‘Zunga’ de comida para se escapar ao desemprego
Comércio. Na generalidade, vendedores transportam entre duas e três dezenas de tigelas em caixas plásticas e vendem , em média, a 300 kwanzas. Os clientes são na maioritariamente outros operadores informais.
Com o elevado desemprego a ser apontado como a principal razão que desencadeou o negócio, a venda de almoços na via pública há muito que se destaca no comércio informal de alimentos.
Nas ruas de Luanda, por exemplo, é comum verem-se homens e mulheres lançados na actividade, muitos dos quais empurrados para o desemprego com o agravamento da pandemia, ainda em 2020. A mesma justificação da covid-19 é apresentada também pelos próprios 'patrões', ou seja, os donos do negócio, geralmente grupo de três ou mais mulheres que se constituem numa espécie de sociedade.
Na generalidade, os vendedores transportam as refeições em caixas plásticas, onde conseguem juntar entre duas e três dezenas de tigelas comercializadas em média a 300 kwanzas cada uma. Contas feitas, as receitas diárias podem atingir os 9 mil kwanzas que, multiplicados por cinco dias úteis, perfazem 45 mil por semana e 180 mil kwanzas por mês. Mas, fora do centro da cidade, os preços podem ser mais competitivos em benefício do cliente. Vários vendedores testemunham que, em zonas como Viana e Kilamba Kiaxi, por exemplo, o preço por tigela de refeição se fica pelos 250 kwanzas, devido à capacidade de compra dos clientes e de alguma concorrência “mais acirrada”.
Madalena Figueiredo e mais duas amigas, que se dedicavam à venda de fardos (roupa usada), entraram no negócio com um investimento de 180 mil kwanzas. Hoje têm três empregadas e contam que o negócio “é lucrativo, apesar dos riscos e da forte concorrência”. “Há muita gente agora a entrar no negócio. Dificilmente os vendedores fazem mais de uma viagem, ficam apenas por uma, às vezes, se não for dinâmico, nem terminam de vender as 30 tigelas, ainda assim, continua a ser rentável”, conta Figueiredo.
Pedro Alberto, cozinheiro de profissão, concorda que o negócio seja “lucrativo”, mas faz questão de sublinhar os “elevados riscos”, por conta do que considera “vendedores de má fé que muitas vezes acabam fugindo com o negócio ou apresentam desculpas que venderam a 250 quando na verdade o fez a 300 kwanzas”. A controlar quatro vendedores juntamente com a esposa, Alberto refere que vender refeições “é um desafio” e que para se alcançarem “bons rendimentos” é preciso constantes reinvestimentos. “A redução do preço da cesta básica está a desafogar-nos um pouco das despesas. Já podemos comprar a grosso, antes tínhamos de fazer apanhados nos mercados informais. Esforçamo-nos sempre para cozinhar bem para que os clientes continuem a preferir-nos, manter o negócio e ver se futuramente contratamos mais vendedores”, conta.
Também os restaurantes improvisados espalhados por Luanda apostam no negócio da ‘zunga’ de comida, prática a que fazem recurso para compensar a falta de clientes. E, no meio da concorrência, os vendedores com mais tempo de actividade têm vantagens. Jorge Antunes, proveniente do Cuanza-Sul, conta que não tem tido dificuldades na venda, visto que tem os seus habituais clientes que não aceitam comprar noutros operadores. "A qualidade da comida é que prende os clientes, não tenho dificuldades em completar a venda, diferente dos outros colegas”, gaba-se.
Quanto ao pagamento aos vendedores, a generalidade dos patrões reserva o dia de sábado. Ou seja, as vendas todas desse dia correspondem ao pagamento do trabalhador. Há, entretanto, donos que preferem reservar as vendas de quinta-feira para os pagamentos aos vendedores.
Os clientes são maioritariamente outros operadores informais, funcionários de protecção física e de lojas nas zonas muito movimentadas e onde estão implantadas fábricas ou decorrem obras, como se observa na Zona Económica Especial e no Pólo de Desenvolvimento Industrial de Viana.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...