NOS PRIMEIROS SETE MESES DO ANO

Trocas China-África crescem 17% à porta de mais uma cimeira

PARCERIA. Encontro que se realiza de três em três anos arranca hoje, 3.08, na China. Novos financiamentos e possibilidade de transformação da moeda chinesa em divisa são alguns dos temas em discussão.

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As trocas comerciais entre África e a China cresceram 17,4% nos primeiros sete meses do ano, comparativamente ao período, homólogo, passando de 98,9 para 116,1 mil milhões de dólares. No referido período as trocas globais chinesas foram de cerca de 2,6 biliões de dólares, o que fixa em cerca de 4,4% a participação africana, registando-se um crescimento de 0,6 pontos percentuais comparativamente aos primeiros sete meses de 2017. Os números mantêm a tendência de crescimento das trocas bilaterais dos últimos anos, período em que o país asiático se posicionou como o maior parceiro comercial do continente. Prova do cumprimento de parte do objectivo da criação do Fórum de Cooperação China Africa (FOFAC), em 2000.

Em busca de relações mais justas

Há, no entanto, consenso sobre a necessidade de se equilibrarem as vantagens das partes. Devido aos termos dos financiamentos, a China tem sido a maior beneficiária. As empresas e a produção africanas pouco ou nada beneficiam das empreitadas resultantes dos financiamentos chineses.

“A China tem apoiado Angola, mas também se comprometeu a que 30% das empreitadas financiadas pela China seriam para empresas angolanas e tem-se esquecido disso”, afirmou, por exemplo, o banqueiro Fernando Teles, em finais do ano passado, durante o Fórum Económico ‘cidades sustentáveis’, integrado na 22.ª Feira Internacional de Macau (MIF). “Grande parte das empreitadas das empresas chineses são essencialmente realizadas com operários e empresas chinesas, isto não é bem-vindo a Angola”, insistiu. O discurso é semelhante ao de muitos operadores africanos.

O presidente da Câmara de Comércio Angola China, Arnaldo Calado, defende, no entanto, que “a culpa não é de quem dá, mas de quem recebe”, apelando para a necessidade de o sector empresarial potencializar-se para substituir os Estados na busca dos financiamentos. “A política da China é: ali onde nota que há défice, exige que sejam eles a fazer.

Há um país em África onde eles sabem que já não precisam de fazer isso porque a classe empresarial, por exemplo, está em condições de responder aos desafios. Ou seja, nestes países onde as empresas já têm capacidade, o Estado apenas dá o suporte, mas quem realmente assume a dívida é a empresa”, compara, reconhencendo que mais países, incluindo Angola, estão em melhores condições de negociar com o gigante asiático, comparativamente ao passado.

“China e África: em direção a uma comunidade ainda mais forte, com um futuro compartilhado através da cooperação win-win” é o tema da 6ª cúpula que se rrealiza desde hoje até ao dia 5 deste mês na cidade chinesa de Beijing. Acredita-se que a ocasião servirá para a China anunciar mais um pacote financeiro para o continente, depois dos 60 mil milhões adiantados na 5.ª cúpula que aconteceu na África do Sul. Aliás, muitas são as nações africanas que já indicaram que vão aproveitar a ocasião para discutir novos financiamentos e reestruturar as actuais dívidas. Tudo indica que Angola faz parte do grupo de países com pré-acordos para novos financiamentos.

Segundo dados da Iniciativa de Pesquisa China-África (CARI), da Escola de Estudos Internacionais Avançados da Universidade Johns Hopkins, em Washington, a China emprestou cerca de 125 mil milhões de dólares ao continente, entre 2006 e 2016, com Angola a reclamar cerca de metade desse valor, a julgar pelos dados oficiais que colocam os empréstimos chineses ao país na casa dos 60 mil milhões de dólares.

Yuan em África

Outro tema com quase presença garantida tem que ver com a possibilidade de passar-se a usar a moeda chinesa RMB, ou Yuan, como moeda de reserva no continente como forma de facilitar o comércio e investimento China-África. Tem havido poucas vozes contra e já é uma realidade em alguns países, como a Nigéria e África do Sul.

Em Maio, 14 países africanos reuniram-se em Zimbábue para discutir o uso da moeda chinesa como reserva e grande parte dos participantes mostraram-se favoráveis. No entanto, há as vozes contra ou, pelo menos, que apelam para cautelas. Defendem, por exemplo, que a adopção do yuan pode aumentar as percepções de que as economias emergentes da África se tornaram muito dependentes da China. Esta corrente lembra ainda que o dólar continua a dominar as reservas estrangeiras, constituindo 63% das participações estrangeiras dos países, segundo o FMI.

Nas economias emergentes e em desenvolvimento, representa um pouco mais - cerca de 66% das reservas externas. Em contraste, o yuan representa menos de 2% das reservas internacionais em todo o mundo. Quanto a Angola, Arnaldo Calado defende que a moeda chinesa já deveria ser uma realidade no país “há mais tempo”. O processo já tem alguns registos. Em 2015, Angola e a China firmaram um acordo monetário que previa que a moeda chinesa passaria a ser aceite no país a partir de 2016 e o kwanza aceite em compras no mercado chinês. Um outro registo tem como protagonista o Banco de Fomento de Angola. Em 2016 fez o primeiro pagamento em yuan.

Em 2016, o renminbi aderiu formalmente ao cabaz de moedas do Fundo Monetário Internacional (FMI), um instrumento criado pela instituição com a finalidade de permitir liquidez aos países membros.

Empresas chinesas podem facturar 440 mil milhões

No estudo “Dança de Leão com Dragão”, publicando o ano passado, a McKinsey perspectivou dois cenários para o futuro do investimento chinês em África. No primeiro, as receitas das empresas chinesas crescerão a um ritmo saudável, cerca de 38%, passando dos actuais 180 mil milhões para 250 mil milhões de dólares em 2025.

Nesse cenário, as empresas continuariam a trabalhar, sobretudo nos sectores que dominam (indústria e infra-estruturas) e estariam dependentes do crescimento da economia do continente. Num segundo cenário, as empresas chinesas acelerariam acentuadamente o seu crescimento como resultado da aposta em novos sectores e crescimento nos que exploram. Para este cenário, o estudo perspectiva receitas de cerca de 440 mil milhões em 2025.