PRISCILLA CHAN JÁ DOOU MAIS DE TRÊS MIL MILHÕES DE DÓLARES

'Senhora Facebook', milionária e solidária

08 Dec. 2021 Emídio Fernando Gestão

FORTUNAS. Foi refugiada de guerra vítima dos EUA, mas foi com os norte-americanos que encontrou o caminho do sucesso e da generosidade. Priscilla Chan convenceu o marido, Mark Zuckerberg, a doar 99% da fortuna dos dois.

No mundo dos negócios e da política, há uma frase que se tornou um lugar-comum: "por detrás de uma grande homem, está uma grande mulher". O ditado encaixa, quase na perfeição, na família Zuckerberg, ou melhor, na família Facebook. Casal detém uma fortuna avaliada em pouco mais de 100 mil milhões de euros. Mas 99% dessa quantia vai sendo doada por influência de Priscilla Chan, a mulher de Mark Zuckerberg.

Priscilla Chan foi professora, até ter optado por uma mudança radical. Inscreveu-se na Faculdade de Medicina de Harvard, graças a uma bolsa de estudo, já que não tinha dinheiro para frequentar uma das mais – se não, a mais – famosa e cara instituição do ensino superior dos EUA. Uma mudança de rumo, que iria ser decisiva para a vida profissional, mas sobretudo pessoal. Foi na Universidade de Harvard que Priscilla Chan conheceu Mark Zuckerberg, um tímido 'nerd' que tinha como principais aptidões o gosto e o conhecimento de computadores e o desejo de conhecer raparigas bonitas, aparentemente inacessíveis. Umas capacidades que permitiram – ou facilitaram – a que o jovem Mark criasse o Facebook, que domina a vida de (quase) toda a gente do mundo moderno.

A história e os meandros à volta dela e da criação do Facebook são sobejamente conhecidas e até inspiraram o filme 'A Rede Social', que transmite um retrato pouco simpático de Mark Zuckerberg.

Em contra-corrente, está Priscilla Chan que, aos 36 anos, se tornou 'imperadora' dos negócios, graças ao casamento com o tímido Mark, mas especialmente por ser a mentora de um outro rumo que deu a uma das maiores fortunas mundiais. O casal criou, em 2016, a CZI – Chan Zuckerberg Initiative – cujo objectivo passa por doar 99% da fortuna  a obras de caridade e a projectos ligados à saúde e à educação.

Os mais cínicos e os mais cépticos vêem na iniciativa do casal uma forma de escapar aos impostos e uma maneira de lavar a consciência, já que a Facebook – empresa recentemente transformada com o nome Meta – tem sido comparada às grandes tabaqueiras, por alegadamente colocar os lucros à frente da segurança e da saúde (em particular, a mental).

A empresa do casal foi criada, em 2016, na semana em que nasceu a primeira fila. Está sediada numa zona resplandecente em Redwood City, em pleno coração de Silicon Valley, a 'capital' das empresas tecnológicas. Em cinco anos, já doou mais de três mil milhões de dólares. Tem sido Priscilla Chan a traçar, nas poucas entrevistas que vai concedendo, as metas da CZI: "Ajudar a curar, prevenir ou controlar todas as doenças até ao final do século e criar uma sociedade mais equitativa, em que todas as crianças tenham oportunidades iguais". Com tanto interesse altruísta, a empresa transformou-se numa fundação. Daí, de novo, volta a sofrer ataques de que há um aproveitamento mais económico do que interesse em trabalhar para os outros.

Para gerir tão pesado encargo, Priscilla Chan largou a medicina e o emprego como pediatra para se tornar co-presidente executiva da CZI. Foi um salto 'gigante' de uma ex-refugiada da guerra do Vietname, de origem chinesa, que acabou por ser acolhida nos EUA, num dos bairros pobres de operários. Para trás, deixou a fuga, num bote, de Saigão, a cidade tristemente célebre por ter sido fustigada pelas tropas norte-americanas.

Nos EUA, a jovem Priscilla foi, aliás, educada para seguir uma profissão, que lhe permitisse arranjar um emprego como electricista ou operária de uma fábrica, enquanto o pai trabalhava, cerca de 18 horas por dia, no seu restaurante... chinês, claro, que os 'clichés' têm mesmo uma razão para existirem.

No entanto, a jovem quis desafiar o destino, ajudada por uma inteligência fulgurante. Arrancou boas notas em Biologia, tornou-se uma especialista em robótica e conseguiu uma bolsa em Harvard, mas com a obrigação de servir mesas uma vez por semana, ao mesmo tempo que também fazia voluntariado, ensinando crianças desfavorecidas em bairros pobres.

Na Universidade elitista, Priscilla Chan não se adaptou, sentia-se deslocada, fora do meio e deve ter sido essa forma de estar que a aproximou do 'sr. Facebook'. Casaram-se quando a empresa entrou para a Bolsa de Valores e 'apanhou' aí o comboio rápido para a fortuna. Quatro anos depois, Pricilla Chan convence o marido a empreender na criação da CZI.

No mundo dos negócios e entre os multimilionários, definitivamente a filantropia vai ganhando adeptos. Além do casal Zuckerberg, também Bill Gates e a mulher Melinda e Jeff Bezos e a esposa MacKenzie Scott formam duplas que criaram fundações. Nos três casos, contribuem para a investigação e vão aproveitando para fugir dos impostos. Mas dos três casais, apenas Zuckerberg e Chan mantêm a parceria, perdão, o casamento. Os outros dois já se divorciaram.