Isabel Dinis

Isabel Dinis

INDÚSTRIA. Fábrica de concentrado de tomate na Huíla, parcialmente detida pelo Estado, clama por financiamento adicional aos 10 milhões USD de fundos públicos que recebeu há quase uma década.

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Uma década após beneficiar de um financiamento público de 10 milhões de dólares para reactivar as suas actividades, a Sociedade de Desenvolvimento da Matala (Sodmat), vocacionada para o processamento de tomate, continua paralisada. A empresa precisa de cerca de 1,5 milhões de dólares para arrancar, declarou, ao VALOR, o presidente do seu conselho de administração, Cipriano Ndulumba.

O montante serviria para a montagem de uma linha de embalagens e outros equipamentos, conclusão a que se chegou após um diagnóstico, realizado em 2015, por três empresas estrangeiras e uma nacional para se determinarem as condições necessárias ao reinício da produção.

O Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) financiou a reactivação da unidade, paralisada desde os anos 1980, com 10 milhões de dólares. O Estado detém 30% do capital da Sodmat, distribuindo-se o restante por entidades privadas.

Segundo o responsável da Sodmat, o empreendimento já tem cerca de 75% de nível de execução e o investimento adicional necessário para a conclusão é “aceitável” e até “muito abaixo do que o BDA já investiu”.

Ndulumba garante que o básico para a retoma está feito, mas alerta que, segundo o resultado do mesmo diagnóstico, alguns equipamentos já instalados são considerados semi-industriais e estão, por isso, ultrapassados.

Em 2011, a Sodmat tentou resolver a inoperância colocando o empreendimento a concurso público, mas as empresas interessadas na sua gestão debatem-se até hoje com a falta de divisas, dado que os equipamentos necessários para o funcionamento têm de ser importados. “Há muitas empresas interessadas, mas todas encontram o problema dos cambiais”, declara o responsável, para quem o investimento numa fábrica de concentrado de tomate é um dos melhores que se pode fazer no país, devido ao excesso da principal matéria-prima.

Os produtores no perímetro irrigado da Matala e de outras províncias produtoras de tomate receberam com particular satisfação o anúncio, em 2009, da reinauguração da unidade fabril. Viram no desenvolvimento uma saída para as enormes quantidades do produto que se deterioram todos os anos, por dificuldades de escoamentos.

Com capacidade para processar 12.500 toneladas de tomate fresco por ano, a fábrica da Matala foi montada em 1960 e encontra-se inoperante desde 1980.

SECTOR RODOVIÁRIO. Proposta enviada pelo Ministério dos Transportes ao Ministério das Finanças prevê um aumento para os 150 kwanzas. Mas Governo ainda não divulga quem vai suportar o aumento.

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A tarifa dos transportes públicos urbanos vai sofrer um aumento com a esperada aprovação da proposta do Ministério dos Transportes remetida ao Ministério das Finanças, revelou a directora do Instituto Nacional dos Transportes Rodoviários, Noélia Costa. Actualmente, o bilhete custa 90 kwanzas por viagem e é subvencionado em mais de 66% pelo Estado. O passageiro paga 30 kwanzas e o Estado cobre os restantes 60 kwanzas. A proposta remetida a8o Ministério das Finanças propõe um aumento da tarifa acima dos 66% para os 150 kwanzas.

O último aumento oficial do custo dos transportes públicos verificou-se em Maio de 2005, quando o bilhete passou de 25 kwanzas para 30 kwanzas. No início do ano passado, algumas operadoras, sem aviso prévio aos passageiros, passaram a cobrar o preço de 50 kwanzas, situação que causou embaraço a quem faz o uso regular dos autocarros.

