TRIBUTAÇÃO. Diploma que regulamenta imposto de sisa e de sucessões e doações, na vertente de sucessões e doações, não sofreu alterações no extinto Projecto Executivo para a Reforma Tributária (PERT). Administração Geral Tributária (AGT) acredita que há necessidade em se rever as taxas do imposto sobre sucessões e doações por serem “muito elevadas” em relação aos que incidem sobre o património. As taxas sobre as sucessões e doações vão dos 10% aos 30%. Quando há transmissão pelo trato sucessivo de país para filhos ou vice-versa, as taxas suportadas são de 10% a 15%, percentagem superiormente ‘pesada’ em comparação a uma taxa de transmissão onerosa de apenas 2%. O cenário torna-se ainda mais ‘pesado’ quando as pessoas que estiverem no benefício de ser transmitido o bem móvel ou imóvel não são descendentes nem ascendentes. As taxas, nesses casos, vão desde os 20% aos 30%, um tecto considerado muito alto, quase equiparado às praticadas no imposto industrial, segundo a técnica da AGT, Carla Almeida. A especialista, que falava para profissionais e agentes imobiliários num encontro alargado sobre o sector, justificou que o valor das taxas em causa se deve ao facto de o diploma que a regulamenta não ter sido alvo de alteração durante a vigência do extinto PERT, reforçando, por isso, “ser urgente a revisão dos referidos códigos”. A matéria colectável para a avaliação desse imposto é o valor declarado do bem móvel ou imóvel, comparado ao valor da avaliação que a repartição fiscal realiza. O imposto sobre as sucessões e doações incide sobre a transmissão gratuita dos bens mobiliários e imobiliários. Esse imposto recai sobre o adquirente de um bem. Estão isentos de pagar, as heranças, legados, donativos e aquisições destinadas ao Estado, nomeadamente institutos públicos, museus, bibliotecas, escolas, hospitais, serviços municipais, instituições de caridade e beneficência. Estão também isentos, os partidos políticos ou coligações com assento na Assembleia Nacional, pensões pagas por instituições de beneficência e aquisições de propriedade literária artística. A competência para a liquidação desse imposto é da repartição fiscal de Finanças onde o domicilio do finado ou onde se tiver realizado o contrato de doação ou de qualquer outra natureza de que se dever.
Isabel Dinis
PESQUISA. Gestores de topo consideram que banco central deve melhorar gestão das divisas, ao mesmo tempo que avaliam fiscalidade como “pouco ou nada atractiva” na captação de investimentos. O estudo da EY declara que Cunene, Bié e Moxico são as províncias “menos atraentes” e que os empresários não estão virados para as fusões e aquisições. Uma pesquisa recente da consultora internacional Ernest & Young (EY) conclui que 68% dos gestores de topo consideram “desadequada” a abordagem do Banco Nacional de Angola (BNA) às empresas, em relação ao tema da escassez de divisas. Denominado ‘Angola e os desafios do futuro: o que pensam as empresas?’, o estudo destaca o ‘dilema’ entre a necessidade de gerir recursos escassos e a urgência de pagamentos internacionais, com a consultora a admitir que o resultado está “dentro do que a situação levaria a esperar”. Ou seja, das 50 respostas de gestores de topo, 34 consideraram a abordagem do BNA sobre a escassez de divisas “uma situação a melhorar”. O que os gestores pensam da gestão do BNA não difere muito da avaliação que atribuem à abordagem da Administração Geral Tributária (AGT), junto das empresas. Das 45 respostas, 48% consideraram o trabalho da AGT “desadequado”, 27% atribuíram nota positiva e 25% declararam-se “neutros”. O responsável da consultora em Angola, Luís Marques, refere, entretanto, que a AGT tem tido uma abordagem “mais interventiva na economia”, desde a fusão entre a Direcção Nacional de Impostos, o Serviço Nacional das Alfândegas e o Programa Executivo para a Reforma Tributária. Noutra matéria, os gestores entendem que a fiscalidade em Angola é “pouco ou nada atractiva”, quando se trata de cativar investimento privado, mas olham para os passos dados a nível da reforma fiscal