Sonangol “perde” 70% da produção petrolífera
PETRÓLEOS. Produção resultante da condição de investidor esteve sempre abaixo dos 50%. Grupo de trabalho garante que a situação financeira da petrolífera não se vai deteriorar.
Com a criação da agência nacional de petróleo e gás, a Sonangol pode perder cerca de 70% da produção petrolífera anual, considerando a taxa média da participação do petróleo a que tem direito enquanto concessionária na produção global da empresa no período 2013/2016. Segundo cálculos do VALOR, a taxa média anual foi de 69,4%.
Em todos estes anos, a produção petrolífera resultante na condição de investidor da empresa esteve sempre abaixo dos 50% da produção global. O maior equilíbrio registou-se em 2016 com a produção do direito de concessionária a corresponder a 62% do global. O maior rácio registou-se em 2013, com a produção da concessionária a fixar-se em 77% do global.
“Durante o ano de 2015, foram produzidos em Angola 649.526.260 barris de petróleo bruto. Da produção alcançada, couberam à Sonangol 236.894.129 barris, dos quais 159.441.978 (67%) enquanto Concessionária e 77.452.151 (33%) enquanto investidora”, lê-se, por exemplo, no relatório referente a 2015.
Apesar da perspectiva da queda, o grupo técnico garante que “o equilíbrio financeiro da Sonangol EP não se deteriora com a retirada da função de concessionária nacional, de acordo com os estudos técnicos realizados pelo grupo de trabalho”, como sublinhou o ministro das Finanças, Archar Mangueira, co-coordenador do Grupo Técnico de Trabalho Interministerial para analisar o modelo de reajustamento do sector dos petróleos.
“Os mesmos estudos técnicos evidenciam que haverá melhoria no desempenho dos indicadores financeiros, nomeadamente os rácios de solvabilidade e endividamento, em razão da optimização da estrutura da Sonangol EP para fazer face às suas reais necessidades, tornando-a mais robusta”, acrescentou durante o encontro com a imprensa para a apresentação das conclusões do trabalho.
Enquanto concessionária, a Sonangol fica apenas com 5% da receita proveniente da exportação do petróleo correspondente ao direito de concessionária, a outra parte entrega ao Estado.
ALIENAÇÃO TOTAL DOS ACTIVOS
Além da garantia da criação da agência, o grupo confirmou a intenção a “alienação dos activos não nucleares e a optimizaçao do portfolio de participaçaoes nas concessões petrolíferas de forma a financiar a sua própria actividade”. Segundo apurou o VALOR, a referida oprtimização se resumirá na redução da participação da Sonangol apenas até 20%. “Vamos voltar ao modelo anterior, que foi alterado depois e que previa que a Sonangol só detinha 20% de cada bloco devido a exposição tanto do risco como a financeira”, confirmou o secretario de Estado para o Petróleo, Paulino Jerónimo, à margem da cerimónia.
Para a implementação do novo modelo está previsto foi definido um modelo de implementação de três fases das quais a primeira vai até ao final do ano e corresponde à preparação da transição. Seguir-se a fase da transição e, sequencialmente, da conclusão que está programada para estar concluída em 2020.
AGÊNCIA ARRANCARÁ COM 655 COLABORADORES
A criação da agência resumir-se-á na deslocação de todo o activo da Sonangol Concessionária para o novo organismo que, segundo o programa de reajustamento do sector, arrancará com 655 colaboradores.
“A Sonangal tem uma vantagem em termos de organização. Se se pretender encerrar a Sonair, pode fazer-se sem afectar o resto da empresa porque é um bloco devidamente definido. Se se pretender fechar a concessionária não afecta as outras unidades. O que faremos é tirar o bloco à concessionária e transferir para a agência. Ao mesmo tempo, vamos criar serviços de apoio e talvez isso tenha maior complexidade do que a transferência dos serviços da concessionaria”, argumento um quadro sénior do Ministério dos Petróleos.
Segundo o programa, a agência mantém as dotações do profit oil para cobrir os custos de operação e deverá seguir o regime da contabilidade empresarial similar ao da Sonangol E.P. Irá também manter-se o actual modelo de financiamento de dotações do OGE resultantes das licenças de concessão (actualmente 5% do profit oil).
UM “PARTO” DIFÍCIL
A decisão de se retirar a função de concessionária da Sonangol não foi consensual entre os membros do grupo de trabalho e o PCA da Sonangol, Carlos Saturnino deixou mesmo a entender esta diferença no posicionamento, em Maio, à margem da conferência das tecnologias offshore, em Houston, a manifestar-se contra a criação da agência. O VALOR sabe que, mesmo durante as reuniões, Carlos Saturnino manteve esta posição, contrariando, o posicionamento na sua curta passagem, enquanto secretário de Estado dos Petróleos, antes de ser nomeado PCA da Sonangol. “Mas é normal este seu posicionamento. Qualquer um que fosse nomeado para a Sonangol se manifestaria contra a retirada da função de concessionária e a reestruturação porque diminui o poder”, argumentou um quadro sénior da petrolífera.
No entanto, algumas vozes manifestam-se recesosos quanto o momento da retirada da função da concessionária da Sonangol, como é o caso do especialista para questões energéticas, José Oliveira para quem “a maior preocupação deveria ser recuperar a Sonangol” da crise que enfrenta.
O histórico da necessidade de separar a actividade de operadora e de concessionária da Sonangol é antigo, mas durante anos ficou-se pelo consenso de que era o mais certo para o bem do sector. Em 2016, marcou-se o primeiro passo oficial com a criação do modelo de reajustamento do sector petrolífero.
Aquele, no entanto, reservava a actividade de concessionária à Sonangol que, sequencialmente, veria os outros negócios migrarem para outras companhias que estavam previstas todas as outras actividades. Enquanto Concessionária, a Sonangol seria “responsável pela gestão e monitorização dos Contratos Petrolíferos”.
Aquele modelo também já perspetivava a agência, mas não como concessionária. Teria a função de coordenação, regulação e avaliação do desempenho do sector petrolífero angolano, preparando e negociando a atribuição de blocos petrolíferos e resolvendo, por via administrativa, os eventuais conflitos entre tutelas sectoriais e diversos agentes desta indústria”.
As funções destas duas figuras motivaram, na altura, algumas interrogações, visto que as que seriam atribuídas à agência bem caberiam na concessionarias. Naquela altura, alguns especialistas acreditaram que a equipa que trambalhou no processo terá preferido manter a Sonangol como concessionária para não abrir a possibilidade de renegociação de contratos em curso com as operadoras.
No modelo agora revogado estava ainda previsto um Conselho Superior de Acompanhamento do Sector Petrolífero (“COSASP”).
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...