POR DESENTENDIMENTO COM A SONANGOL

Transportadoras de combustível podem paralisar no final do mês

PETRÓLEO. Empresas reclamam reajuste em 60% das tarifas e indexação ao dólar. Defendem ainda anulação de concurso público para serviço de transporte de combustível rodoviário.

Transportadoras de combustível podem paralisar no final do mês
Mário Mujetes

As transportadoras rodoviárias de combustível ponderam paralisar a actividade no final do mês em protesto contra o que consideram “falta de respeito” por parte da Sonangol, a quem acusam ainda de ignorar preocupações que podem determinar falências de algumas empresas.

O aumento da tarifa paga pela Sonangol pelo transporte do combustível é uma das preocupações das empresas. Trata-se de uma solicitação antiga, mas que vai ganhando mais força devido à desvalorização galopante da moeda.

“Neste momento, só reajustando as tarifas em pelo menos 60% é que será o suficiente para manter as empresas vivas. E é necessário o ajuste permanente sempre que o câmbio variar. O mais correcto seria existir uma tarifa com base no dólar”, defendem os operadores numa carta a que o VALOR teve acesso.

A necessidade de indexação da tarifa ao dólar é justificada com a constante importação das peças e acessórios. “Mais de 85% dos custos nessa actividade são pneus, peças de reposição e outros que são importados”, argumentam.

No documento, sublinham ainda que “já avisaram várias vezes à Sonangol que irão todos à falência se as coisas continuarem assim. Nenhuma empresa compra camões há mais de 4/5 anos. Isso vai provocar a redução da frota disponível”, declaram.

A tarifa foi revista em 2018, tendo sido fixado, por exemplo, o valor de 8.127 kwanzas/m3 o carregamento de Luanda para Malanje. Até 2017, pelo mesmo troço, pagavam-se 7.192 kwanzas. A tarifa mais elevada está fixada em 19.760 kwanzas/m3 e é para o carregamento entre Luanda e Moxico, seguindo-se o valor de 18.401 kwanzas/m3, que é pago para o transporte entre Porto-Amboim e Moxico.

O VALOR apurou que a determinação das empresas em avançar com uma paralisação ganhou força a 10 de Outubro depois de uma postura da petrolífera que consideram “falta de respeito”. Estava marcada para este dia uma reunião entre as empresas e a Sonangol, mas não aconteceu por decisão unilateral da petrolífera. “Vieram transportadores de todo o país. Postos na reunião (alterada de última hora para o edifício da Sonangol Logística), aos transportadores foi-lhes comunicado que a reunião seria só para informar que teriam uma reunião na segunda-feira seguinte. Uma reunião com gente que saída de todo o país para informar uma reunião?”, questiona um dos empresários. “Os transportadores todos ficaram chateados e acharam que, mais uma vez, a Sonangol está a desrespeitar uma classe que passa por muitas dificuldades nas estradas desse país para levar o combustível até aonde a Sonangol e o país precisam”, lamenta.

Reunião deixa muitoa desejar

O encontro aconteceu na data remarcada, mas os operadores consideram ter sido “decepcionante”, visto que não foram discutidos os vários temas. “Apenas abriram as propostas de um concurso público lançado em Maio”.

O concurso público para serviço de transporte de combustível, de resto, é o outro ponto de discórdia entre as partes. Os transportadores exigem a anulação do mesmo por ter sido lançado há cerca de seis meses e as propostas apresentadas estarem desajustadas à realidade económica actual devido à desvalorização galopante. “As propostas já estão desactualizadas visto que os preços das peças e acessórios sobem diariamente (acompanhando a desvalorização da moeda por serem artigos importados). O concurso não deve ser válido. As propostas deveriam ter sido abertas há três meses”, argumentam.

Paralisação depende da AJS

Os vários operadores contactados manifestam-se dispostos a paralisar as actividades no final do mês, mas tudo está dependente da adesão da AJS, que é o maior transportador de combustível do país. “A associação só precisa de convencer o maior transportador que nem sempre alinha nas paralisações. Sem esse não será possível fazer a paralisação, mas também já está a ficar cansado de ser maltratado e de não ser reconhecido pelo trabalho que realiza desde o tempo da guerra”.

A AJS, entretanto, não quis comentar o assunto. “A nossa empresa tem uma forma de estar muito própria no mercado. Preferimos não falar para a imprensa. Só lhe posso dizer que houve nos últimos dias algumas reuniões nas instalações da Sonangol”, respondeu um quadro sénior da empresa.

No seio da associação, há o sentimento de que a paralisação será um facto. “Estamos a conseguir sensibilizar todos os colegas. Mesmo aqueles que criam alguma resistência nesses momentos também já chegaram à conclusão de que não dá mais.” Fonte próxima da petrolíferaconsidera, no entanto, não existirem condições para a Sonangol reajustar as tarifas porque “não tem dinheiro”.