Sonangol deve 1,2 mil milhões USD ao Millennium Atlântico
BANCA. Valor resulta de “empréstimos sindicados” que a petrolífera estatal pediu ao novo banco Millennium Atlântico. Não é a única mas está entre as 10 maiores devedoras da instituição bancária no período entre Outubro de 2006 e Abril deste ano. Grupo Manuel Couto Alves e Imogestin constam da lista.
A Sonangol EP contraiu, através da sua subsidiária Sonangol Holdings, uma dívida avaliada em 1,2 mil milhões de dólares em regime de “empréstimos sindicados” do banco Millennium Atlântico (BMA), constando da lista dos 10 maiores devedores da instituição, de acordo com um relatório da auditoria interna do banco a que o VALOR teve acesso.
O documento balanceia o crédito cedido pelos extintos bancos Millennium Angola e o Privando Atlântico, de Outubro de 2006 a Abril deste ano, mas omite o período em que a Sonangol Holdings e mais cinco entidades (das 10 maiores) solicitaram o empréstimo, assim como o destino dos 1,2 mil milhões de dólares (valor arredondado) cedidos à petrolífera nacional.
A Sonangol Holdings é uma entre as sete subsidiárias da Sonangol EP fora do ‘core business’ – exploração, produção e venda de petróleos – criada para “dar suporte aos negócios nucleares da Sonangol, EP, assim como às empresas que desenvolvem negócios de carácter social e relacionados com o desenvolvimento de capital humano”.
A subsidiária gere, entre outros activos, as participações da maior empresa angolana noutros negócios. “É assim que a Sonangol se tornou accionista em determinados negócios, em Angola e no estrangeiro”, comentaram dois economistas, contactados pelo VALOR, que pediram para não serem identificados.
Questionada pelo VALOR sobre a necessidade do empréstimo, sua aplicação e o momento da solicitação, a petrolífera estatal, através da sua direcção de comunicação e imagem, deu a seguinte resposta: “Acuso a recepção do seu ‘mail’. Vou reencaminhá-lo à administração da empresa para os devidos efeitos”, garantiu, prometendo informar o jornal tão logo fosse possível.
Já a área de comunicação e marketing do BMA não respondeu, até ao fecho desta edição, às perguntas do VALOR sobre a origem e a natureza do crédito cedido à Sonangol.
Actualmente, a Sonangol EP detém participações em cinco instituições bancárias, designadamente os bancos Angolano de Investimento (8,5%), Caixa Geral Angola (24,0%), Económico (39,4%), de Comércio e Indústria (3,3%) e no Millennium Atlântico (29,9%), este último o credor dos 1,2 mil milhões de dólares.
Das cinco participações em bancos, duas são por via da subsidiária Sonangol Holdings, nos bancos Caixa Geral de Angola e no Económico, e uma pela Sonangol Vida, outra entidade participada da ‘casa mãe’.
MAIS DEVEDORES NO ATLÂNTICO
Do grupo das 10 maiores empresas devedoras do banco, além da Sonangol, está a Hautevile Imobiliária LDA, com uma dívida de 3,7 mil milhões de dólares; a Mostratus Participação Investimento LDA, com 3,2 mil milhões de dólares; a Genea Construção LDA (2,8 mil milhões de dólares); a HiperGest SA (2,4 mil milhões dólares) e o grupo Manuel Couto Alves, com dois mil milhões de dólares.
Nos ’10 mais’, está também a Imogestin SARL, com dívida de 1,6 mil milhões de dólares, a Geni SARL, com mil milhões de dólares de empréstimos sindicados, o Banco Comercial Português (BCP), com 1,1 mil milhões de dólares, e a Universidade Metodista de Angola (1.069,1 milhões dólares).
A lista geral de devedores comporta cerca de três mil clientes, entre empresas e particulares, com compromissos relativos a empréstimos para financiamento de projectos de investimento, cartões de créditos e crédito individual.
AUDITOR PÕE RESERVAS ÀS CONTAS
O auditor externo Ernest Young ‘reclamou’ sobre a omissão referente a actividades não nucleares da Sonangol, no relatório consolidado de 2015 da petrolífera. Segundo o parecer dos auditores, “não foi possível realizar procedimentos de auditoria suficientes e apropriados com relação a activos não correntes no montante de 29.703 mil milhões de dólares e activos correntes no valor de 57.164,3 milhões de kwanzas”.
“Nestas circunstâncias, não estamos em condições de nos pronunciarmos sobre os referidos saldos e os respectivos impactos nas demonstrações de resultados”, queixa-se a Ernest Young sobre reservas às contas da maior empresa angolana que fechou 2015 com lucros de 47.168,7 milhões de kwanzas.
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