“Sempre houve corrupção no futebol”
Na primeira entrevista depois de ser conhecida a deliberação da Federação Angolana de Futebol, o antigo líder da FAF condena a decisão, apesar de defender penalização para os prevaricadores e alerta que pode ‘matar’ o futebol angolano. Admite que fosse ele o presidente não tomaria a mesma resolução. Armando Machado confessa sentir uma “dor muito grande” pelo desaparecimento do Hotel Palanca Negra e culpa o Governo por não ter chegado à presidência da Confederação Africana de Futebol.
Como tem estado a acompanhar o caso de corrupção no futebol?
É a primeira entrevista que estou a dar sobre o assunto. Tive um grande problema de saúde, estive internado cerca de um mês e tal aqui no país e, depois, em Lisboa. Lamento que tudo esteja a acontecer e que, nesse envolvimento, estejam os maiores clubes de Angola. Desde que me conheço a trabalhar no desporto e ligado aos Petros e à Académica do Lobito. Não posso falar do Kabuscorp, porque o Kabuscorp aparece no desporto quando eu era presidente da Federação. Até tive um relacionamento um bocado difícil por comportamento do Kabuscorp, mas não guardo maus comportamentos, diluo e dou oportunidade para que as pessoas se possam refazer, se possam tornar dirigentes desportivos que é esse o grande mal da Federação Angolana de Futebol.
Pode ser mais claro sobre esse grande mal?
Não basta ter um desenvolvimento intelectual e um curso disto ou daquilo para ser dirigente desportivo. Dirigente desportivo vem com a pessoa e depois se associa ao desenvolvimento intelectual para poder gerir uma federação. A FAF atingiu níveis extraordinários, quando eu lá estive e não me recandidatei. Estive lá dez anos. Dizem que a Federação não tem dinheiro, mas ninguém pergunta porque é que deixaram roubar o Hotel Palanca? Tornei a FAF independente financeiramente. O Hotel Palanca não alojava só as equipas que vinham jogar contra nós. Alojava a nossa e a dos outros. Aquilo que se desenvolvia nas outras modalidades também se ia hospedar lá. Era um negócio que dava dinheiro e prestigio à Federação. Era isso o sustento da FAF. Quando o Presidente José Eduardo dos Santos foi inaugurar, ficou admirado porque nunca tinha pedido dinheiro ao Estado e construí o hotel.
Teve apoio externo, certo?
Sim. O dr. João Havelange (então presidente da FIFA) tornou-se muito meu amigo e eu amigo dele. Um dia, levou-me a Sagres. Fui a Sagres pedir fatos, porque levei o Petro do Huambo a Itália para um estágio. Pedi fatos com emblema da Sagres. O presidente da Sagres disse-me que eu era o primeiro presidente a pedir fatos e não dinheiro. Ele perguntou-se o que é que eu precisava e eu disse-lhe que estava a construir um hotel e a sede da federação e se ele me desse cerveja, eu venderia para usar o dinheiro na construção. Perguntou-me em quanto tempo pensava construir o hotel, disse-lhe que seria em 15 meses. Recebi um contentor de 40 pés de cerveja e, neste período, construi o Hotel Palanca Negra que entreguei a quem me substituiu. Depois, abandonaram aquilo. Arranjaram uma sede no Kilamba, largaram
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