ANGOLA GROWING
Isabel Dinis

Isabel Dinis

O sistema de prevenção de branqueamento de capitais em Angola não tem “bons” prazos de resposta sobre as operações suspeitas, situação que pode resultar num alerta para o agente branqueador, avisou o jurista angolano Elvis Barros. O especialista em direito bancário cita o caso Unidade de Informação Financeira (UIF), referindo que as “deficiências” desta entidade, traduzidas em demoras nas respostas, podem prejudicar a relação entre os clientes e as instituições financeiras.

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Em declarações ao VALOR, durante o lançamento do seu livro, intitulado “O Sistema Angolano de Prevenção de Branqueamento de Capitais”, Elvis Barros declarou que, por norma, as respostas sobre operações suspeitas não demoram mais de uma ou duas semanas em outras realidades. “Para Angola, é mais desafiador pela falta de tecnologia e recursos humanos dar respostas com celeridade”, comparou, destacando também, como deficiência do sistema, o facto de ainda não fornecer “instrumentos concretos para se combater o mercado informal que tem uma dimensão significativa”.

Não obstante a esses três constrangimentos, o autor referiu que Angola tem um sistema “bem trabalhado que fornece mecanismos de identificação de clientes, de beneficiários e seus representantes, mecanismos de diligências para perceber a natureza das operações e obriga uma conservação da informação que é obtida durante o cumprimento dos deveres que são impostos pela lei. Permite também mecanismos de comunicação entre as instituições reguladas e a UIF”, enumerou.

Outro aspecto “positivo” referido por Barros é o facto de Angola ter sido retirada da lista cinzenta do GAFI (Grupo de Acção Financeira Internacional) e de atender às 40 recomendações da instituição.

Licenciado em Direito pela Universidade Autónoma de Lisboa e pós-graduado avançado em Direito Bancário pelo Centro de investigação de Direito Privado da Universidade de Lisboa, Elvis Barros é autor do Blogue de ‘Direito Financeiro’, dirigido a insiders da prática jurídica financeira.

COMÉRCIO. Nos primeiros seis meses do ano, trocas comerciais entre os dois países fixaram-se em cerca de 13,3 mil milhões de dólares, um crescimento de 16%.

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As compras da China a Angola aumentaram 13,7% durante o primeiro semestre deste ano, comparando ao período homólogo do ano passado, segundo os dados das alfândegas chinesas.

Durante os primeiros seis meses do ano, a China comprou a Angola petróleo no valor de 12,3 mil milhões de dólares, quando, no mesmo período do ano passado, as compras se cifraram em 10,8 mil milhões de dólares, depois dos 6,4 mil milhões de 2016. Na altura, registou-se uma redução de 21% face às compras chinesas de 2015, avaliadas em cerca de 8,2 mil milhões de dólares.

Por outro lado, no primeiro semestre do ano, as compras angolanas no ‘gigante’ chinês fixaram-se em cerca de 1,04 mil milhões de dólares, um aumento de cerca de 50% face aos cerca de 694 milhões do período homólogo.

Estes números fixam as trocas comerciais entre os dois países, no período em análise, em cerca de 13,3 mil milhões de dólares, um crescimento de cerca de 16% face os 11,5 mil milhões dos seis primeiros meses de 2017.

Neste período, a China comprou aos países africanos produtos no valor de 48,4 mil milhões de dólares, quando em 2017 as compras situaram-se nos 38,3 mil milhões de dólares.

A China tem sido um dos principais parceiros de Angola desde o pós-guerra. O país asiático tem financiado Angola em vários sectores da economia. Entre Janeiro e Novembro do ano passado, as trocas comerciais entre os dois países tinha aumentado 45% em relação ao mesmo período de 2016, chegando aos 20,65 mil milhões de dólares. As compras da China a Angola aumentaram 46,73%, atingindo 18,56 mil milhões, e Angola comprou de mercadorias 2,09 mil milhões de dólares, o que representou um acréscimo de 32,4% face a 2016.

INVESTIMENTO. Programa previa mais foco na substituição de importações e diversificação de exportações. Metas apontavam Abril para conclusão.

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O Governo falhou a meta de criação de um novo Programa Angola Investe (PAI), denominado PAI+, que figura como uma das principais medidas inscritas no programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição de Importações (PRODESI).

De acordo com as fichas de implementação das iniciativas que vêm anexas no PRODESI, publicadas no mês passado em Diário da República, a conclusão do PAI+ estava prevista para Abril, o que não foi verificado.

