Voto do MPLA passa o Orçamento Geral do Estado
OGE. Partidos da oposição exigem ‘clareza’ sobre OGE de 2017. UNITA, por exemplo, afirma que proposta ‘ofende’ Constituição por não alocar verbas para autarquias. MPLA minimiza reclamações e garante que pacote está a ser preparado nos marcos da lei para que se paute pela lisura e transparência.
A bancada parlamentar da UNITA entende que a proposta do OGE/2017 “viola princípios da unidade, universalidade e da publicidade, por falta de informação quanto à identificação de todas as pessoas que beneficiam de receitas públicas”.
O líder da bancada da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, apontou instituições como a AJAPRAZ e o KABUSCORP que beneficiam de financiamento público, “mas não existem do ponto de vista orçamental”. Também não se encontra justificação, segundo o político, para que os documentos da proposta de Orçamento de Estado não contenham informação suficiente para se avaliar a orientação do investimento empresarial e societário do Estado e conhecerem-se os principais projectos que o Executivo se propõe realizar.
Para o deputado, a proposta do OGE para o exercício fiscal do próximo ano, aprovada na generalidade na semana passada, não apresenta, “de mondo evidente”, qualquer estratégia de política económica para a promoção do crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB), no sector não petrolífero com relação às opções orçamentais, “baseando-se em objectivos sem fundamentos, cujas metas se tornaram inatingíveis”.
Adalberto da Costa Júnior apontou programas governamentais como o Presild, o Papagro, o Angola Jovem, que “carecem de uma demonstração da sua eficácia em cada exercício económico”.
A preocupação da CASA-CE sobre a proposta do OGE para o próximo ano também incidiu sobre o facto de não estarem claras as verbas para as eleições de 2017. Na voz do presidente do grupo parlamentar da coligação, a CASA-CE mostrou-se “preocupada”, por não existir uma fixação de um limite máximo de endividamento do Estado, uma norma que considera “violadora dos princípios constitucionais”.
O PRS, pela da deputada Leonor Gaspar, disse que o problema não se prende apenas com a forma de arrecadação de receitas, mas na “transparência, fiscalização” e na aplicação dos recursos. Para a deputada do PRS, “é paradoxal” que se continue a cabimentar maiores verbas para a defesa e segurança em detrimento da agricultura e da pesca, por exemplo, “quando se fala constantemente da necessidade de diversificar a economia”.
Já o presidente da FNLA, Lucas Ngonda, apesar de ter aprovado a proposta, lamentou que os Orçamentos anteriores “não conseguiram resolver problemas básicos que assolam a população, como são os casos da energia e da água”.
O MPLA minimiza as preocupações dos partidos da oposição, embora reconheça que “ainda há muito que fazer e que nem tudo o que foi projectado foi feito como o previsto”. Segundo o presidente da bancada parlamentar do maior partido angolano, Virgílio de Fontes Pereira, as políticas económicas não fazem qualquer sentido se não contribuírem para o aumento do bem-estar e qualidade de vida do povo. Por esta razão, “o desenvolvimento integral e a melhoria das condições de vida estão no centro das atenções do partido”.
Virgílio de Fontes Pereira argumentou que a proposta do OGE/2017 contém as medidas concretas de curto prazo para dar continuidade à “aspiração da estratégia para a saída da crise”. Neste exercício, deve ter-se sempre presente, justifica o político, que “a adopção ou entendimento em matérias sensíveis nas alterações que se proponham não deve condicionar o andamento do processo de preparação das eleições, com base nas leis vigentes, nem deve criar situações de inconstitucionalidades e provocar aumento das despesas do Estado previstas no OGE”.
Em relação ao processo eleitoral, o deputado do MPLA referiu que está a ser preparado nos marcos da lei para que se paute pela lisura e transparência. Neste sentido, destacou que estão a ser dados passos para o cumprimento do plano de tarefas essenciais para a preparação das eleições gerais e autárquicas, aprovado por unanimidade pelos partidos políticos e coligações com assento parlamentar. Apelou, por este facto, aos deputados para, “com seriedade e dever patriótico”, continuarem a desempenhar a função de legisladores nas tarefas relativas às eleições gerais de 2017.
A proposta do OGE/2017 foi aprovada na Assembleia Nacional, na generalidade, apenas por votos do MPLA (partido no poder) e FNLA. A UNITA, maior parido da oposição, e a CASA-CE votaram contra, enquanto o PRS se absteve. Mais de 40% das receitas totais do Orçamento, fixadas em 7, 3 triliões de kwanzas, resultam de dívida. A proposta prevê um crescimento do PIB de 2,1%, sendo 1,8% do sector petrolífero e 2,3% do sector não petrolífero. A previsão do défice fiscal é de 1,139 biliões de kwanzas, o que equivale a 5,8% do PIB, que será coberto com base no financiamento interno e externo, e uma inflação anual esperada não superior a 15,8%. Deste modo, Angola regista, em quatro anos consecutivos, défices nas contas públicas, depois dos estimados 6,8% do PIB em 2016, 3,3% em 2015 e 6,6% em 2014. Em termos de distribuição funcional e territorial, a despesa do OGE 2017 destaca as províncias de Luanda, Kwanza-Norte, Cabinda, Huambo, Bié e Benguela.
JLo do lado errado da história