como “globalmente positivos”, com menos de 18% da amostra a considerar que os impactos serão “pouco relevantes”. LUANDA LIDERA INVESTIMENTOS O estudo conclui ainda que 25% das intenções de investimentos das empresas angolanas, nos próximos três anos, recaem sobre Luanda, considerada como a província “mais atractiva”. Benguela Cabinda e Huambo seguem-se nas preferências dos investidores. Cunene, Bié e Moxico são as menos “apetecíveis”, das 117 intenções de investimentos, cada uma destas províncias recebeu apenas uma. O sector financeiro e a indústria petrolífera são as duas áreas onde os investidores planeiam investir nos próximos tempos, segundo o estudo. Neste aspecto, a consultora refere que houve dispersão de respostas relativamente a outros ramos a investir. “A dispersão de respostas parece indicar uma avaliação de existência de oportunidades num grande número de sectores, o que pode ser um bom indicador quanto ao papel que o investimento privado de origem angolana poderá vir a ter no processo de diversificação económica”, refere o estudo. A educação, saúde, programas de formação e flexibilização do regime cambial são as áreas em que as empresas mais gostariam de ver um esforço do investimento público, assinalam os consultores da EY. O financiamento não fica atrás, com as empresas a ansiarem por maior facilidade e benefícios fiscais ao investimento. “NADA” DE FUSÕES E AQUISIÇÕES Para as empresas angolanas, possíveis fusões e aquisições não fazem parte do foco estratégico para os próximos três anos, conclui ainda o estudo. Entre 111 respostas, sobre estratégia nas fusões e aquisições, apenas uma teve preferência por essa via, apesar de ser um mecanismo com potencial elevado de aceleração das estratégias de crescimento ou de consolidação financeira. A consultora afirma que o facto de as empresas não estarem para aí viradas “é um sinal de que existe espaço para sensibilizar as empresas angolanas de média dimensão para as vantagens e riscos, bem como para as competências necessárias para gerir este tipo de processo”. A pesquisa da EY obteve dezenas de respostas dos mais diferentes sectores, envolvendo apenas empresas angolanas e que operam em Angola. O inquérito electrónico esteve disponível entre Março e Abril.
BENEFÍCIOS. Atribuição de subvenção vitalícia ao ex-ministro do Ensino Superior, Adão do Nascimento, levanta questionamentos sobre a oportunidade da aplicação da Lei sobre o Regime Jurídico e o Estatuto Remuneratório dos Titulares da Função Executiva do Estado. O ministro das Finanças, Archer Mangueira, fixou uma subvenção mensal vitalícia de mais de 300 mil kwanzas ao ex-ministro do Ensino Superior, Adão do Nascimento, recentemente exonerado pelo Presidente da República. A subvenção mensal vitalícia foi fixada em 75% do vencimento-base mensal que Adão do Nascimento auferia, enquanto ministro. A subvenção é, segundo a Lei sobre o Regime Jurídico e o Estatuto Remuneratório dos Titulares da Função Executiva do Estado, atribuída ao vice-presidente da República, ministros de Estado, ministros, governadores provinciais, secretários do Conselho de Ministros e secretários de Estado. Beneficiam ainda dessa prerrogativa os vice-ministros, secretários adjuntos do Conselho de Ministros e os vice-governadores provinciais. O Presidente da República, no entanto, não é abrangido por essa lei. Mas a subvenção mensal vitalícia só é atribuída ao titular do cargo político que tenha exercido a função durante oito anos ou mais, consecutivos ou interpolados. A mensalidade é suspensa se o beneficiário reassumir a função ou o cargo que esteve na base da atribuição. É ainda retirada caso o beneficiário assuma um dos ofícios abrangidos pelo estatuto remuneratório, ou mesmo venha exercer o cargo de Presidente da República. Segundo a lei, o benfício pode ser suspenso se o respectivo titular assumir um cargo político não incluído na lei, mas que a remuneração seja não inferior à subvenção atribuída. A subvenção mensal vitalícia é acumulável com a pensão de reforma a que o respectivo utente tenha