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Garante autenticidade do cheque de 50 mil milhões de dólares

Tailandês diz-se inocente e que veio a Angola por filantropia

21 Jan. 2019 Isabel Dinis De Jure

BURLA À TAILANDESA. Arguido Raveeroj Ritchchoteanan afirma que os dois cheques na sua posse são verdadeiros. E garante que não chegou a pedir garantias ao BNA nem a propor negócio do ouro.

 

Tailandês diz-se inocente e que veio a Angola por filantropia

O arguido tailandês Raveeroj Ritchchoteanan, de 50 anos, arrolado no caso conhecido por ‘Mega Burla à tailandesa’ e considerado o mentor de uma tentativa de burla ao Estado de 50 mil milhões de dólares, referiu, em tribunal, ser inocente e “boa pessoa”.

O réu, o único ouvido na sexta-feira, 18, durante várias horas, garantiu que o cheque bilionário de 50 mil milhões de dólares, que apresentou às autoridades angolanas, era verdadeiro e detido pela sua empresa, sociedade Centennial Energy Company Lda.

Referindo várias vezes que era inocente e “boa pessoa” e que normalmente ajudava pessoas carentes, avançou que veio a Angola para investir em várias áreas, principalmente nas sociais. Considerou inclusive que o investimento a realizar era uma acção filantrópica para Angola.

Raveeroj Ritchchoteanan avançou que o último cheque de quase 100 mil milhões de dólares de que dispunha quando foi detido, em Março do ano passado, também era verdadeiro e que também lhe pertencia (provocando murmúrios na audiência). Garantiu que, além dos valores em causa, ainda tinha “muito mais”.

O caso veio à tona segundo a acusação em 2017, quando chegou a Luanda uma delegação de dez pessoas, com o visto de fronteira, para investirem em Angola. Os supostos investidores tailandeses pretendiam, com alegadas cumplicidades de cidadãos nacionais, “burlar” o Estado angolano no valor de 50 mil milhões de dólares.

Na altura, o Tribunal Supremo decidiu aplicar a medida de coacção processual de prisão preventiva a oito arguidos deste caso, no qual constam quatro cidadãos tailandeses, igual número de angolanos, um canadiano e um eritreu.

No processo Raveroj Ritchchoteanan é acusado dos crimes de associação criminosa, fabrico e falsificação de títulos de crédito, um crime continuado de falsificação de documentos e uso de documento falso e um crime de defraudação pela forma frustrada.

Chegada a Angola foi por convite

Em detalhes de como chegou a Angola, o arguido explicou que veio a convite do cidadão camaronês, Pierre Rene Tchio Noukekkan, que entretanto se encontra foragido. Segundo declarou, Noukekkan lhe terá suplicado a investir em Angola, dado que o Estado angolano lhe havia confiado a missão de encontrar os melhores investidores. O camaronês ter-se-á revelado comprometido a ajudar Angola, tendo mencionado as condições sociais do país, como a falta de água e luz, hospitais e casas para a população.

A vinda a Angola aconteceu depois de, alegadamente, receber duas cartas das autoridades angolanas facultadas pelo camaronês. O cheque dos 50 mil milhões de dólares foi feito para provar a sua capacidade financeira, porque, segundo o camaronês que o terá convocado, era o mínimo exigível.

Apenas conheceu Celeste de Brito e NorbertoGarcia em Angola

O réu referiu que apenas conheceu os angolanos Celeste de Brito e Norberto Garcia, também implicados no processo, em Angola, e que antes nunca havia mantido qualquer contacto com os dois. Admitiu que teve um visto de 15 dias, mas que não chegou para sair de Angola depois de expirado. Antes de ser detido, constituiu uma companhia com o mesmo nome da sua empresa tailandesa. E Norberto Garcia, na qualidade de director da Unidade Técnica para o Investimento Privado (UTIP), tê-lo-á ajudado a formar o registo de investimento privado.

Segundo contou, veio para Angola com o propósito de cumprir um roteiro em que constava ser recebido pela Unidade de Investimento Privado (UTIP), ministros e pelo vice-Presidente. Mas apenas foi cumprido o encontro com a UTIP, o que terá motivado um desentendimento com Celeste de Brito.

Não houve pedidos de garantia

O arguido negou também a acusação do Ministério Público de que chegou a pedir uma garantia ao BNA para que o cheque chegasse a Angola e que também não propôs um negócio de ouro.

Avançou que o cheque nunca chegou a Angola por causa da falta de um acordo entre o Estado angolano e a sua empresa.