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Tartarugas (pouco) protegidas

BIOLOGIA. São espécies ameaçadas e, por isso, protegidas. Mas também muito procuradas por caçadores e consumidores. Cabo Verde tem uma legislação própria, mas continua com dificuldades em fazer cumpri-la. As tartarugas começaram as desovas na capital cabo-verdiana.

As tartarugas regressaram este ano a uma das principais e mais movimentadas praias da capital de Cabo Verde (Quebra Canela) para a desova, correndo sérios riscos de serem capturadas, mas as autoridades já estão em alerta.

Quatro anos depois, as tartarugas estão a procurar a praia de Quebra Canela, para desova, sempre à noite, correndo sérios riscos de serem capturadas, disse à agência Lusa, Amarílio Barros, sócio-gerente da esplanada Kebra Kabana, a poucos metros da praia.

Segundo o responsável, as primeiras tartarugas começaram a aparecer há cerca de 15 dias, sempre à noite, tendo até agora avistado três desses animais. Amarílio Barros tentou alertar as autoridades cabo-verdianas, mas não obteve qualquer resposta, pelo que optou por proteger as tartarugas pelos seus próprios meios, no âmbito da responsabilidade social do estabelecimento comercial.

O gerente reforçou a segurança para vigiar a praia de noite e também realiza acções para alertar as pessoas para não mexerem nem perturbarem as tartarugas que regressam à praia quatro anos depois de terem sido avistadas pela última vez.

A praia de Quebra Canela, a poucos quilómetros do centro, é a mais frequentada na capital de Cabo Verde pela população local e por turistas, sobretudo durante os fins-de-semana e na época de férias.

À agência Lusa, Sónia Araújo Lopes, da Direção Nacional de Ambiente de Cabo Verde, confirmou que aquela instituição teve conhecimento, a semana passada, do aparecimento de tartarugas na praia e prometeu “trabalhar para alertar a população” e “proteger as espécies”.

Foi reforçada a segurança e protecção da zona, em colaboração com a Polícia Marítima e a Polícia Nacional, que farão a vigília ao local para evitar que as tartarugas sejam capturadas.

Esta não é a primeira vez que tartarugas tentam desovar na praia, sendo que este ano, excepcionalmente, tem havido muitas desovas na zona, que também é muito frequentada para a prática de exercícios físicos e desportos náuticos.”A polícia já está ciente da situação e alertamos a toda a população para colaborar e evitar não capturar e consumir tartarugas, porque são dois actos ilegais”, salientou Sónia Araújo.

Habitualmente, a desova das tartarugas ocorre entre Julho e Outubro. Em relação a Cabo Verde, em geral, a responsável da Direcção Nacional do Ambiente indicou que, este ano, têm aparecido muitas tartarugas nas praias, o que “tem motivado muita apanha, mas também muitas denúncias”.

Sónia Araújo está convencida de que as denúncias são fruto do engajamento e trabalho de sensibilização, de décadas, junto da população sobre a necessidade de se defender esta espécie protegida.

Cabo Verde criou uma legislação para proteger as tartarugas marinhas pela primeira vez em 1987, proibindo a captura em épocas de desova. No entanto, durante anos, a espécie não esteve protegida. A carne e os ovos das tartarugas são muito procurados para servirem de petiscos, nuns casos, enquanto as carapaças dos animais mais velhos são usados para adornos.

As medidas de conservação actuais prevêem também a protecção e monitorização das praias com recurso ao voluntariado e, em alguns casos, às Forças Armadas e com uma aposta em acções de sensibilização dinamizadas por organizações não-governamentais (ONG).

Mas, em Maio, um estudo, promovido pela Turtle Foundation, em colaboração com o Instituto Nacional do Desenvolvimento das Pescas de Cabo Verde (INDP), e publicado pela revista internacional de conservação Oryx, concluiu que as medidas adoptadas pelo país para preservar as tartarugas marinhas eram “insuficientes para travar a sua captura e o consumo ilegal”.

Os autores da investigação alertaram, por isso, para “a necessidade de rever as medidas de conservação, trabalhando directamente com caçadores e consumidores”.

A população de tartarugas marinhas ‘caretta caretta’ de Cabo Verde é a terceira maior do mundo, sendo apenas ultrapassada pelas populações na Florida (Estados Unidos) e em Omã (Golfo Pérsico).

As tartarugas visitam as praias para construir os ninhos e depositar os ovos, estimando-se que em Cabo Verde 85% a 90% da nidificação ocorra nas praias da ilha da Boavista. A espécie está protegida e é considerada em vias de extinção.