UM ‘CARRINHO’ DE AVISO À NAVEGAÇÃO
O Grupo Carrinho organizou um macro evento para assinalar os seus 30 anos de existência, com a presença inclusive de figuras internacionais de topo. Graça Machel foi citada como tendo afirmado que esteve em Benguela para homenagear “um grupo de sucesso”. A viúva de Samora Machel e de Nelson Mandela aponta um facto inegável. O Grupo Carrinho, em menos de meia dúzia de anos de governação de João Lourenço, saltou de um quase ilustre desconhecido para um gigante que antecipa facturação anual na casa dos mil milhões de dólares este ano. É um sucesso inegável.
A questão de fundo que grassa na generalidade das conversas dos angolanos está na origem deste sucesso. Desligar o crescimento faraónico do Grupo Carrinho da presidência de João Lourenço é um exercício esquizofrénico. O mesmo diga-se em relação à vulcanização da Omatapalo e de uns poucos menos expostos. Ninguém de sã consciência duvida que esta é uma convicção cristalizada na mente dos angolanos. O próprio Grupo Carrinho, em certa medida, tem consciência disso. Ainda que não o admita de forma clara, passos como a dispersão de activos do grupo em bolsa e a transferência de capital para Portugal, através de uma ‘Family Office’, tudo isso enquanto João Lourenço está no poder, abrem espaço para as naturais especulações, alimentadas por sinais de favorecimento inegáveis.
É neste contexto que o Grupo foi questionado pelo Valor Económico se receia que um eventual novo poder faça o mesmo que João Lourenço fez com alguns dos impérios empresariais criados na Era de José Eduardo dos Santos. A resposta dos responsáveis do grupo não é taxativa no descarte do medo. Dizem, por um lado, que não há esse receio porque o grupo vai cotado em bolsa e, por outro, porque seria um ‘tiro no pé’ de quem viesse a governar desmantelar um grupo que empregará pelo menos 25 mil pessoas até 2027.
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