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Gestores poderão alienar imóveis

Fundo imobiliário da Ensa arranca este ano

SEGUROS. Nova entidade deverá gerir um património com mais de 60 anos. Rendas baixas dos imóveis têm representado desequilíbrios no balanço e arrendatários não têm capacidade para suportar actualizações.

Fundo imobiliário da Ensa arranca este ano

O fundo de investimento que vai gerir o património da Ensa fora do seu ‘core business’ tem previsões para arrancar este ano, confirmou ao Valor Económico o PCA da seguradora.

Carlos Duarte indicou que a Comissão de Mercado de Capitais (CMC) já deu ‘luz verde’ para a operacionalização do fundo, entidade que deverá gerir um património imobiliário “enorme”, a maior parte do qual concentrado em Luanda.

Com entre 60 e 70 anos de existência, o património imobiliário da Ensa regista “graves problemas” relacionados, entre outros, com a falta de conformação das rendas à legislação. “É um patrónimo com taxas de rentabilidade muito baixas e, por tudo isso, tem efeito negativo no nosso balanço. Estes imóveis também estão a representar as provisões técnicas, era necessário alterarmos isso”, justificou Carlos Duarte.

A Ensa garante que o fundo vai ter uma gestão orientada “exclusivamente” para “melhorar” a rentabilidade do património e, a longo prazo, “corrigir” o desequilíbrio do balanço, para torná-lo mais líquido. “O problema é que uma grande parte dos arrendatários já está nos imóveis há décadas e muitos não têm capacidade financeira para suportar um aumento brusco das rendas. Temos tido dificuldade em conseguir implementar esta conformação das rendas com a legislação. Temos bastantes dificuldades”, reconhece o gestor, acrescentando que a previsão da actualização das rendas levará em conta o “aspecto social” dos arrendatários.

Entre funcionários públicos e não só, muitos já reformados, nos cerca de mil arrendatários estão incluídos também antigos funcionários da seguradora. “São pessoas já com certa idade e já não fazem parte da população activa. Alguns imóveis foram subarrendados à revelia do senhorio. É um conjunto de situações muito complexas com contornos jurídicos que tornam quer a cobrança, quer a actualização um processo muito complexo e penoso”, insiste o PCA da Ensa, antecipando que o fundo terá “outros instrumentos” para rentabilizar os imóveis, como a alienação.

As alterações na seguradora passam também pela mudança da sede da empresa até ao final do ano, encerrando edifícios antigos e com despesas “colossais” de manutenção.

O valor total do rendimento dos imóveis da Ensa está avaliado em 62 mil milhões de kwanzas, segundo o relatório e contas do ano passado.

DIRECÇÕES REDUZIDAS

A Ensa decidiu reduzir de 25 para 14 as direcções da empresa, processo que levou, por consequência, à redução do “excesso” de departamentos, além de eliminar a figura de subdirector.

Para Carlos Duarte, a seguradora suportava uma “máquina extraordinariamente pesada”, o que obrigou a um saneamento financeiro, com a revisão de custos com consultoria e contratos de prestação de serviços.

Indicando “vários desequilíbrios e problemas” por conta do sub-financiamento do fundo de pensões, o gestor da Ensa apontou um défice de perto dos 7 mil milhões de kwanzas, além de contingências fiscais acima de 20 mil milhões de kwanzas. “Tínhamos clínicas que reclamavam dívidas de dezenas de milhões de dólares e teve de ser feito um esforço para se reconciliarem todas estas contas até que se chegou à conclusão que muitos dos casos desta dívida não existiam. O que havia eram diferenças cambiais”, revela.

Em 2020, o volume de prémios da Ensa subiu 34% para os 84 mil milhões de kwanzas, com um resultado líquido positivo de 17,6 mil milhões de kwanzas, mais de 7,7 mil milhões de kwanzas face a 2019.