direito. Em caso de morte, a subvenção passa a ser recebida pelo cônjuge ou pelos descendentes menores ou incapazes e os descendentes que estiveram ao seu cargo. Subvenção ‘contestada’ O montante atribuído pelas Finanças a Adão de Nascimento, dois meses depois de ser dispensado do seu mandato que começou em 2012, criou alguma “polémica”nalguns círculos, principalmente nas redes sociais. O debate instalou-se por o país estar a passar por uma crise que obriga a cortes nas despesas e contraria a manutenção de subvenções vitalícias. O jurista Pedro Kaparakata defende a revogação dessa lei ou que se abra uma excepção para as pessoas que exerceram o cargo e não tenham meios para viver. O jurista diz, no entanto, que esse não é o caso de Adão de Nascimento, que ainda pode exercer a profissão e realizar outras actividades. “Para casos de pessoas cuja profissão pode ser exercida e estão em idade de exercer não se devia atribuir nada em absoluto, porque já merecem de estatuto e já acumularam algum dinheiro”, defende. Pedro Kaparakata considera que, nesta fase em que o país enfrenta uma situação de carência de receitas, em que está a suprir situações mais gritantes da saúde e do ensino, era aconselhável que “se lançasse mão ao que requer mais custos da parte do Estado do que subvencionar pessoas que podem viver por si”. O Jurista acredita que a lei deve ser para todos e que todos deviam apenas ganhar a pensão a que têm direito, que, genericamente, requerem 30 anos de trabalho. Ideia contrária tem a jurista Ana Paula Godinho, que não se incomoda que se atribuam subvenções vitalícias de modo a dignificar as pessoas, sobretudo, se prestaram serviços ao Estado. A jurista salientou que apenas não “acha correcto que só se atribuam benesses a uns e não a outros”. “Se vamos atribuir essas benesses aos titulares dos cargos públicos, temos de fazer com toda a gente. Não é só atribuir aos que exercem cargos públicos sem atribuir aos outros.”
10 milhões USD em fabricação de postes
INDÚSTRIA. Investimento vai ser instalado na Zona Económica Especial de Viana e prevê criar 68 empregos directos. Operadores nacionais serão os principais clientes. A empresa angolana Tidiane Trading vai investir mais de 10 milhões de dólares numa unidade fabril para a produção de postes de iluminação pública e monoblocos, segundo contrato de investimento assinado com a Unidade Técnica para o Investimento Privado (UTIP). A fábrica vai ser instalada na Zona Económica Especial de Viana e os principais clientes deverão ser os operadores nacionais do sector da energia eléctrica. A empresa afirma que pretende ser uma “unidade de referência no mercado angolano”, e diz-se disposta a “estabelecer relações de longo prazo e de confiança com parceiros nacionais e internacionais”. Do montante global, de acordo com os termos do contrato com a UTIP, cinco milhões de dólares serão alocados na aquisição de máquinas, equipamentos, acessórios e outros meios fixos. O projecto de investimento prevê criar 68 postos de trabalho directos, sendo 60 para nacionais e oito para estrangeiros. A implementação do projecto vai beneficiar, segundo a Lei do Investimento Privado, de incentivos fiscais e aduaneiros, como a redução em 37,5% do pagamento do imposto industrial, por um período de seis anos. Vai contar também com a redução em 37,5% do imposto sobre a aplicação de capitais, por seis anos e ainda a redução de 37,5% do pagamento do imposto de sisa, por igual período. As tarefas necessárias ao desenvolvimento do projecto ficam, desde já, repartidas. A UTIP vai apoiar na obtenção de licenças e de outras aprovações, o Ministério da Indústria vai proceder ao licenciamento e facilitar as condições que garantam o equilíbrio funcional do projecto e o Ministério do Comércio responsabiliza-se pela emissão de alvarás e outras licenças. A execução do investimento deve ter início em Agosto deste ano, segundo o contratualizado, mas a investidora avisa que as datas para o arranque do projecto estão condicionadas à obtenção de licenças ou autorizações administrativas.