O VALOR contactou a directora do gabinete de comunicação institucional e imprensa do Ministério da Economia e Planeamento, Ana Celeste, que solicitou um e-mail, mas, até ao fecho desta edição, mostrou-se indisponível para responder às questões.

Nos planos do Governo, o PRODESI deve funcionar como um “impulso” à aclamada diversificação da economia no período 2018-2022. E dentro das medidas transversais que visam incentivar o investimento privado, o PAI+ surge “mais focado para a substituição de importações e diversificação de exportações”.

Segundo consta, o programa traria “produtos financeiros reestruturados e customizados à medida de cada um dos produtos prioritários da diversificação como, por exemplo, o financiamento de diferentes pacotes tecnológicos por tipo de cultura e localização geográfica”. Os acordos de convenção de vendas, com a dispensa de apresentação de projecto de viabilidade em casos concretos e o financiamento na modalidade de leasing também estão previstos.

O Angola Investe inicial foi criado em 2012 e visava o apoio e financiamento de projectos de investimentos às micro, pequenas e médias empresas, operado por bancos comerciais e coordenado pelo Ministério da Economia, com a parceria do Fundo de Garantia de Crédito. Incluía também, nas metas, a criação de 300 mil postos de trabalho e nove mil empresas até 2017.

Segundo o secretário de Estado da Economia, Sérgio Santos, citado pela Angop, em Junho, o programa tinha criado 515 projectos dos sectores da actividade económica, com a banca a disponibilizar cerca de 900 milhões de dólares para os projectos. Por sua vez, o Estado desembolsou recursos financeiros para sustentar a bonificação dos juros, a criação do Fundo de Garantia de Crédito e o Fundo Activo de Capitais de Riscos Angolano (FACRA), no valor de 450 milhões de dólares.

Durante o período vigente, o Angola Investe enfrentou críticas de vários empresários. O presidente da Confederação Empresarial de Angola (CEA), Francisco Viana, relatava, durante um fórum organizado pela instituição, em Junho, que tinha conhecimento que o programa enfrentava várias dificuldades. “Temos informações de que os bancos comerciais não estão a receber os reforços do fundo de garantias, nem os pagamentos compensatórios dos juros bonificados”, declarava.

Durante o fórum do CEA, realizado em Junho, Sérgio Santos revelou que o programa Angola Investe estava a “ser analisado e a ver-se a forma de ser reforçado”. Sérgio Santos reforçou que as decisões relativamente ao programa seriam tomadas em Julho.

O PRODESI tem, como objectivos principais, a diversificação da economia, o aumento da produção, a redução dos gastos de recursos cambiais, fundamentalmente com bens de primeira necessidade e a ampliação da entrada e diversificação das fontes de divisas, melhorando também o ambiente de negócios no país.

Outras metas de incentivo ao investimento no PRODESI

- Fomentar a criação de produtos financeiros nos sectores da banca e seguros;

- Estruturar linhas de crédito, fundos de garantia e fundos de investimento orientados para o programa;

- Fomentar a criação de produtos financeiros de hedging;

- Fomentar a criação de seguros de crédito de forma a proteger os negócios contra o risco comercial de não recebimento;

- Fomentar a criação de produtos financeiros de suporte à exportação em consignação;

- Fomentar a criação de produtos financeiros de apoio aos projectos de internacionalização de empresas angolanas;

- Incrementar o apoio financeiro à exportação de serviços;

- Criar mecanismos de financiamento do Estado contra a celebração de contratos programas;

- Criar incentivos e projectos concretos para reduzir o grau de informalidade das actividades económicas;

- Implementar um mecanismo de priorização da afectação de recursos cambiais aos programas prioritários da Diversificação da Economia;

- Definir o paradigma e implementar acordos para evitar a dupla tributação, priorizando a sua gradual implementação.

AVIAÇÃO. Operadora pública diz que não mexeu nas tarifas e atribui subida nominal dos preços ao câmbio flutuante e aos custos operacionais. A reclamações de clientes responde que políticas não mudam sem “um estudo aprofundado”.

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A transportadora aérea nacional justifica a recente subida dos preços dos bilhetes para os voos internacionais com a alteração do regime cambial e com os elevados custos operacionais. A TAAG responde assim às inúmeras reclamações de passageiros, recordando que as mexidas começaram precisamente após a implementação, em Janeiro, da taxa de câmbio flutuante pelo Banco Nacional de Angola.

Ao VALOR, Carlos Vicente, porta-voz da TAAG, esclarece, no entanto, que o aumento nominal dos preços não implicou uma subida das tarifas, uma vez que a companhia carece de competências para o efeito. “A questão é mesmo o câmbio flutuante. Os preços dos bilhetes somente podem ser alterados pelo Ministério das Finanças”, detalha.

