População resiste à miséria em zonas órfãs de políticas públicas
REPORTAGEM. Populações são vítimas da natureza, da seca. Esquecidas pelo Governo, sobrevivem no deserto onde falta tudo. Água e alimentação são as maiores ‘dores de cabeça’. Quase todos buscam saúde e ensino na vizinha Namíbia, mas têm de percorrer longas distâncias. Quem por aqui vive sente-se “órfão do Estado”.
O Cunene é uma das províncias mais pobres do país e o município do Curoca é conhecido como o mais pobre entre os 164 que compõem país. Há dois anos, morria-se de fome e de sede. Mas a pobreza estende-se a quase toda a extensão da província em que se nota a ausência da presença de políticas de Estado. É uma província esquecida pelo Governo, como afirmam os próprios munícipes.
O Valor Económico visitou a província, passou pelos municípios de Ondjiva, Ombandja, Cuanhama e Namacunde e constatou que a miséria, agravada pela seca, continua a dilacerar as populações. Há zonas sem assistência social. Por lá, não se sabe das propaladas iniciativas governamentais, como Kwenda, o programa de transferências monetárias às famílias vulneráveis. Ou a merenda escolar, iniciativa que se destina a melhorar o aproveitamento das crianças em idade escolar, enquadradado do Programa Integrado de Desenvolvimento Local e Combate a Pobreza (PIDLCP).
Em quase toda a extensão, é visível a miséria de uma terra onde não se vislumbra o verde das árvores ou do capim por estar tudo seco. Não há o que comer. Todos dependem dos pequenos ‘stocks’ que conseguem fazer graças à colheita das plantações de massango e de massambala feitas em vésperas de quando a pouca chuva aparece. No entanto, em boa parte do território, é visível um paradoxo na composição da terra. Apesar de, nesta altura, se assistir a uma seca acentuada, grande parte da província é pantanosa. “Também não pode chover muito porque fica tudo inundado”, queixam-se os munícipes.
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