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Temer tramado por gravações

Brasileiros querem dizer “Tchau querido”

22 May. 2017 Valor Económico Mundo

ESCÂNDALO. “Não renunciarei. Repito, não renunciarei”. Palavras do presidente do Brasil no pronunciamento oficial à imprensa, após revelações que o envolvem em tentativa de suborno. Mercados brasileiros continuam a derrapar e a moeda local quase perdeu 9% em dois dias.

O presidente do Brasil, Michel Temer, recusa demitir-se do cargo e descartou mudanças no seu governo, apesar de vários ministros e ele terem sido citados em acusações ligadas no maior escândalo de corrupção na história do país, a Lava-Jacto. Temer garantiu que não deixará a presidência, após a divulgação de gravações com alegados pedidos de suborno envolvendo o seu nome, serem reveladas pelo maior empresário do sector das carnes do país, Joesley Batista, donos da JBS.

O pronunciamento do presidente surge depois de o diário local “O Globo” ter referenciado que aquele empresário havia entregado à Procuradoria-Geral da República do Brasil uma gravação de conversa na qual o empresário e Temer falam sobre a compra do silêncio do ex-Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, preso na Lava Jato. Eduardo Cunha, de recordar, liderou o ‘impeachment” de Dilma Rousseff.

O chefe de Estado brasileiro negou ter qualquer relação com este facto e referiu que em “nenhum momento” autorizou “a quem quer que seja” para ficar calado. Acrescentou que não comprou o silêncio de “ninguém” e não temia nenhum acordo com a justiça em troca de redução da pena.

Temer ressalvou que a investigação autorizada contra si pelo juiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), irá revelar “todas as explicações” e acrescentou que irá demonstrar ao povo brasileiro não ter nenhum envolvimento com os factos apresentados.

O escândalo fez com que os mercados brasileiros derrapassem e que o real perdesse quase 9% do valor. A bolsa de valores, BR&FBovespa, chegou a suspender por 30 minutos as negociações.

Antes de afirmar que se iria manter no cargo após o escândalo, Temer declarou que o seu governo conseguiu os melhores resultados do ano, como a queda da inflação e o retorno do crescimento económico. “Os dados de geração de empregos criaram a esperança de dias melhores. O optimismo retornava e as reformas avançavam no Congresso Nacional. Contudo, a revelação de uma conversa gravada clandestinamente trouxe a volta o fantasma de uma crise política de proporção ainda não dimensionada. Não podemos jogar no lixo tanto trabalho feito em prol do país”, afirmou, no Palácio do Planalto.

MINISTROS ABANDONAM CARGOS

Apesar de Michel Temer ter dito que permaneceria no cargo, até esta sexta-feira, dois dos seus ministros haviam renunciado ao cargo. Primeiro, foi o ministro das Cidades, Bruno Araújo; depois seguiu-se o ministro da Cultura, Roberto Freire.

Numa carta dirigida a Temer, Freire assegurou que “tendo em vista os últimos acontecimentos e a instabilidade política gerada pelos factos que envolvem directamente a Presidência, decidiu com caracter irrevogável, renunciar ao cargo”. O ex-ministro da Cultura voltará, no entanto, de acordo com a carta, a ocupar o seu mandato na Câmara dos Deputados para “ajudar o país a ter o mínimo de estabilidade politica” que permita que o Brasil avance com as reformas para o desenvolvimento da economia.

CIDADES EM PROTESTO

Várias cidades do Brasil entraram em confrontos com a polícia por causa das manifestações que exigiam a demissão de Michel Temer do cargo. As manifestações ganharam proporções alarmantes após o pronunciamento do estadista de que não iria abandonar o mandato. Os manifestantes adaptaram o slogan “Tchau querido”, popularizado nos últimos dias de presidência da ex-presidente Dilma Rousseff.

Na cidade de Porto Alegre, o protesto originou confrontos entre os manifestantes e a Brigada Militar na quinta-feira. Apoiantes e representantes da oposição ao governo, entidades de classe e movimentos sociais reuniram-se numa rua para pedir a destituição de Temer.

Na capital, Brasília, um grupo chegou até ao congresso, mas o acto foi pacífico. No Rio de Janeiro e São Paulo também houve uma onda de manifestações para que se efectivasse um ‘impeachment’.