Fernando Pacheco, engenheiro agrónomo

“Tudo que seja um aumento de produção inferior a 12 ou 15% é irrisório, não resolve os nossos grandes problemas”

Qual é a avaliação que faz do sector agrícola do país em 2024? 
O ano de 2024, a exemplo do que vinha acontecendo nos últimos anos, voltou a registar um aumento de produção que, de acordo com as estatísticas do Ministério da Agricultura, foi de cerca de 6%. Esse aumento na produção resulta, na minha opinião, de dois factores fundamentais: o aumento do peso político do sector agrícola, principalmente da agricultura familiar, que faz com que haja mais atenção e mais direccionamento financeiro para agricultura e, por outro, um maior envolvimento dos agricultores, quer familiares, quer empresariais na produção agrícola. Mas é preciso que nós sejamos realistas e pensarmos que esse aumento de cerca de 6% de produção anual é ainda muito pouco para as necessidades do país, quer estejamos a falar de necessidades alimentares e nutricionais, quer estejamos a falar de exportação, coisas fundamentais para que a agricultura tenha um maior papel na economia. Tudo que seja um aumento de produção inferior a 12 ou 15% é irrisório, não resolve os nossos grandes problemas. 

“Tudo que seja um aumento de produção inferior a 12   ou 15% é irrisório, não resolve os   nossos grandes problemas”


A que problemas se refere?  
Em primeiro lugar, é o problema institucional, que é um problema que se arrasta há muitos anos e que o Executivo não lhe deu a devida atenção este ano como nos outros anos já passados. Por exemplo, em 2020, ou 2021, o Governo decidiu iniciar uma reforma do Estado que, no caso da agricultura, envolveria a restruturação de algumas direcções nacionais e também de institutos de fomentos e instituto de investigação científica. Entretanto, o único passo que foi dado e, muito mal dado, foi a extinção do Gabinete Alimentar, numa altura em que tanto se fala de segurança alimentar, passando de Gabinete Alimentar para uma mera direcção nacional da agricultura, que fez a segurança alimentar baixar de nível no Ministério até este ano. Portanto, foi um erro essa decisão. Tudo o resto não foi concretizado, neste ano. 
 
Qual seria a alternativa?  
O Instituto de Desenvolvimento Agrário, por exemplo, é fundamental para que as explorações agrícolas familiares aumentem, não só as suas áreas de cultivo, mas também a sua produtividade para, depois, termos aumento de produção sem problemas muito sérios, quer do ponto de vista financeiro, quer do ponto de vista dos recursos humanos.  

Como perspectiva o sector em 2025? 
Espera-se que se aumente muito nas linhas de crédito para a agricultura. Mas uma questão surge: ainda que se aumente nessas linhas de crédito, haverá capacidade para se utilizar correctamente essas linhas de crédito? O que me deixaria mais descansado seria, se houvesse, em 2025, uma preocupação muito grande com a melhoria das capacidades institucionais, quer públicas, quer privadas quer familiares. Não vejo isso nas preocupações dos governantes, sendo assim poderá continuar a haver aumentos de produção, mas que serão sempre na ordem dos 5 ou 6%.