ANGOLA GROWING
AINDA HÁ RELOJOEIROS NAS RUAS E NOS MERCADOS

Uma profissão produtiva, mas em vias de extinção

ARRANJOS. Faz parte das profissões que se ressentiram da abertura da economia, mas existem margens para a sua reestruturação. Quem resiste considera um “bom” negócio. Estrangeiros também entram no mercado.

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São poucos os sobreviventes de uma profissão que já foi muito solicitada, antes de haver uma maior abertura de Angola ao mundo: relojoeiro. Assim como muitas outras, o conserto de relógios foi vítima do consumismo que ganhou espaço na sociedade.

No entanto, há quem resista. Por serem poucos, são de difícil localização, sendo os mercados os pontos de maior concentração. Mas também é possível encontrar relojoeiros em algumas ruas como é o caso de Jorge Teixeira, que exerce a profissão há cerca de 20 anos na Maianga, em Luanda. Tem clientes tradicionais, devido à antiguidade, mas não tem dúvidas de que a procura diminuiu. Recorda que já houve alturas em que atendia, em média, 20 clientes por dia. Actualmente, está com cerca de 10, o que representa uma facturação diária de 10 mil kwanzas.

Antigo militar, de 54 anos, aprendeu a profissão “com um colono” e é com os ganhos dela que construiu a casa no bairro Catambor, em Luanda, e também conseguiu comprar uma motorizada e outros bens.

Por sua vez, no Kwanza-Norte, Xavier Bernardo, depois de deixar a vida militar nos anos 1980, teve uma curta passagem pelo Ministério do Comércio, então Comércio Interno. Foi ‘sol de pouca dura’ e, nos anos 1990, abraçou a profissão de relojoeiro, que, até hoje, exerce, alternando com a profissão de segurança.

Exerce em casa e garante ter bastante solicitação. “Dá para assegurar a alimentação da família, mas não consigo dizer quanto faço diariamente porque há dias com mais clientes e outros com menos, é relativo”, explica.

A trabalhar há dez anos, Cândido Jaime conseguiu comprar alguns bens para a casa, como electrodomésticos e é deste serviço que leva a vida, pelo que garante que vai “continuar nela” por muito mais tempo. “Se há quem use o relógio como uma peça descartável, também há os que preferem o mesmo durante muitos anos por isso temos clientes.”

Os dois relojoeiros também têm outra certeza: os jovens estão pouco interessados na profissão. “Os meninos preferem o imediatismo. Há até pessoas que passam aqui e riem-se de mim, esquecendo que é uma profissão rentável”, adianta Jorge Teixeira. Numa ronda do VALOR, apenas encontrou um jovem na profissão, Domingos Ferreira, de 23 anos de idade.

Quando mais caro é o relógio, mais é o custo da reparação, por causa da aquisição de acessórios. Os mercados do Kicolo e Congolenses são as principais fontes. Nestes mercados, também se encontram estrangeiros, vietnamitas, congoleses democráticos e chineses, a vender peças.

O preço da reparação, no mercado informal, pode chegar aos 10 mil kwanzas, consoante o valor do relógio e da marca. Nos mais baratos, relógios de 1.500 kwanzas, a reparação ronda os 300 a três mil kwanzas. Os mais caros até 20 mil.

O VALOR concluiu que se trata de um mercado com margem para se desenvolver. Primeiro, porque grande parte das empresas que se dedicam à venda de relógios não tem o serviço pós-venda pelo que a margem de mercado dos relojoeiros de rua mantém-se. As lojas limitam-se a ajustar os relógios ou a trocar pilhas. Na melhor das hipóteses, trocam as braceletes, mas apenas dos relógios vendidos por elas. Porém, é grande o acervo de relógios comprados directamente do estrangeiro e ou no mercado informal