unido que tem um impacto na Europa”. Martin Schulz teme que a escolha dos nomes para o novo governo se tenha baseado apenas em “resolver problemas internos do partido”.
Além de Boris Johnson, foi nomeado para o Ministério da Economia, Philip Hammond, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros. Será ele a ter a dura a tarefa de manter a economia a funcionar em tempos de incerteza que se vivem, devido à votação favorável à saída do Reino Unido da União Europeia no referendo no passado 23 de junho, que deu vitória ao Brexit.
A saída da UE também provocou ondas de choque no Partido Trabalhista, na oposição. Jeremy Corbyn, também derrotado no referendo, já tem dois opositores: Owen Smith e Angela Eagle. Ambos garantem querer convocar um segundo referendo sobre a continuidade na UE.
BCI fica com edifício do Big One por ordem do Tribunal de...