ANGOLA GROWING
DEPOIS DE VÁRIOS ANOS À ESPERA DA LUZ VERDE DO FMI

Yuan estreia-se no clube das moedas fortes e já vale 25 kwanzas

MOEDAS. Admissão do Yuan Renmimbi para o grupo das quatro moedas de referência deu ‘empurrão’ à ligeira desvalorização do kwanza face à moeda chinesa. Especialistas e players do sistema financeiro angolano projectam incrementos nos negócios e acordos monetários entre Angola e China, mas critérios ficam dependentes do FMI.

Uma semana depois desde a sua admissão como moeda de referência pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o Yuan passou a custar mais um kwanza do que na semana anterior, de acordo com as taxas de câmbios diárias do Banco Nacional de Angola.

Um renmimbi, outro nome da moeda chinesa, estava a ser transacionado, no último dia de Setembro, a 24,9 kwanzas. Três dias depois a mesma moeda é vendida entre 24 e 25,1 kwanzas, tendo fechado até 6 Outubro (até ao fecho desta edição) a valer os 25 kwanzas.

Na origem da valorização do kwanza, está a alteração das regras dos Direitos Especiais de Saque do FMI (SDR, na sigla em inglês), para admissão de moedas de referências, processo iniciado em Novembro de 2015 e que fica fechado com a aprovação e a consequente entrada do yuan no Clube de moedas fortes.

Antes, o Yuan ‘sofreu’ detalhadas avaliações, onde duas condições definiriam se a moeda chinesa entraria ou não: primeiro estar muito presente nas transacções mundiais e depois ser livremente utilizável. A China cumpriu todas, num percurso de avaliação que dura há vários anos.

O Conselho Executivo do FMI justifica ainda a aceitação do yuan entre as moedas de referências pelas “reformas económicas e financeiras seguidas pelo governo [chinês]”, que, segundo o Fundo, “incluem o desenvolvimento de mercados financeiros profundos resultados macroeconômicos previsíveis e instituições fortes e credíveis”.

Até 30 de Setembro, o FMI apenas reconhecia quatro moedas de referência internacional – o dólar dos Estados Unidos de América, o euro, o yen japonês e a libra britânica. A 1 de Outubro passou a integrar o clube mais uma, o yuan, entrada que traz vantagens para a economia chinesa e seus aliados no comércio internacional de mercadorias.

Para além da valorização do yuan, há vários outros efeitos a considerar. Segundo o economista Flávio Inocêncio, a “relevância da medida afecta directamente as operações do FMI”, uma vez que o organismo é a instituição financeira “mais importante na ajuda de países com crises cambiais e que tenham falta de divisas”.

Do lado de Angola, surgem vantagens, por exemplo, “por via de um acordo bilateral de conversão de moeda entre o BNA e o banco central chinês”, mecanismo que, na visão do também co-director do mestrado de petróleo e gás, na Universidade de Coventry, na Inglaterra, “dependerá unicamente das autoridades chinesas”.

BANCOS GANHAM

Não só o comércio ganha. Há banqueiros e administradores de bancos satisfeitos com a medida. Filipe Lemos, administrador do Banco Pungo Adongo, considera que a entrada do yuan no clube restrito de moedas de referências “terá impacto brutal”, nas economias e sistemas financeiros de países que, até então, tinham dificuldades no acesso às tradicionais moedas de referência.

“A entrada da moeda chinesa no restrito clube de divisas propicia, sem dúvida, condições para um acordo monetário tendo em conta os interesses económicos cuja continuidade precisa de proteção”, analisou depois o administrador do Pungo Adongo, referindo-se à possibilidade de conversão monetária entre o kwanza e o yuan.

O acadêmico Flávio Inocêncio adverte, no entanto, para o facto de a decisão do Fundo “não tornar o yuan livremente convertível”, mas saúda o fluxo de divisas que os bancos comerciais angolanos poderão ter, se os governos finalizarem o tão propalado acordo de conversão monetária kwanza-yuan.

“Os Bancos comerciais Angolanos poderão aceder a yuans através do BNA e disponibilizar facilidades em yuan aos seus clientes. Resta saber como é que o BNA, na prática, vai gerir essa disponibilidade de yuans aos bancos comerciais”, interroga o economista.

PRESSÃO SOBRE AS DIVISAS

Questionado sobre o impacto da medida do FMI face à pressão sobre as divisas em Angola, o administrador Filipe Lemos e o economista Flávio Inocêncio concordam que “ainda é cedo” para fazer comparações entre o dólar e o yuan”, acrescentando que o sistema financeiro nacional “tem outros desafios e caminhos a percorrer”, como é o caso da “reestruturação da economia e do acompanhamento dos investimentos para os sectores produtivos.