Noelia Costa não revelou quanto será a participação do Estado e dos passageiros com a aprovação da proposta pelos dois sectores, assim como não avançou uma data específica para a aprovação do documento. “Infelizmente, não depende só do sector dos transportes. Há dois sectores envolvidos, as Finanças e os Transportes. A proposta já foi remetida, aguardamos apenas a decisão para a nova tarifa”, declarou. A proposta do aumento dos preços dos bilhetes surge numa altura em que as operadoras, incluindo a estatal TCUL (Transportes Colectivo e Urbanos de Luanda, consideram que a tarifa praticada actualmente não cobre os custos operacionais. Noélia Costa adianta que o problema da TCUL não é exclusividade da companhia, mas do sector dos transportes em geral, como os caminhos-de-ferro e dos transportes marítimos.

Cortes nas subvenções

No início do ano, o VALOR noticiou que o Estado pretendia rever o programa de subvenção dos bilhetes dos transportes, no âmbito do ‘Programa de Optimização de Subsídios’, de acordo com fontes dos Ministérios das Finanças e da Economia. Caso o programa se concretizasse, os passageiros poderiam pagar a ‘factura real’ para o consumidor, que chegaria aos 200 kwanzas.

O Instituto Nacional dos Transportes Rodoviários não revelou qual será o pagamento da tarifa por parte do utente nem a subvenção do Governo, apenas que haverá um aumento da tarifa para os 150 kwanzas por viagem com a aprovação da proposta.

INDÚSTRIA TÊXTIL. Ministra da Indústria admite que o pelouro não tinha competência para conceder direitos de superfície e que o processo de entrega das unidades a privados está eivado de “vícios procedimentais”. Em causa estão projectos cuja reactivação orçou 1,2 mil milhões de dólares.

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O Ministério da Indústria e o Instituto de Desenvolvimento Industrial (IDIA) admitiram terem sido “incompetentes em absoluto” na entrega das instalações de três unidades estatais a empresas privadas para gestão, num processo que envolve investimento estrangeiro de 1,2 mil milhões de dólares.

Em despacho datado de 15 de Setembro, a que o VALOR teve acesso, a ministra da Indústria refere que a entrega, em 2013, das instalações da África Têxtil, Satec e Textang à Mahinajethu SA, Nova Textang II e a Alassola SA, respectivamente, está enfermada de “vícios procedimentais” e, por essa razão, as adjudicações são nulas. Bernarda Martins sublinha que a resolução é “título bastante para a autoridade competente proceder ao averbamento da nulidade dos actos notariais e de registo que possam ter sido praticados” durante o processo.

A Mahinajethu SA, Nova Textang II e a Alassola SA assumiram a gestão daquelas unidades têxteis que estiveram paralisadas durante vários anos, e beneficiaram de uma linha de financiamento do Japão para a sua reactivação, em 2013.

No despacho datado de 15 de Setembro, Bernarda Martins admite que o seu pelouro não teve competências para conceder direitos de superfície, ao abrigo da Lei de Terras de 2004 e o seu regulamento, tendo revogado os actos administrativos de adjudicação e celebração de contratos com as mesmas.

O documento revogou também o termo de entrega e promessa de concessão de direitos de superfície, assinado em Setembro 2013, sobre 90 mil metros quadrados de parcelas de terrenos localizados no Kwanza-Norte à Sociedade Mahinajethu, de 167 mil metros quadrados em Benguela, à Alassola, e de 140 mil metros quadrados no Cazenga, em Luanda, à Nova Textang II. No mesmo despacho, a agora reconduzida ministra ressalta que a adjudicação e celebração dos contratos teve como contrapartes entidades que não participaram no procedimento pré-contratual, o que torna a Mahinajethu, Alassola e a Nova Textang II “partes ilegítimas da relação jurídico- contratual”.

As empresas tinham até sexta-feira última, 29 de Setembro, 15 dias para reverterem o controlo das respectivas unidades ao Ministério da Indústria, tendo sido advertidas a não obstaculizar a entrada nas instalações de representantes seus. Estavam ainda obrigadas a entregar as instalações, os activos móveis e imóveis “em boas condições de conservação”, “considerando o investimento feito pelo Estado na recuperação” das mesmas.

