TODOS OS RISCOS
As leituras preliminares levam a um único caminho. Caso se confirmem as alegadas investigações contra o Presidente João Lourenço e sua família nos Estados Unidos, as consequências para o país terão proporções dramáticas. A todos os níveis e em todos os sentidos.
Internamente, ressuscitar-se-á, de forma imediata e fundada, o questionamento sobre a legitimidade moral da condução do duvidoso combate à corrupção. E sairão reforçados os argumentos dos que desprezam a agenda política dominante. Dos que a encaram como um projecto de pura aniquilação de potenciais adversários internos no MPLA, com o foco exclusivo na consolidação e na manutenção do poder de João Lourenço e dos seus próximos.
Externamente, os efeitos não seriam menos devastadores. Uma eventual confirmação dos inquéritos contra o Presidente da República e seus aliados, nos Estados Unidos, descredibilizaria a narrativa de uma nova Angola. De forma mais definitiva e aos olhos de todo o mundo. Colocaria em causa a aproximação às potências ocidentais e respectivas instituições creditícias, deixando o país mais confinado do que jamais esteve no pós-guerra. Afinal, é preciso ter em conta que o governo de João Lourenço decidiu mandar recados incómodos para a China, logo no seu ano inaugural. E fê-lo com notável amadorismo político e diplomático, ao ponto de questionar a natureza da relação com o super-parceiro asiático, ao mesmo tempo que se ajoelhava na tribuna do Parlamento Europeu e tratava os Estados Unidos com inquestionável deferência. Isto significa, no fundo, que uma possível confirmação das investigações contra João Lourenço deixaria o país em risco de ver as relações esfriadas com os Estados Unidos, depois de as ter arrefecido por esforço próprio com a China.
Há, portanto, razões de sobra para que o país se sinta preocupado com as revelações da consultora Pangea-Risk. Até porque, como alerta a consultora, existindo indícios de práticas criminosas, o risco de as investigações serem travadas nos Estados Unidos é reduzido. Não apenas porque a administração de Joe Biden é teoricamente menos tolerante com a corrupção, mas também porque tem total desapreço por regimes de terceiro mundo que se mantêm entretidos com violações sistemáticas dos direitos humanos.
Dito isto, o mínimo que se espera, para já, é um pronunciamento do Governo ou do Presidente ou de alguém que fale por ele. É a única forma de manter, pelo menos, suspenso o discurso da liderança na moralização da sociedade, enquanto não surgem os esclarecimentos definitivos sobre as alegadas investigações nos Estados Unidos.
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