Venda de pneus usados desafia proibição do Governo
COMÉRCIO PROIBIDO. Extensão na proibição de entrada no país de automóveis ligeiros com mais de três anos deverá ser aplicada também a peças e sobressalentes de viaturas.
Embora o Governo tenha já proibido a importação e comercialização de pneus usados, três anos depois, o negócio continua a reinar no mercado informal de Luanda. Ao que tudo indica, os riscos da actividade são ignorados por vendedores e compradores.
A justificação de ambos os lados envolvidos nesta prática encerra cariz económico e financeiro. Vendedores, contactados pelo VALOR, argumentam que vêem neste comércio o único meio de sobrevivência, enquanto vários compradores se justificaram com a incapacidade financeiras para comprar pneus novos, que geralmente custam o dobro.
À luz do dia, o negócio acontece tanto em casas com licenças comerciais, como na via pública, assim como em recauchutagens. Para já, os que vendem na rua ‘gabam-se’ de nunca terem sido incomodados por efectivos da fiscalização. Deste modo, o negócio soma e segue. Os preços dos pneus em segunda-mão variam entre 10 e 30 mil kwanzas, para viaturas ligeiras, enquanto para os carros de maior porte chegam a atingir os 70 mil kwanzas.
Pedro Júlio é um dos protagonistas da actividade. O vendedor, do bairro projecto Nandó, no município de Viana, diz que vive desta actividade informal, pelo que pretende criar “novas estratégias” para conquistar mais clientes. Até, porque, garante, não tem estado a lucrar como no passado, em que chegava a vender 15 pneus por dia. “Infelizmente, quase que já não vendo pneus nenhuns nesses últimos tempos. Às vezes, apenas vendo um ou dois pneus por dia”, contabiliza, acrescentando que está a pensar em mudar de local de venda “porque aqui já não está a dar certo”.
Patrício Desidério, no negócio há cinco anos, além de pneus de carros usados, vende jantes. Gerente de uma recauchutagem, no Camama, Desidério afirma que a falta de oportunidade de trabalho é que o fez abraçar o serviço e considera a prática agridoce, já que, apesar das adversidades por que passa, no fim de contas, consegue uma “facturação considerável”, ainda que com oscilações. “A venda é bastante relativa, há semanas em que consigo vender sete pneus a nove mil kwanzas cada um e outras em que a venda se resume a apenas em dois a três pneus”, conta o interlocutor.
Quem também anda na venda de pneus usados é Tando Miguel, com o estabelecimento comercial localizado no bairro Kapolo. O comerciante conta que o negócio é fértil e tem dado dinheiro suficiente para ajudar nas contas de casa. Para ele, a procura tem crescido nos últimos tempos. “Tem aparecido bastantes clientes e as referências mais procuradas são os número 14 e 15 de baixa pressão que cabem num Hiace, I10 ou kiaPicanto e, para conseguir estes pneus, é preciso astúcia, porque já não tenho um fornecedor como tinha antes”, explica.
Estrangeiros também ‘mergulharam-se’ nesta ‘informalidade’. O cidadão congolês democrático, que se identificou apenas por Marroquino, por exemplo, é proprietário de uma recauchutagem localizada, na Avenida Deolinda Rodrigues. Além de recauchutar, também vende pneus usados, há mais de dez anos e ‘gaba-se’ dos lucros. Entrou no ‘business’ com capital inicial de 300 mil kwanzas. Actualmente, factura por semana, aproximadamente 56 mil kwanzas, valor que considera “razoável”. A meta passa, entretanto, por fazer mais. “Às vezes, dá-me a impressão de que posso vender mais”, calcula, referindo que os preços são “atractivos” e que os produtos que vendem têm qualidade, apesar de usados. “Viajo sempre que posso para Congo e trago comigo entre 250 e 300 pneus de diferentes referências. Se assim não fizer, acabamos por perder clientes que são bastante exigentes.”
Vários automobolistas reconhecem que os riscos de se adquirirem pneus usados são óbvios, mas há quem se justitifique com falta de alternativas. Um automobilista, que preferiu não se identificar, conta que nem sempre compra pneus de segunda mão, mas, às vezes, vê-se obrigado a adquiri-los por serem baratos. “As lojas autorizadas vendem a preço muito alto, em contrapartida, nas recauchutagens, encontro a bom preço.”
Já outra automobilista Ana dos Santos desaconselha a compra de pneus usados, ainda que reconheça que alguns optam pelo caminho por falta de dinheiro. “Faz parte da segurança comprar pneus em locais certos. E devemos comprar pneus novos porque os antigos podem causar acidentes que poderíamos evitar se comprássemos em locais certos”, adeverte.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...