De 15 a 30 deste mês, os preços da classe económica para Luanda-Lisboa, por 15 dias úteis, estão a ser praticados por cerca de 700 mil kwanzas. Para a classe executiva, nas mesmas datas, ficam acima de 1,3 milhões de kwanzas.

Diferente da TAAG, as companhias estrangeiras estão com preços menos elevados, pelo menos de acordo com os sites oficiais de algumas destas. A TAP, a segunda companhia usada por angolanos, cobra, na classe económica, 691 mil kwanzas. Na holandesa KLM, o bilhete par Lisboa custa 434 mil kwanzas, mas com escala por Amesterdão.

Na companhia de Marrocos, a Royal Air Maroc, a viagem custa 439 mil kwanzas, com uma passagem por Casablanca.

Carlos Vicente afirma desconhecer os critérios e as políticas de vendas “tão baratas” da Emirates em relação à TAAG e mostra-se surpreendido, já que as duas companhias sentem os mesmos efeitos com o câmbio flutuante.

Aos clientes da TAAG, que anseiam ver os preços reduzidos, o porta-voz da companhia avisa que esses “vão manter-se inalterados enquanto vigorar o regime flutuante”. Mas também enquanto a companhia não fizer um estudo de mercado sobre a viabilidade da alteração das tarifas. “Para rever as políticas, temos de fazer um estudo aprofundado. Não vamos baixar as tarifas de um dia para outro. Temos de ver a viabilidade”, argumenta.

Tarifas alvo de protestos

Em Fevereiro, um grupo de passageiros, descontentes com as tarifas da TAAG para as rotas domésticas, decidiu manifestar-se, exigindo uma redução. Na altura, o grupo manifestou-se principalmente por muitas rotas internas serem mais caras do que certos destinos internacionais, recorrendo a exemplos das viagens para São Tomé e Príncipe, Namíbia e África do Sul.

A TAAG, em resposta, anunciou a implementação de um mecanismo de gestão de tarifas nas rotas domésticas, prevendo a redução de até 20% do preço. Em comunicado, a transportadora esclareceu ter realizado um “estudo profundo e imediato nas políticas tarifárias” aplicadas na rede doméstica.

AVIAÇÃO. Resultados das inspecções podem ser entregues a Angola nas próximas semanas. INAVIC espera melhores resultados.

Aeroporto

Quatro peritos internacionais pertencentes à Organização Internacional da Aviação Civil (ICAO) realizam uma auditoria ao aeroporto de Luanda, no âmbito do Programa Universal de Supervisão e de Segurança, sete anos depois da última inspecção.

A auditoria, que termina amanhã, terça-feira, é considerada de rotina e permite avaliar as capacidades de supervisão em matérias de segurança dos Estados-membros. A última vez que o aeroporto internacional viu os peritos do ICAO foi em 2011. A instituição deixou, na altura, ao Instituto Nacional de Aviação Civil (INAVIC), um conjunto de recomendações para o reforço da segurança.

Estas directrizes foram sendo acatadas ao longo dos sete anos, garante o instituto. A auditoria pretende fiscalizar os aspectos de segurança aeroportuária, relacionados com o perímetro e os acessos, as interferências ilícitas e a revista que será feita a passageiros e bagagens.

“É uma segurança que começa no chão para avaliar como Angola lida com esses aspectos”, afiança o director do INAVIC, Rui Carreira, ao VALOR. O instituto garante que “está à vontade” com a auditoria que o ICAO está a realizar e acredita que vai obter “melhores resultados” do que os que foram alcançados há sete anos.

O relatório da auditoria ficará concluído e enviado a Angola nas semanas a seguir ao término da auditoria.

Lista ‘negra’ contestada

Angola tem contestado junto da Comissão Europeia a listagem que é feita em relação às 13 companhias aéreas angolanas proibidas regularmente de voar para aeroportos da União Europeia, por não respeitarem normas de segurança, com excepção da transportadora nacional, TAAG, mas esta, ainda assim, com limitações.

O INAVIC refere que as companhias aéreas, citadas regularmente desde 2007, operam apenas no espaço aéreo angolano, com excepção da TAAG e da Sonair, esta última com voos internacionais não regulares.

Rui Carreira critica também as notícias sobre a actualização das listas da Comissão Europeia, citando as transportadoras nacionais, que são divulgadas, desde 2007, de seis em meses. “Quando a lista é actualizada, os jornalistas escrevem como se de um facto novo se tratasse. Não é. Essas companhias são citadas duas vezes por ano”, esclarece.