ANGOLA GROWING
Ramiro Barreira, secretário-geral da Associação dos Hotéis e ‘Resorts’ de Angola (AHRA)

“Temos de começar a fazer coisas pequeninas”

Líder associativo considera que, com o Fórum Mundial de Turismo, ficaram definidas as ‘avenidas’ por onde deverá passar o desenvolvimento do sector e insiste ser necessário “mais do que palavras”, socorrendo-se das orientações de João Lourenço. Ramiro Barreira desdramatiza os preços, considerando-os “razoáveis”, para um estrangeiro.

“Temos de começar a fazer coisas pequeninas”

Acha que é por iniciativas como o Fórum Mundial que se pode começar a erguer um turismo pujante em Angola?

Na verdade, este foi um encontro que serviu para impulsionar o turismo. As condições estão criadas.

Em que domínios?

Com a intervenção do senhor Presidente da República, ficaram claramente definidas as balizas de como deveremos fazer turismo, como intervir. Portanto, as grandes linhas de força estão traçadas. Agora, precisamos de trabalhar em área específicas, desenvolvendo-as. Aliás, mais do que palavras, precisamos de fazer as coisas.

Que áreas devem ser atacadas?

O turismo tem de acontecer, querendo ou não, porque o petróleo é muito volátil. Precisamos de áreas muito mais dinâmicas. O turismo tem esse dinamismo muito grande, sobretudo por arrastar consigo outros sectores e pelo seu alto nível de empregabilidade. Logo, é uma actividade fundamental para o desenvolvimento económico de Angola.

Mas onde se deve começar?

Temos de tornar os vistos funcionais para que os estrangeiros entrem em Angola com mais facilidade. Temos de começar a fazer coisas pequeninas, não muito grandes.

O que quer dizer?

Precisamos de dinamizar o turismo interno, depois o internacional, facilitar os voos para Angola, os ‘charters’ e começar a fazer as coisas. Não precisamos que venha um milhão de turistas. Devemos começar com poucos turistas. Se, anualmente, formos incrementando e tivermos capacidade de resposta nas cidades, melhorar os hospitais, lá chegaremos.

Tudo anda à volta de Luanda, no interior não há praticamente nada…

O turismo faz-se nas localidades e não a nível central. É necessário que os governos provinciais também sejam mais activos para impulsionar a actividade em cada região. Depois, é necessário que os nossos políticos estejam virados para o turismo.

Os políticos estão à margem?

O estrangeiro que vem ao país tem de ser recebido com sorrisos e carinho, porque vem para ajudar e trazer divisas de que precisamos para alavancar a economia. Mas Angola figura do ‘ranking’ dos países mais caros em termos de hospedagem e restauração.. Os preços não estão nada ‘esticados’ (risos). Hoje, 100 dólares são 35 ou 40 mil kwanzas. Se pagar cinco mil kwanzas, por uma refeição, isso não representa grande coisa! O alojamento a 15 mil kwanzas será o equivalente a cerca de 50 dólares. Já foi caro naquela altura em que o dólar estava a 100 kwanzas e 20 mil kwanzas equivaliam a 200 dólares. Hoje, 20 mil kwanzas são quase 50 dólares. É razoável!

Mas o turismo também é para oa nacionais, não?

Esses preços passam a ser altos. Estou a falar do estrangeiro que paga em divisas.

O turismo doméstico é para esquecer?

Precisamos de melhorar o rendimento nacional, mas esse é mais um passo a dar. É outro desafio. O turismo interno deve mesmo arrancar! As poucas condições e o dinheiro têm de ser rentabilizados. Precisamos de mobilidade, fundamentalmente de boas estradas.

E o problema de quadros?

Isso é como o ovo e a galinha, quem nasce primeiro? Primeiro, as empresas devem ter uma sustentação financeira para contratar bons quadros. Se não houver dinheiro, o quadro não trabalha. É por isso que muitos hoteleiros estão vinculados a outras áreas por causa de maus salários. Portanto, tem de haver um casamento perfeito entre recursos humanos e financeiros.