ANGOLA GROWING
DÚVIDAS SOBRE O PROGRAMA CRIADO PELO GOVERNO

Sucesso do Prodesi divide agricultores

AGRICULTURA. Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações (Prodesi) divide opiniões. Líder da Unaca quer que o programa seja mais abrangente. Há quem duvide do sucesso “por falta de quadros que possam dar sustentabilidade” à iniciativa.

Sucesso do Prodesi divide agricultores

Fidelino Rodrigues Queiroz, agricultor e proprietário da fazenda ‘Longa Fidelidade’, defende “um maior apoio a pessoas com vocação” e considera que o Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações (Prodesi) seja “mais um programa sem resultados à vista”, pois, “o grande problema, além da insuficiência de recursos humanos, está nas modalidades de acesso ao crédito bancário que lembram as mesmas práticas do passado”.

Recusando-se a entrar em detalhes, por serem contribuições plasmadas em documento a ser encaminhado ao Governo em breve, Fidelino Queiroz afirma que o Prodesi “inscreve tarefas que deviam ser realizadas por diversos sectores do Governo, até ao final do ano passado, mas não foram cumpridas, o que poderá comprometer o seu andamento”.

“Não se pode fazer agricultura com pessoas impróprias”, critica, dando exemplo das inúmeras fazendas da Gesterra que “foram autênticos sorvedouros de dinheiro público” e que apenas serviram para “enriquecer um punhado de ‘chicos espertos’”.

Considera que, com os 20 a 30 milhões de dólares, no mínimo, gastos em cada um desses megaprojectos agrícolas, “se fossem bem aplicados, o país já estaria melhor em termos de produção”.

A ‘Longa Fidelidade’, com cerca de três mil hectares, chegou a produzir hortícolas que abasteciam as Forças Armadas e a Sonangol. Com essa experiência, Fidelino Queiroz critica quem pensa nos estrangeiros como factor essencial para impulsionar a produção. “O estrangeiro pode transmitir conhecimento, mas quem deve ter as rédeas do desenvolvimento do país somos nós”, mas isso, reforça, “passa, primeiro, pelo domínio dos metais”. “Devemos apostar num ensino funcional e dominar a indústria metalomecânica, sem a qual continuaremos eternamente dependentes de países que têm essa tecnologia”, da qual depende o fabrico de equipamentos agrícolas que “teremos de continuar vergonhosamente a importar”.

Exemplos a seguir

José Monteiro, engenheiro técnico agrário, também crítica o Governo, por ser “incapaz de concretizar” o programa. “Os governantes mostram que gostam de nós, mas não conseguem levar adiante os projectos”, afirma. Sugere, por isso, “um diálogo nacional sobre agricultura, onde devem participar não apenas académicos, como o fizeram com o Prodesi, mas pessoas com elevada prática”. Recorre aos exemplos dos veterinários que “agarraram o ‘touro pelos cornos’ para avaliar o seu estado de saúde” e de “dois irmãos que, mesmo não tendo formação superior na área, criaram a Agrolider”, um “espectacular projecto agrícola que ‘dá cartas’ não só no Bengo, mas também na Quibala, no Kwanza-Sul”.

Segundo José Monteiro, as fazendas da Agrolider foram desenvolvidas apenas com recurso à internet. “É um exemplo a seguir”, sugere, acrescentando que “a fazenda na Quibala não fica atrás de nenhuma da África do Sul”. Defende assim que “não devemos ter vergonha de aprender com as boas práticas, se o objectivo é alavancar a produção agrícola e pecuária”.

Fidelino Queiroz também elogia a Agrolider e estima que, com dois projectos do género em cada província, “teríamos um embrião para impulsionar outros de menor dimensão, porque as pequenas e médias empresas são muito importantes”.

Tanto Queiroz como Monteiro são contra a agricultura familiar “que pouco ou nada produz” e acreditam que “o futuro da agricultura passa pelo sector empresarial”.

As ideias de ambos são, entretanto, contrariadas por Albano Lussati, presidente da Confederação das Associações de Camponeses e Cooperativas Agrícolas de Angola (Unaca), para quem “o Prodesi veio em boa hora”. Mas acha que, se a meta é alavancar a produção nacional, “o mais importante é o cumprimento com rigor dos objectivos traçados”, e sobretudo “torná-lo abrangente para que dele beneficiem também os camponeses”. Pensa que, deste modo, também sairá a ganhar a produção familiar “que não deve ser negligenciada, se o país quer entrar na rota do aumento da produção e diversificação das exportações”.

Entre outras metas, o programa propõe aumentar em 25% a produção nas fileiras prioritárias, reduzir em cerca de 30% as divisas utilizadas para a importação da cesta básica e aumentar também em 30% a entrada e diversificação das fontes cambiais. Tudo isto em 2020, ano no qual também está previsto o aumento em 30% das fontes de investimentos externos e uma subida de 10 posições tanto no ‘ranking’ Doing Business, como no indicador ‘Competitiveness Index’. Os dados de base são os de 2017 e as metas de 2018 não foram alcançadas.