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Hans-Werner Sinn

Hans-Werner Sinn

Este mês, o presidente da Comissão Europeia pediu uma aceleração da expansão do euro na zona leste. Todavia, este plano poderá recriar as condições que alimentaram, apenas alguns anos atrás, a crise da UE decorrente do sul da Europa.

Um grupo de caminhantes perdeu-se no caminho. Querem chegar a um castelo, a uma distância de uma colina, mas o caminho que estão a tomar parece ir numa direcção diferente, e o único conselho do seu líder é: apressem-se.

Actualmente, a zona euro encontra-se na mesma situação que aqueles caminhantes. Ficou cada vez mais claro que estabelecer o euro era o caminho errado a seguir. A moeda única causou uma bolha de crédito inflacionária no sul da Europa. Quando a bolha rebentou, a competitividade da região foi destruída e a Europa do Norte foi instada a fornecer grandes garantias de empréstimos, crédito público e transferências. Estas medidas sustentaram os preços relativos errados que resultaram da bolha, e encobriram o problema de base.

Enquanto isto, o Acordo de Schengen, que eliminou a maioria dos controlos nas fronteiras entre os Estados membros da União Europeia, facilitou, nos últimos anos, a capacidade dos imigrantes das zonas mais pobres da Ásia e da África de se juntarem rumo aos Estados-Providência do Norte da Europa.

Em resposta a estes acontecimentos, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, aproveitou este mês o seu discurso no Estado da União para pedir que mais países se juntem à zona euro e ao espaço Schengen. Juncker é o guia carismático, mas confuso, que está a desviar o nosso grupo metafórico de caminhantes.

Todos os Estados membros não pertencentes à UE, excepto a Dinamarca, já estão legalmente obrigados a trabalhar para a adopção do euro, ao satisfazer vários “critérios de convergência”. Mas Juncker, obviamente, quer acelerar este processo, flexibilizando os critérios de adesão à zona euro e fornecendo incentivos financeiros para a entrada de novos membros.

Dados os problemas passados da zona euro, esta é uma proposta extremamente perigosa. Se concretizada, provavelmente alimentaria o mesmo tipo de sobreaquecimento destrutivo que vimos no sul da Europa. Na verdade, famílias búlgaras, croatas e romenas já foram sobrecarregadas com dívidas excessivas em moedas estrangeiras - principalmente euros - em antecipação à adesão com a união monetária, o que criou dificuldades financeiras substanciais.

Claro, é compreensível que os bancos ocidentais que imprudentemente estenderam os empréstimos em euros a esses países, agora queiram dar-lhes impressoras de euros. Dessa forma, os países devedores podem tranquilizar os seus credores e reembolsar, se necessário, os seus empréstimos com dinheiro auto-impresso, conforme os países do Sul da Europa fizeram na última década.

Prover a Bulgária, a Croácia e a Roménia com impressoras de euros nacionais, manteria o fluxo de crédito privado e permitiria que os empréstimos em moeda estrangeira fossem prolongados. No entanto, tanto crédito artificialmente barato também prejudicaria as pensões do estado, os salários dos funcionários públicos e as transferências sociais. E isto, por sua vez, levaria ao sobreaquecimento dos mercados imobiliários e ao aumento dos salários internos, prejudicando assim a competitividade internacional.

Geralmente, um país que se encontre em tal posição desvalorizaria urgentemente a sua moeda. Mas, como a adesão ao euro exclui essa opção, os países do Norte da Europa, financeiramente sólidos, seriam mais uma vez chamados a ajudar com garantias de empréstimos e transferências financeiras do Banco Central Europeu, ao mesmo tempo que tolerariam o auto-atendimento dos sócios da eurozona recém-chegados com a tal impressora.

Em suma, o plano de Juncker para acelerar a adesão à zona euro ameaça recriar o caos da última década, que começou com uma bolha no sul da Europa e culminou com a crise da dívida soberana grega.

A proposta de Juncker em ampliar o espaço Schengen para o Oriente é similarmente equivocada e parece ignorar as lições da história recente. A onda incontrolável de imigração em 2015 mostrou que a Europa possui poucos controlos nas fronteiras internas e externas. Juncker pode gostar de pensar que a imigração diminuiu desde então, devido ao acordo alcançado da EU com a Turquia no início de 2016. Porém, dados da autoridade europeia para o controlo de fronteiras, a Frontex, indicam que os fluxos migratórios estagnaram quando um muro foi erguido na Macedónia, a pedido da Áustria e dos países Visegrád (República Checa, Hungria, Polónia e Eslováquia).

Além disso, o muro da fronteira húngaro-sérvia e os controlos sempre apertados da Hungria na sua fronteira com a Roménia contribuíram também para a estabilidade europeia. Contudo, os imigrantes estão agora a atravessar o Mar Negro da Turquia para a Bulgária, e podem chegar a números ainda maiores se as negociações de adesão da Turquia à EU forem adiadas. Como resultado, o resto da UE deve-se opor a qualquer tentativa de eliminar os controlos existentes nas fronteiras, que é exactamente o que aconteceria se a Bulgária e a Roménia fossem incluídas no espaço Schengen.

Pode-se perguntar qual a direcção das propostas de Juncker. Com certeza, a Comissão Europeia não pode negligenciar os interesses das instituições financeiras em Paris, Luxemburgo e Frankfurt. Ninguém quer os empréstimos indesejados concedidos aos países da Europa Oriental para alimentar outra crise bancária.

Mas, o resultado de Juncker em impor a sua vontade seria ainda mais grave. Uma bolha inflacionária na Europa Oriental, juntamente com o desmantelamento dos controlos nas fronteiras, poderia desestabilizar toda a UE e criar uma nova onda de imigrantes económicos rumo à Europa Central. É hora do guia da Europa ser razoável, consultar uma bússola e retomar o caminho.

 

Hans-Werner Sinn, professor de Economia e Finanças Públicas da Universidade de Munique; foi presidente do Ifo Institute for Economic Research e exerce funções no Conselho Consultivo do Ministério da Economia Alemã. É o autor, do mais recente, A armadilha do Euro: sobre o Estoiro de Bolhas, Orçamentos e Crenças.