Isabel Dinis

Isabel Dinis

INVESTIGAÇÃO. Maioria dos agricultores não realiza estudos dos solos antes da produção. Análise só é feita depois de perdidads avultadas somas de dinheiro. Laoratórios que poderiam fazer as análises foram inaugurados e não funcionam por falta de técnicos.

 

A metodologia de tratamento dos solos, usada pelos agricultores de Cacuaco, “é errada”, o que faz com que os solos estejam empobrecidos, refere um estudo publicado em Luanda pela investigadora Márcia Gaspar, ligada ao laboratório central do Ministério da Agricultura.

Denominado ‘A Fertilidade dos solos predominantes em Angola’, o estudo explica que os pequenos agricultores realizam a fertilização, a cada cultura, e que nesse processo, devido à salinidade, a decomposição da matéria-prima orgânica não é feita de modo a que as culturas absorvam nutrientes.

Com uma agricultura predominantemente familiar, feita por centenas de agricultores, a zona da Funda e Sequele produz essencialmente hortícolas e tubérculos, que abastecem essencialmente os mercados do ‘Sábado’ e do ‘30’, em Viana, Luanda. A autora do estudo, em conversa aberta na estreia do projecto ‘StartupGrind’, realizado pela empresa Acelera Angola, em Luanda, frisou que a maioria dos agricultores em Angola não realiza estudos dos solos antes de investir em projectos agrícolas. Como resultado, muitas vezes, perdem-se “avultadas somas de dinheiro, na produção de culturas que não deviam ser feitas em determinadas zonas”.

A investigadora explica, por isso, que, para o caso de Cacuaco, o problema dos solos pode ser amenizado com uma análise prévia antes da produção, conservação e a calagem que reduz a acidez para diminuir a degradação. Márcia Gaspar afirma que pretende ampliar a investigação para outras províncias de modo a contribuir para que os pequenos agricultores não percam investimento em culturas que não são propícias para determinadas localidades.

Apenas dois laboratórios funcionam

A análise e a avaliação dos solos em Angola só podem ser feitas em dois laboratórios, porque muitas destas unidades, em quantidade que a pesquisadora não soube avançar e que foram montadas e inauguradas, estão fechadas por falta de recursos humanos.

Dos laboratórios que existem no país para análises de solos apenas dois funcionam, sendo um em Luanda e outro no Huambo. No de Luanda, trabalham apenas oito técnicos químicos, que fazem as análises das restantes províncias.

O Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA) é uma das instituições com laboratórios de análises de solo que não funcionam por falta de recursos humanos, segundo a agrónoma Márcia Gaspar.

A própria engenheira admitiu que não se formou nessa área e que, quando começou a trabalhar, não sabia o que ia fazer. “Consegui praticando”, confessa, comentando que, normalmente, no país, quem estuda Engenharia Química vai trabalhar nas petrolíferas. “Em Angola, se uma entidade decidir abrir um laboratório e procurar por técnicos para trabalharem em solos, é difícil encontrar”, observa, referindo à carência de recursos humanos qualificados.

ENSINO. Ministério do Ensino Superior lançou radiografia daquilo que são os custos e financiamentos do Ensino Superior em Angola. Estudo revelou que os custos mensais de vida dos estudantes estão acima dos 80 mil kwanzas.

 

Em termos médios, os custos de educação em quatro anos dos estudantes do ensino superior rondam os 1,2 milhão de kwanzas, tendo como base o valor anual médio de 330 mil kwanzas. A conclusão é do relatório denominado ‘Estudo sobre os custos e o financiamento do Ensino Superior em Angola’, lançado pelo Ministério do Ensino Superior, com financiamento do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD).

As despesas com as propinas são a parcela com mais impacto nos gastos, seguida de equipamentos, como computadores, microscópios, visitas de estudo, outras despesas anuais relacionadas com a educação, entre outros. No que se refere às despesas anuais com propinas, o valor médio mais elevado regista-se na primeira região académica (Luanda e Bengo), nas ciências da saúde e no ensino privado.

Os custos anuais com equipamentos como computadores, microscópios e visitas de estudo registam valores mais elevados na terceira região académica (Cabinda e Zaire), na saúde e no ensino público. O estudo revelou ainda que os custos de vida dos estudantes rondam os 82.500 kwanzas. As despesas com o alojamento e a alimentação são as parcelas com mais impacto em seis itens avaliados. A alimentação, transporte, telefone e outras despesas pessoais fazem também parte da lista dos custos.

Segundo apurou o estudo, mais de 63,8% dos estudantes angolanos moram com os pais, 21,5% vive em habitação arrendada, apenas 9,5% vive em casa própria, 1% em casa universitária e o resto dos inquiridos não respondeu.

Em relação ao rendimento do agregado familiar, o estudo revela que 55% dos estudantes declaram que vivem com dificuldades, 37% vivem razoavelmente e apenas cerca de 8% afirmam que o rendimento dá para viver bem ou muito bem. Os estudantes das ciências da educação registam os rendimentos mais baixos, sendo que o rendimento mais elevado tem importância na escolha da instituição do ensino superior. