ANGOLA GROWING

TESTE 01

11 Feb. 2020 V E Editorial

Numa recente intervenção pública em Lisboa, Alves da Rocha alertou que a elevação do combate à corrupção a programa de governo era uma opção errada. O economista não se coibiu em explicar-se de forma simples e directa: mais coisa, menos coisa, lembrou que João Lourenço se comprometeu com a tarefa da transparência em toda a linha, mas pelo seu próprio punho já tinham sido assinados e adjudicados projectos públicos sem concurso público. Há, entretanto, um detalhe curioso que o reputado economista não mencionou. É que alguns desses projectos adjudicados de forma directa na actual governação foram retirados dos anteriores promotores, com a justificação de que tinham sido atribuídos por adjudicação directa pela anterior governação. Era impossível imaginar-se maior paradoxo e esses factos seriam dos primeiros sinais sólidos do embuste da transparência. 

A inevitabilidade do destino não deixou, entretanto, de dar outras oportunidades ao Presidente para contrariar os cépticos. E as mais recentes colocaram-se justamente na última semana. Poucos dias depois de João Lourenço garantir que não protegeria governantes e empresários, se se levantassem suspeitas, numa entrevista à DW, o director do seu gabinete era manchete no jornal ‘Expresso’ por alegadamente ter recebido dezenas de milhões de dólares de origem desconhecida. Nas palavras do jornal português, Edeltrudes da Costa não foi além de assegurar que os seus recursos, resultantes do seu percurso como profissional e investidor pontual, já teriam sido objecto de escrutínio pelas autoridades angolanas. Mas, como é evidente, a diferença entre o potencial escândalo exposto e as diminutas justificações de Edeltrudes Costa apela por qualquer coisa à altura que salvaguarde as actualizadas garantias do Presidente à DW, antes de pegar voo para Adis Abeba. Afinal, as circunstâncias não podem aconselhar o contrário. As revelações contra o director do gabinete de João Lourenço surgem numa altura em que, a pretexto do combate à corrupção, se prossegue com a destruição impiedosa de todo o legado de José Eduardo dos Santos. Mas Edeltrudes da Costa não deve ser o único nome arrolado no ‘Teste 01’ de João Lourenço. O ‘Luanda Leaks’ descontrolou-se, saiu da esfera exclusiva de Isabel dos Santos e não há um único dia em que, na imprensa portuguesa, não saiam nomes de governantes e banqueiros de primeira linha alegadamente envolvidos em escandalosos esquemas de corrupção, de desvios de fundos e de lavagem de dinheiro. Resumindo: do ‘Luanda Leaks’ nasce o primeiro grande teste à narrativa do combate generalizado e indiscriminado à impunidade e a todas as práticas lesivas ao erário. Aguardemos.