SAÚDE. Responsável de Serviços de Assistência Médico Social escusou-se a avançar os nomes das instituições em dívidas, mas VALOR apurou que entidade mantém protocolos com BPC, BCA, BAI e BIC. O Banco Nacional de Angola é considerado como o único cumpridor. Os funcionários de bancos comerciais angolanos que recebiam assistência médica e medicamentosa em Portugal, por via dos Serviços de Assistência Médico Social (SAMS), encontram-se actualmente desprovidos do serviço por falta de pagamentos, há cerca de um ano, dos montantes acordados. A informação foi prestada, ao VALOR, pelo presidente do SAMS e do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, Rui Riso, que, sem avançar valores, reforçou que os prazos de pagamento, previstos nos protocolos rubricados entre as partes, não estão a ser cumpridos e que, por conta disso, “a assistência programada deixou de ser prestada”. “Estamos apenas a prestar assistência urgente e emergente, mas a assistência programa não podemos prestar. Estamos a insistir com eles (bancos) que, quando nos mandam doentes, nos mandem pagamentos”, referiu. Rui Riso preferiu não especificar quais os bancos que têm protocolos com o SAMS, mas frisou que a instituição que dirige só não tem tido problemas de pagamento com o Banco Nacional de Angola (BNA). O VALOR verificou, no entanto, através da página oficial do SAMS, que a entidade mantém protocolos com o Banco de Poupança e Crédito (BPC), Banco Comercial Angolano (BCA), Banco Angolano de Investimentos (BAI) e o Banco BIC. Os pagamentos são feitos de forma mensal e o valor da factura deve ser pago até 60 dias após a emissão. O protocolo mais antigo foi feito com o BNA que é descrito como uma entidade que “sempre honrou os seus compromissos” com o SAMS. Em relação à situação das outras instituições bancárias, a situação se “agrava”, porque os bancos costumam mandar muitos doentes cujos tratamentos chegam a custar muito caro e são “muito violentos”, especifica o presidente do SAMS. “Há tratamentos que os hospitais do SAMS não fazem aos beneficiários, porque há o Serviço Nacional de Saúde Portugal e há um conjunto de doenças que custa muito dinheiro e as pessoas vão ao hospital de referência para se tratar.” Os tratamentos muito dispendiosos têm que ver com os serviços de oncologia e implantes, entre outros. O SAMS, para além de Angola, mantém também relações com outros Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Angola é descrita como o país que mais doentes tem mandado, através de protocolos. Depois do público-alvo a que é destinado, os serviços de saúde estão a reduzir por conta de despedimentos e falta de novas contratações na banca portuguesa, estando actualmente a virar-se cada vez mais para o mercado para garantir a sustentabilidade, sendo que hoje 30% das receitas já são provenientes do sector não-bancário. Rui Riso declarou que o SAMS está aberto à cooperação com os sindicatos não-bancários dos PALOP, com condições diferentes. “O foco é ter sempre mais clientes além do universo dos bancários”, explica. O sindicalista referiu que, antes da abertura ao exterior, houve um período mais “crítico” para o SAMS, com uma taxa de operação do hospital na casa dos 65%. Actualmente estão a crescer a 2% ao ano. RELAÇÃO COM OS PALOP A relação dos Serviços de Assistência Médico Social (SAMS) com Angola e os outros PALOP começou com os sindicatos. Na altura, as condições previam tratamento, sem custos até a um certo limite, a qualquer trabalhador bancário desses países que estivesse em Lisboa. Com o passar dos anos, os protocolos foram ajustados. “Não era possível continuar a gratuitidade, porque os recursos que tínhamos era de portugueses e de bancos portugueses e não podíamos aplicar em grande quantidade na cooperação internacional. E os protocolos começaram a estar desajustados a realidade”, explica. O protocolo com o Banco Nacional de Angola (BNA) foi o primeiro das relações da entidade com Angola e revisto por volta de 2010, por causa do sistema “generoso” do BNA. “O BNA mandava os doentes para Portugal e, quando tivessem alta, já não queriam regressar a Angola e acabaram por fazer a vida por aqui, com subsídios pagos do banco em Angola e Lisboa”, denunciou, salientando, no entanto, que o protocolo a seguir “aboliu tudo isso”. O SAMS tem uma clínica apetrechada com tecnologia de ponta, com médicos fixos. O centro clínico, localizado em Lisboa, regista 600 mil consultas por ano, com 50 especialidades e cinco mil pessoas por dia, aberto também ao público em geral. O hospital tem uma procura do público em geral entre os 25% e os 30%.
JLo do lado errado da história