Venda de plantas floresce nas ruas de Luanda
SUBSISTÊNCIA. Começa-se com quase nada, exige somente esforço acrescido e muita resiliência porque não se tem grandes margens de lucros. Vendedores enfrentam perigos da rua, mas conseguem, pelo menos, sustentar-se.
Cresce o número de vendedores de plantas nas ruas de Luanda, com destaque para a Avenida Fidel de Castro, tida como das mais movimentadas, em maior número, onde se perfilam em barracas, bancadas e não só. A presença também é notável na via que liga o Camama ao Kilamba e em alguns pontos da avenida Deolinda Rodrigues. Crianças e adultos, independentemente do género, lançam-se numa luta frenética pela sobrevivência tão logo surja uma viatura a ameaçar parar.
Os preços das plantas começam nos 500 kwanzas, variam de acordo com tipo de planta e o tamanho. Geralmente, os vendedores encontram as sementes, algumas já a brotar, em zonas pantanosas e passagens naturais das águas (valas) em Viana, Cacuaco e Belas, quando a areia é retirada em diferentes locais sem constituir qualquer custo.
Jardineiro de profissão, Quartin Domingos percorre várias valas, lixeiras e mercados informais à procura de sementes ou plantas em crescimento para vender perto do viaduto dos Congolenses, no Rangel. Sem emprego desde o surgimento da pandemia da covid-19, tem agora a venda de plantas como a única fonte de sustento. Só que, conta, nem sempre há clientes: “Às vezes chego a levar 500 kwanzas por dia para a casa. É pouco, mas dá para comprar pão e água, é por esse motivo que não desisto”, conta.
Apesar de arranjar algum sustento, o jovem, proveniente do Kwanza-Sul, viu o seu rendimento baixar significativamente nos últimos tempos por causa do aumento de vendedores. E vai vendo tantos outros colegas a optar por percorrer as diferentes artérias do centro da cidade com banheiras sobre a cabeça.
À semelhança de Quartin Domingos, Feliciano Manuel, tem a venda de plantas como fonte de sobrevivência desde que decidiu trocar o Uíge pela capital, há três anos. Nos dias que trata de “sendo de Deus”, vende, em média, 20 a 25 mil kwanzas, na Via Expressa. Entre as mais vendidas destaca a beijo de mulato, a 500 kwanzas, palmeira cica de médio porte, a 15 mil, e as de fruta, principalmente laranjeira, por 500 kwanzas.
A principal dificuldade é o acesso à água para regar diariamente as plantas. É forçado a atravessar a perigosa estrada para tirar água na bacia de retenção próxima ao Instituto Superior da Polícia Nacional numa distância de quase 800 metros. Explica que a diversidade de plantas é garantida por um grupo de jovens que as procuram em diferentes pontos. Ele cuida delas até fazer surgirem outras. Confessa, no entanto, não ter enormes despesas “a não ser na manutenção do viveiro” improvisado.
Leire Manuel, de 23 anos, também encontrou forma de fintar o desemprego. Juntamente com alguns amigos, dedica-se, há três meses, a vender espécies mais procuradas pelos angolanos, sobretudo os de renda média e alta. “É preferível vender aqui na Via Expressa porque está próxima de muitos condomínios. Sempre temos pessoas interessadas a comprar, até em jeito de reserva, pagam o dobro”, assegura.
Ao contrário dos restantes vendedores, compra habitualmente as plantas numa quinta situada no Kikuxi no valor máximo de 400 kwanzas. Faz questão de as tratar com insecticidas, de forma a evitar agentes agressores, bem como usa areia preta, adquirida a 500 kwanzas o saco de 25 quilos. Tem como estratégias a maximização dos clientes e a utilização de vasos inusitados. O que lhe permite um rendimento diário entre os 20 e os 40 mil kwanzas.
Delinquentes causam prejuízos
Os vendedores, ao longo da Via Expressa, debatem-se com os constantes roubos. Pela quantidade de plantas colocadas no local, muitos preferem não se retirarem porque, justificam, implica mais gastos com o aluguer de viatura para o transporte. Nas zonas em que não existem empresas próximas, alguns preferem não arriscar.
“Os que teimosamente não levam à casa ou num local próximo onde tenha segurança, na maioria das vezes não encontra a quantidade deixada no dia anterior. Em muitos casos, podem não encontrar mais todo o negócio”, conta Elizabeth João.
Quando não se quer roubos, vendedores, como Leire Manuel, são obrigados a pagar diariamente entre 500 a mil kwanzas a segurança de empresas privadas que estão colocados ao redor. Outros vendedores preferen posicionar o negócio perto de empresas ou espaços que disponham de seguranças.
BCI fica com edifício do Big One por ordem do Tribunal de...