“Sou o reflexo daquilo ?que o meu pai me transmitiu”
MÚSICA. Dez anos depois do lançamento do primeiro álbum, Ângela Ferrão apresentou, no fim-de-semana, a sua segunda obra musical ‘Minhas Raízes’ e que será apresentada um pouco por todo o país. A sua trajetória começa desde cedo por influência do pai, que também é músico.
‘Minhas Raízes’ é o título do mais recente trabalho discográfico da cantora Ângela Ferrão, lançado no passado fim-de-semana, na Praça da Independência, em Luanda. O novo disco, o segundo da sua carreira, traz dez temas em diferentes estilos, como rumba, bolero, kizomba e kilapanga.
A cantora, que gravou o seu primeiro álbum – ‘Wanga’ – há dez anos, pretende agora fazer uma ‘tournée’ pelo país para proceder à venda e dar a conhecer as suas duas obras até Agosto, começando por Luanda até 11 de Junho; passando por Benguela e Lobito, a 17 e 18; pelo Namibe, a 1 de Julho; Huambo, 8 de Julho; Huila, 12 de Julho; e no Kwanza-Sul, sua terra natal, de 5 a 9 de Agosto.
Pegadas do pai
O gosto pela música surge desde cedo por influência do pai, que é músico e compositor. Tendo já ficado em terceiro lugar na primeira edição de ‘Gala à Sexta-feira’, da Televisão Pública de Angola (TPA), participou também no festival da rádio Luanda Antena Comercial (LAC) e no ‘Prémio Cidade de Luanda’.
Já interpretou músicas de artistas como Roberta Miranda, Fafá de Belém, conjunto Ngola Ritmos, entre outros, assim como algumas da sua autoria. À semelhança do primeiro disco, tem tido cuidado com o que canta e transmite, porque entende que “o público angolano é exigente”. Por isso, procurou fazer uma “boa recolha e diversificar” os seus temas.
Ângela Ferrão sente-se o “reflexo” do que o seu pai, Lito Ferrão, lhe transmitiu e garante que, enquanto ele compuser músicas que ela achar “maduras, bonitas, construtivas e com boas mensagens”, vai continuar a segui-lo. “Venho bebendo daquilo que é a experiência musical e do caracter dele como pessoa desde pequena e ainda não tive motivos para pensar o contrário.”
Nas suas composições e interpretações, procura “não escolher um público específico”, porque, embora algumas pessoas não entendam a língua nacional em que canta, acredita que elas se revêem nas suas canções. Para Ângela Ferrão, o artista “deve preocupar-se em moldar a sociedade”, pois é, entre outras, “a sua missão”. “Não partilho muito da ideia de se fazer música comercial, particularmente sou das artistas que faz um trabalho pensando no que é que as pessoas podem colher daí, porque os artistas têm a missão de moldar a sociedade”, defende, acrescentando que “um artista de verdade deve preocupar-se muito com o que está a interpretar ou a dizer”.
“Não basta o número de fãs a alcançar.” A veia artística que recebeu do pai já está a ser transmitida também aos seus filhos que, geralmente, a acompanham aos concertos. “Felizmente, os meus filhos já mostram que têm jeito para a música e não vou lutar contra isso”, promete. Ângela Ferrão afirma que gravar em Angola “não é barato e não há retorno” se se depender apenas das vendas.
Os custos da gravação do disco ‘Minhas Raízes’, revela a cantora, “ultrapassaram os 30 mil euros”, sendo que estão disponíveis 10 mil cópias e o CD está a ser vendido a 1.500 kwanzas, preço que considera “justo devido à qualidade que apresenta”.
“O disco está a um nível que as pessoas não se vão importar com o preço.” Aos novos talentos, a artista aconselha “muito trabalho, a fazerem-se ser ouvidos e a ter ouvidos bem-educados”, uma vez que há pessoas que, às vezes, querem cantar, mas “não são afinadas”. Na música, defende a cantora, “tem de se arriscar bastante”, sendo que há quem perca tempo a seguir a carreira musical, “por ser uma área bonita ou porque quer fama”. No entanto, alerta que, “se não há uma espécie de ‘teimosia’ de forma saudável, a música morre”.
O álbum ‘Minhas Raízes’ conta com a participação do pai, que ela considera o “melhor compositor” de Angola, e do seu irmão Sandro Ferrão. Já no primeiro, participaram Teta Lágrimas, Nanuto, Ruca Fançony, Pedrito, Sandro Ferrão, Dalú Roger, Beth, Gigi e Cidy, Caló Pascoal, Joãozinho Morgado, Quinito e o pai, Lito Ferrão.
PERFIL
Natural da Gabela, Kwanza-Sul, Ângela da Conceição Paulino, é formada em Direito e tem quatro filhos. Com dois álbuns gravados, seu pai, Lito Ferrão, Belita Palma e Lourdes Van-Dunem foram as suas principais referências, gosta do trabalho da Patrícia Faria, Yola Semedo, Lina Alexandre, Gabriel Tchiema, Konde, entre outros.
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