Teremos razões para comemorar a Independência?
A vizinha-se a data da Independência nacional, que se aproxima dos 50 anos e, por isso, começa a ser celebrada com um ano de antecedência, ainda que em meio a uma atmosfera de desolação e contradições. O Presidente da República chamou esta semana os seus ‘pseudo-conselheiros’ para, entre outros, abordar o tema.
Segundo João Lourenço, numa declaração assustadoramente optimista, “temos motivos suficientes para comemorar em grande". Salientando que, depois de 500 anos, somos, hoje, "senhores do nosso destino". Uma crença que choca com uma realidade bem diferente. Como se a mera repetição desse mantra pudesse transformar a realidade vivida por milhões de angolanos. A questão é clara, simples e directa: temos realmente motivos para comemorar? Somos de facto senhores do nosso destino? Cada um que dê a sua resposta… Mas é de senso comum que essa tal liberdade conquistada, após anos de luta, não se traduziu em respeito e dignidade para todos. Então como comemorar 50 anos de Independência num país onde a liberdade se vê engolida pela miséria? Onde a indiferença de um partido que se encontra há cinco décadas no poder é alarmante; onde famílias inteiras enfrentam a fome e essa tragédia é ignorada por aqueles que ocupam o poder que, ao invés de adoptarem políticas concretas que combatam a fome e a pobreza, preferem gastar balúrdios com carros de luxo, vezes sem conta. É difícil encontrar motivos para comemorar quando a ostentação se torna um símbolo de uma administração que parece desconectada da realidade que o povo enfrenta. Enquanto o país se prepara para as festividades, mais uma pergunta me vem à mente: quem, de facto, está a viver essa Independência? Será que a verdadeira libertação é restrita aos que se autoproclamaram herdeiros disto tudo? A ideia de que este Governo representa o povo esbarra num facto simples: a ausência de diálogo e a falta de respeito pelo povo. Mas o que se poderia esperar de um governo que se perpetua no poder há cinco décadas, ignorando a voz da população? Portanto, adornar as ruas com bandeiras, luzes e cores, entoar hinos, voltar às maratonas, servir banquetes e fazer discursos bonitos carregados de esperança moribunda não vão apagar as borradas feitas nestes 50 anos e mais particularmente nos últimos sete. Celebrar a Independência torna-se, portanto, um acto de contradição.
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