Sair de Luanda sem testes custa entre 5 e 15 mil kz
CORRUPÇÃO. Cerca sanitária exige viagens com testes, mas os passageiros arranjam forma de sair de Luanda, pagando bilhetes mais caros, algumas vezes com os preços a triplicar. Motoristas justificam com os custos não só por causa da covid-19, mas também para ‘contornar’ obstáculos.
Apesar de Luanda estar sob cerca sanitária devido ao aumento vertiginoso de casos positivos de covid-19, centenas de pessoas têm conseguido diariamente sair da capital sem efectuar qualquer teste.
A cerca imposta restringe a circulação de pessoas para outras zonas do país, excepto nos casos em que é apresentado um resultado negativo do teste nos controlos fronteiriços,
Uma ronda do VALOR, em diversas paragens, permitiu inteirar-se do negócio. Ao preço do bilhete de passagem é acrescido um valor entre os 5 e 15 mil kwanzas, este último nas pequenas empresas de viagens inter-provinciais.
Em Viana, na paragem conhecida como ‘Tio Show’, viaturas ligeiras e pesadas, algumas com cargas, com destinos ao Norte e ao Sul, perfilam-se em busca de clientes. A negociação inicial é feita pelos jovens lotadores que abordam os potenciais clientes com perguntas relacionadas com a zona de destino e se têm em mão o teste. Na eventualidade de não o ter, anunciam que ao bilhete é acrescido mais cinco mil kwanzas.
A viagem para Malanje custa 20 mil, com o teste, enquanto na falta deste custa 25 mil kwanzas. Para quem deseja chegar ao Huambo sem o teste, pode pagar à volta dos 35 mil. A negociação é feita em plena via pública sem qualquer receio de um eventual surgimento de agentes da Polícia.
O mesmo cenário pode ser visto na paragem ‘informal’. Além desta, mas a escassos metros, há o chamado ‘Parque’, um quintal onde também param viaturas à espera de clientes para as mesmas províncias. Aqui, a negociação é feita numa sala administrativa e a viagem, para quem não tem o teste, fica ainda mais cara. É exigido acrescentar 15 mil kwanzas ao bilhete, independentemente da região a que se pretende chegar.
Por exemplo, a passagem para Malanje, que custa 20 mil, é cobrada a 35 mil kwanzas. Já para a Huíla, o preço ‘salta’ dos 43 mil para os 58 mil.
O mesmo esquema é utilizado pelos motoristas da zona adjacente ao mercado dos Kwanzas, no Cazenga. Cobram 25 mil para quem, sem teste, pretenda chegar a Mbanza Congo.
Para justificarem os preços praticados, quando um cliente tenta negociar a redução, os motoristas explicam que conhecem o aperto da fiscalização no posto de controlo do Nzenza do Itombe, que conta com a presença de agentes da Inspecção-Geral da Administração do Estado (Igae). Mas asseguram o prosseguimento do trânsito sem constrangimentos, garantido que “têm pessoas de confiança, muitas pertencentes à PN e ao SIC, que devem ser bem recompensadas”.
Ao contrário, quem faz a rota Luanda-Uíge não arrisca a enveredar pela tal prática por considerarem a fiscalização no controlo da província “bastante rigorosa”.
Na maioria dos casos, os motoristas ligam aos facilitadores, dando a conhecer que estão a caminho. Retornam a ligar quando se aproximam do controlo. Em clara demonstração de desrespeito ao Decreto Presidencial que prorroga a situação de calamidade pública. Segundo depoimentos de passageiros, optam pelo pagamento devido à morosidade na entrega dos resultados dos testes.
Em Outubro, o Governo fixou o preço dos testes de covid-19 entre os seis e os 75 mil kwanzas para quem, por iniciativa própria, deseje saber do seu estado serológico ou viajar no interior ou para o exterior do país.
TRANSPORTADORA FORA DA CORRIDA
A transportadora Macon, uma das que mais meios tem à disposição nas rotas inter-provinciais, optou por não ligar à capital e outras localidades por conta dos elevados custos, pouco rendimento com a redução a 75% da capacidade bem como os constrangimentos enfrentados para se efectuar o teste. Segundo a área comercial da transportadora, a experiência com os passageiros, obrigados a apresentar teste que desembarcam até ao rio Longa, não é das melhores. Às vezes, chega a transportar apenas 15 passageiros quando a capacidade autorizada por decreto permite preencher 25 lugares.
Polícia promete investigar
Segundo o porta-voz da Comissão Multissectorial de Prevenção contra a covid-19, Waldemar José, foram espoletadas investigações para apurar as denúncias, todavia, até ao momento, não foi flagrado o envolvimento de qualquer agente do Ministério do Interior no esquema de corrupção nas fronteiras. No entanto, garante que investigações prosseguem e, caso existam agentes da PN e do SIC envolvidos, aconselha a abdicarem da prática “sob pena de sofrerem sanção disciplinar e serem responsabilizados criminalmente.” Por outro lado, explica que não foi formalizada qualquer queixa diante da instituição. Por isso, apela aos cidadãos a denunciarem tais práticas nas esquadras mais próximas e a gravarem áudio ou vídeo diante de actos desta natureza.
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