Taxistas publicitam de graça
PUBLICIDADE. Muitos taxistas de Luanda exibem anúncios de empresas, mas são raros os que recebem pagamentos. Mas gostam de ver as marcas nos carros ‘por causa do estilo’. No entanto, já há quem entenda as potencialidades do negócio e queira alterar as regras.
O recurso à publicidade móvel, colocada nos táxis azuis e brancos, os candongueiros, por parte de empresas e marcas, é cada vez maior numa relação dominada pela informalidade, aproveitada por quem comunica para gastar quase nada.
A maioria dos taxistas gosta da ideia de ter um letreiro na viatura porque “fica mais bonito” e, por isso, muitas vezes, nem cobra. Há ainda quem acredite que as “marcas famosas atraem mais clientes, sobretudo jovens”. Mauro Cassua é um deles. Tem estampado na viatura o ‘logo’ da Movicel, apenas porque atendeu ao pedido de uns jovens. “Normalmente, aparecem vários funcionários da Movicel e de outras empresas com o papel de publicidade e pedem para colocar no nosso carro, mas nunca nos falam de pagamentos”, explica-se.
Mas existem uns poucos que cobram quantias mínimas que podem oscilar entre os dois mil e os 2.500 kwanzas por um tempo indeterminado. Por norma, segundo apurou o VALOR, os promotores de venda (na sua maioria jovens) entram em contacto com os taxistas nas paragens, tiram o número da matrícula e colam os anúncios depois de um pedido ou da negociação com os motoristas.
Rafael Francisco é taxista há mais de dois anos e já teve na viatura, pelo menos por cinco ocasiões, anúncios de diferentes empresas onde se destacam a Movicel, Zap e Unitel. O patrão (proprietário da viatura) nunca reclamou “talvez por achar que cabe ao motorista a responsabilidade da viatura”, explica. Mas defende que os taxistas deviam unir-se para passarem a ter uma única linguagem nas negociações: “Alguns taxistas aceitam dinheiro e outros não, porque o carro fica com outro ‘style’, mas todos devem unir-se para passar a cobrar um valor mensal nem que seja de 2.500 kwanzas”.
Outro taxista exibe na viatura uma publicidade da gasosa ‘Top’, há cerca de três meses. Ângelo Cavalo garante que não cobra nada. Porém, já recebeu 1.500 kwanzas para colocar um anúncio da Dstv que ficou por mais de um ano. “Pretendo entrar num acordo com a empresa que produz a gasosa ‘Top’ para me passar a pagar pelo menos 2.000 kwanzas por mês porque levo a publicidade para vários pontos estratégicos onde qualquer pessoa pode ver e eles ganham com isso”, argumenta.
Ângelo Cavalo não entende como funcionam as leis da publicidade em Angola, mas espera que se trabalhe na criação de políticas que beneficiem os taxistas. “Quando fui contactado pelos promotores, pediram-me para colar publicidade no carro. Perguntei se não havia uma remuneração e eles disseram que também não tinham dinheiro para nos dar porque também não recebem.”
Apesar de, na generalidade, existir um considerável desconhecimento sobre as vantagens que se pode tirar do negócio, há quem acredite que estas mesmas empresas negoceiam com as transportadoras públicas e os caminhos-de-ferro. “Certamente que pagam e bem, porque é que a nós não?”, interroga-se um dos taxistas.
Muitos não têm ideia do quanto poderiam ganhar. Entre eles, estão Brito Miranda e Julião Alberto que pertencem a uma ‘staff’ com 16 viaturas que ‘vestem’ a publicidade do Banco de Poupança e Crédito (BPC). “Criámos um elenco do BPC, mas sem apoio ou convénio com o banco”, explica Miranda. O grupo até é liderado por um presidente, que pretende entrar em contacto com os responsáveis do BPC para ver se eles passam a pagar algum valor por cada viatura.
Proprietário de uma frota de 120 ‘hiaces’, Alberto Dassala, durante muito tempo, não se preocupou em entender os meandros deste possível negócio, apesar de ter todas as viaturas com diferentes anúncios publicitários. Uma realidade que se alterou com a contratação de um gerente que conhece o potencial do negócio e confia que pode tirar rendimentos. “De uma ou de outra maneira devem de dar alguma coisa aos motoristas, mas erram porque têm deyt contactar os donos dos carros”, acredita. Alberto Dassala já tem planos para, em breve, mandar retirar toda a publicidade dos carros, tendo já entrado em conversações com o grupo Castel.
O director do gabinete de comunicação e imagem da Dstv, Adilson Garcia, garante que a operadora se limita a contratar empresas de comunicação e são estas que têm contacto com os taxistas pelo que desconhece os termos dos negócios. “A nossa empresa não é responsável pelo pagamento a taxistas porque contratamos agências de comunicação e marketing para a afixação dos nossos cartazes publicitários.”
Os preços de colocação de publicidade em viaturas variam de acordo com o tamanho do cartaz e não existe uma tabela de preços elaborada pelo Gabinete de Controlo de Publicidade do Governo Provincial de Luanda (GPL), que remete essa responsabilidade para as agências previamente licenciadas.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...