Venda de títulos nos planos das casas de câmbio
INTERMEDIAÇÃO. Depois de uma primeira tentativa, casas de câmbio preparam-se para voltar a propor a sua entrada no mercado dos títulos financeiros para fazer face à quase paralisação do negócio de compra e venda de moeda estrangeira.
A venda de títulos da dívida pública é um dos negócios no horizonte das casas de câmbio, depois de se verem forçadas a reinventar-se para contornar a crise económica, agravada pelo impacto da covid-19.
Hamilton Macedo, presidente da Associação das Casas de Câmbio (ACCA), antecipou ao VALOR que a intenção é reduzir a dependência da compra e venda de moeda de estrageira. “A legislação já nos dá vários escapes mas, com este problema que estamos a viver, vamos ter de, com a tutela, reformular uma série de objectivos e planos, adaptando-nos à nossa realidade. Temos de alargar a nossa oferta para a prestação de serviços no âmbito da inclusão financeira e especializar as nossas equipas no sentido de estarem mais viradas para estes serviços”, aponta.
Esta não é a primeira vez que as casas de câmbio consideram a dispersão da carteira de negócios, depois de, em 2018, terem feito o mesmo pedido ao BNA, que, entretanto, respondeu parcialmente de forma negativa. “Estamos a falar de serviços que hoje o mercado já tem e que precisam de ser massificados. Poderíamos entrar nesta corrida, tornamo-nos cada vez mais parceiros do Estado noutros serviços. Há já muitas empresas a fazerem correspondência bancária. Acho que poderá ser uma alternativa”, refere, discordando ao mesmo tempo da saída da banca do mercado de títulos. “Não é preciso, outros segmentos do mercado poderão também junto com os bancos realizar operações desta natureza”, defende, garantindo que a compra e venda de moeda estrangeira é para continuar. “A actividade não morreu, houve uma redução considerável. Há algumas empresas a funcionarem de forma muito irregular”, explica, revelando, entretanto, a existência de operadores que não aguentaram “o sufoco” e deram baixa da licença, além de empresários que venderam as empresas. “Quanto mais tempo durar esta situação mais isso acontece, é próprio da crise”, observa.
Hamilton Macedo apela, por outro lado, para uma maior solicitação do serviço de remessas que, desde 2014, também faz parte do pacote de negócios das casas de câmbio. “As nossas empresas estão preparadas para este desafio. É um serviço muito pouco utilizado mas, nesta fase que a mobilidade não é favorável, estamos disponíveis e preparados para este apoio”, garante.
Referindo-se ao desempenho dos novos negócios permitidos pelo regulador desde 2018, o responsável da ACCA alerta que alguns não se revelaram sustentáveis. “O âmbito da actividade foi alargado, mas não como gostaríamos. Já começamos a exercer parte, mas ainda não ganhamos a escala que esperávamos. Alguns serviços têm de ser reestruturados para poderem ser sustentáveis”.
Na carta enviada ao BNA, as empresas solicitaram autorização para, entre outros, venderem recargas telefónicas, fazerem serviços postais e de agentes de correctoras do mercado de capitais, além de serviços de microcrédito, transferências monetárias e de consultorias. Foi, no fundo, a primeira vez que as casas de câmbio tentaram entrar no mercado de capitais.
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