“Se a vontade de Angola for ficar ao lado da Rússia, essa será a união mais forte do que a união obrigada pelos EUA”
Embaixador em Angola desde 2017, Vladimir Tararov não sabe quando é que terá de terminar a sua missão. Centra-se em recuperar os bons tempos entre Moscovo e Luanda e está convencido de que a cooperação dos EUA é sempre imposta, ao contrário da amizade com a Rússia. Nas entrelinhas desta entrevista, sente-se uma nostalgia por aquilo que foi a extinta URSS, o que lhe dá para fazer comparações com o tempo moderno. Garante não ter ciúmes quando o Governo opta por outras parcerias e assegura estar disponível para cooperar com Angola, inclusivamente na área de fornecimento de cereais.
Está em fim de mandato ou vai renovar?
Cheguei em vésperas das eleições gerais e claro que com a mudança de presidente, não sabia o que fazer. A parte angolana comprometeu-se a não mudar o texto das minhas credenciais porque já tinha entregado as minhas cartas figuradas ao MIREX. Nas minhas credenciais, constava o nome de José Eduardo dos Santos. Mas depois das eleições disseram-me que tinha de refazer com o nome do novo Presidente. Afinal de contas ntreguei as credenciais só a 1 de Novembro. Segundo as regras angolanas, não podia estabelecer contactos com ministros nem com as outras autoridades estatais, porque não tinha entregado as credenciais. Não houve qualquer restrição de contacto com os meus colegas do corpo diplomático, nem com as pessoas que não pertenciam ao Estado. Por isso, consegui fazer um trabalho abnegado para o bem dos dois Estados. Já passaram quase sete anos, mas, segundo o nosso sistema, não existe um prazo para um embaixador. Só existe um despacho do presidente de nomeação do embaixador extraordinário e plenipotenciário e de término de poderes. Não sei a minha perspectiva, mas habitualmente os embaixadores trabalham entre três e quatro anos, é a média. Estou aqui há sete anos, espero que o meu governo esteja a preparar uma alternativa deste posto de embaixador, mas existem dificuldades. O embaixador tem de falar a língua portuguesa, tem de conhecer a realidade da região e de África. Estamos na véspera das nossas eleições presidenciais, que também é um factor que vai influenciar a nomeação de outro embaixador.
Há quem diga que depois do seu mandato cessar, não vamos ter embaixador da Rússia. Imagina esse cenário?
É impossível, tendo em conta as nossas relações, não só de amizade, mas de fraternidade. É impossível supor que a nossa embaixada fique sem embaixador. Angola não é só um país fraterno, mas um país bastante importante em África e na região. Historicamente, cooperamos com Angola em vários domínios e claro que temos a intenção de prosseguir essa cooperação e, por isso, tem de ter embaixador.
As relações Angola-Rússia continuam tão boas como no passado?
A vida muda. Claro que existem altos e baixos. Com essas mudanças dentro da Rússia e de Angola, claro que existem mudanças no relacionamento. Isso depende não só do regime dos países, mas também das necessidades objectivas. Por exemplo, no tempo da União Soviética, era mesmo na base da cooperação. Ajudámos Angola, tentámos reforçar Angola como um Estado soberano e independente. Depois da dissolução da União Soviética (URSS), a Rússia herdou todos os poderes, deveres e obrigações. Começámos a reconstruir a nossa vida, política, económica, cultural, etc. Foram alterados os vectores da nossa política externa e interna. Preocupamo-nos mais com a vida interna do que com a ideologia internacional como nos tempos da URSS. Também a cooperação com Angola baixou-. Não podíamos prestar tal assistência a Angola e Angola também já era um Estado bastante forte e organizado e a URSS deu um grande contributo. Criámos aqui uma camada de inteligência cultural, técnica, científica e estatal, que é mais importante. Ajudámos a criar ministérios, a determinar objectivos, tarefas e formação de quadros. Quando saímos do período ideológico, claro, que apareceram outras tarefas ligadas por uma cooperação mutuamente vantajosa. Tivemos de nos reforçar. Quando a Rússia se levantou da queda dos anos 1990, começámos a buscar parceiros internacionais para a nossa cooperação. Existe um vector político e isso depende das tarefas internacionais. A Rússia também pretende, antes de tudo, estabelecer um mundo mais justo, mais equilibrado, em que cada país tenha um voto igual a todos, sem referência ao tamanho desse país e ao nível de desenvolvimento. Estamos interessados em aliados políticos que podem não apoiar a Rússia propriamente dito, mas uma ordem internacionalmente reconhecida para um mundo mais justo.
Para ler o artigo completo no Jornal em PDF, faça já a sua assinatura, clicando em ‘Assine já’ no canto superior direito deste site.
REFINARIAS ENCALHADAS