O investimento estatal para a reactivação da África Têxtil, Satec e Textang totalizou perto de 1,2 mil milhões de dólares provenientes de um financiamento do Japão desde 2013, segundo o ‘Jornal de Angola’. A apostava visava a modernização, apetrechamento e ampliação destas unidades estatais.

Os gestores

A SATEC tem como presidente do conselho de administração Matos Cardoso, gestor demitido da Feira internacional de Luanda (FIL) e actualmente alvo de dois processos judicias movidos pelos trabalhadores e pelo Estado angolano, respectivamente, sob alegação de incumprimentos salariais e gestão danosa de bens públicos.

A Nova Textang II é presidida por Hélder David, enquanto a África Têxtil (mais conhecida por Alassola) tem como PCA Tambwé Mukaz, um angolano formado em Medicina Veterinária na Faculdade Agrária do Huambo.

As unidades entregues à gestão privada foram dois anos depois extintas, num processo que levou os respectivos trabalhadores a reivindicarem o pagamento de indeminizações. Em recente entrevista ao VALOR, representantes do sindicato dos trabalhadores da antiga Textang acusaram o Ministério da Indústria e o Instituto de Fomento Empresarial (ISEP) de não pretenderem o pagamento de indemnizações, uma vez que as duas instituições divergem sobre a quem cabe essa responsabilidade. Certo é que os trabalhadores continuam sem receber quaisquer indemnizações.

Sem produtos no mercado

Das três unidades fabris, apenas a Nova Textang II iniciou, em Fevereiro, a produção e comercialização de tecido. A Satec e a África Têxtil continuam em fase de testes, os quais previam terminar em Julho do ano passado. A reactivação das mesmas passava pela importação na totalidade da sua principal matéria-prima, o algodão, visto que Angola deixou de produzir essa commodity.

A aposta do Estado nas três fábricas decorreu das iniciativas do Governo de diversificação da economia e captação de receitas. O VALOR vai continuar a seguir o processo em próximas edições.

INFRA-ESTRUTURAS. Zonas de risco de Luanda e Benguela vão beneficiar de obras estruturantes. Consórcio QinjianGroup/MCA foi escolhido pelo Governo para a recuperação e construção dos projectos.

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O Governo prevê gastar 666,8 milhões de dólares na adjudicação do Programa Emergencial de Intervenções Estruturantes, para a construção de 1.750 habitações sociais, além de infra-estruturas nas encostas das cidades do Lobito, Catumbela, em Benguela, e ao longo da Estrada da Samba, em Luanda, segundo documentos oficiais consultados pelo VALOR.

O Programa Emergencial de Intervenções Estruturantes foi aprovado em Agosto em Conselho de Ministros e os respectivos contratos aprovados pelo Presidente da República recentemente. A actuação do programa inclui acções a realizar em áreas de risco para as populações.

Para a construção das 1.750 habitações sociais e as infra-estruturas internas para o realojamento nas cidades do Lobito e Catumbela, foi aprovado um contrato a ser celebrado com o consórcio QinjianGroup/MCA por 239,7 milhões de dólares. O mesmo consórcio que deve receber 143,1 milhões de dólares para a estabilização e regeneração das áreas de risco nas encostas do Lobito e via de contorno da encosta Lobito a Catumbela.

O consórcio foi também escolhido para realizar as obras de macrodrenagem nas cidades do Lobito e Catumbela e as intervenções nas encostas da estrada da Samba, em Luanda. A primeira por um montante de 124,6 milhões de dólares, ao passo que a segunda empreitada fica por 159,3 milhões de dólares.

Segundo um inquérito da representação das Nações Unidas em Angola em parceria com uma ONG, nas cidades de Cabinda, Luanda, Benguela e Lobito, cerca de 10% da população vive em zonas de risco. O inquérito conclui que o aumento da variação climática agravou o problema nos últimos 60 anos, com as chuvas e as tempestades intensas a causarem inundações. Os últimos estragos causados pelas chuvas às populações que viviam em zonas de risco ocorreram em 2015, com cerca de 100 mortos e nove mil desalojados, em Benguela.

