Sete barreiras dificultam exportações
CONFERÊNCIA. Entre várias soluções para estímulo às vendas para exterior, vice-presidente da República defende criação de seguro e linhas de crédito para suprir dificuldades de tesouraria.
Os participantes à conferência sobre exportação, promovida pela Agência para a Promoção do Investimento e Exportações de Angola (APIEX), na última semana, foram unânimes na identificação dos entraves internos que encontram no processo de exportação. Pouca produção, qualidade não certificada, burocracia nos processos, desconfiança entre bancos e empresas, inexistência de seguro para as exportações, dificuldade no acesso às divisas para repor equipamentos e altos custos de exportação são os sete constrangimentos destacados no processo de venda de produtos locais para o exterior, em alinhamento com o diagnóstico do vice-presidente da República, Manuel Vicente, que discursou na abertura do evento.
Elizabeth Santos, empresária destacada no agronegócio, realça a necessidade de redução do pagamento de alguns direitos aduaneiros. Já o também empresário Gentil Viana pensa que, depois da exportação, parte das divisas conseguidas deveria ficar com o exportador a fim de fazer pagamentos de matéria-prima no exterior, “sem se sujeitar, outra vez, à burocracia do BNA (Banco Nacional de Angola).” Ao exemplificar o entrave dos custos, um participante declarou que desistiu de exportar ananás para a Espanha.
O governador de Malanje, Norberto dos Santos, ao VALOR, admitiu que a sua província não tem empresas capazes de exportar, salientando que está a relançar a agricultura e a pequena indústria e a preparar as vias de acesso, para depois exportar. Por enquanto, de acordo com o governante, a prioridade é para o consumo interno.
Amadeu Leitão Nunes, um dos quadros fundadores do Ministério do Comércio, actualmente representante comercial de Angola em Portugal, em declarações ao VALOR, defende que “falar de exportação é falar de um processo complexo, pois o primeiro pressuposto é produzir em quantidade e qualidade”. Depois, estudar os mercados para o destino dos produtos. “Trata-se de uma cadeia de valor e de análise que deve ser feita antes”, explica.
Como refere, Angola tem 14 representações nos quatro continentes e são estes que devem preparar os estudos de mercados nos países onde estão e apresentar aos empresários. “É preciso haver essa ligação”, salienta.
O vice-Presidente da República, Manuel Domingos Vicente, em sintonia com as queixas dos empresários, defendeu a necessidade da aceleração das exportações, que, segundo referiu, no contexto actual, “requerem o apoio do Estado”. É por essa razão que foi criada a APIEX a quem pediu “acções efectivas”, para corporizar os programas do Governo de apoio aos exportadores, sobretudo a facilitação das empresas na desburocratização dos processos.
Manuel Vicente defendeu também a institucionalização do seguro de exportação, que existe noutros países e a criação de uma linha de crédito de apoio às exportações para suprimir problemas de tesouraria.
Manuel Vicente lembrou o quadro de exportação do país até 1973: petróleo 30%, café 27%, diamantes 10%, minérios de ferro 6%, algodão 3% e sisal 2%, bem como óleo de palma, peixe e mandioca, apontando para oportunidades nas regiões da SADC e dos Grandes Lagos que, no conjunto, contam com mais de 40 milhões de consumidores. “Mas há também a União Europeia, os Estados Unidos da Américas e os países asiáticos que compram a madeira e mineiros de Angola”, acrescentou.
A conferência teve como objectivo a discussão dos vários constrangimentos no processo das exportações e a busca de soluções que resultem em documento de trabalho para alavancar a economia.
Na ocasião, a APIEX anunciou estar em curso a criação de uma base de dados com as empresas exportadoras e os respectivos produtos, para que sejam ajudadas na identificação dos mercados.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...