MAIS DE 3 MIL MILHÕES PARA FISCALIZAÇÃO

Os contratos de adjudicação da construção das habitações e de obras estruturantes nas encostas da Samba e do Lobito vão ser feitas por três diferentes empresas, segundo as minutas de contrato.

No total, com a fiscalização das obras, o Governo vai gastar acima de 3,319 mil milhões de kwanzas, envolvendo as empresas Tecnoenge, Engenharia (1,193 mil milhões de kwanzas), Jaua-transportes e Logística (1,332 mil milhões de kwanzas) e o grupo Proenge Engenharia (793 milhões de kwanzas).

DIREITOS DO CONSUMIDOR. Apesar do aumento considerável de denúncias em relação ao ano passado, a associação de defesa do consumidor ainda considera os números “insatisfatórios”.

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A Associação Angolana dos Direitos do Consumidor (AADIC) recebeu, entre Janeiro e princípio de Setembro deste ano, mais de 4.300 denúncias de violações dos direitos do consumidor, contra as cerca de três mil recebidas no mesmo período do ano passado.

A informação é do director adjunto do gabinete jurídico da AADIC, Jordão Coelho, segundo o qual a educação lidera as denúncias dos consumidores, seguida da banca e das telecomunicações.

Só no mês passado, o sector líder das reclamações obrigou a mais de 200 queixas de estudantes de apenas uma universidade, cujo nome a AADIC se recusou a avançar “por se tratar de um processo ainda em curso”.

Os estudantes reclamavam o aumento de uma cadeira que não fazia parte do programa curricular e o pagamento de 10 mil kwanzas. A associação repudia a atitude da instituição, afirmando que está por dentro da situação.

Entretanto, a banca foi considerada pela associação como o sector mais “problemático”, devido à crise das divisas e às restrições que os bancos têm imposto nos levantamentos de dinheiro.

Apesar do aumento de reclamações, Jordão Coelho diz que ainda há muito trabalho por se fazer e que os números de denúncias não satisfazem. “Não queremos ter mais reclamações, queremos também consciência por parte do cidadão. É essa a nossa missão, que os consumidores angolanos tenham consciência dos seus direitos”, apelou.

O dirigente associativo declarouque, das denúncias feitas, houve muitas que, “felizmente”, foram resolvidas. Nas telecomunicações, terceiro sector com mais reclamações este ano, a instituição afirma que não é legal, “como acontece muitas vezes”, que as operadoras determinem prazos de carregamento, sendo constituída uma cláusula abusiva, segundo a lei de defesa do consumidor. “Estamos diante de um atropelo significativo, sendo considerado um roubo”, reafirma Jordão Coelho.

Em relação à alegada existência de alimentos de plásticos no mercado nacional, de que muito se falou e se tornou viral nas redes sociais, a AADIC considera que se deveria exigir mais laboratórios além do estatal. A associação diz que, à parte aos alimentos, há cada vez mais medicamentos contrafeitos a entrar em Angola, que merecem “outro olhar das instituições”.

LIVRO DE RECLAMAÇÕES “TÍMIDO”

Muitos estabelecimentos comerciais, e não só, ainda não implementaram o livro de reclamações, por falta de informação desde que começou a vigorar em Março último, declara a AADIC.

O livro destinado às instituições que comercializam bens e prestam serviços públicos e privados ainda está com uma adesão pelas instituições relativamente “tímida”.

Disponibilizados cerca de 50 mil exemplares, o livro ainda não se tornou hábito nem para os consumidores, nem para as empresas. A AADIC acredita que é preciso que a entidade responsável, o Instituto Nacional de Defesa do Consumidor (INADEC), faça uma campanha porta-a-porta para que os destinatários estejam informados.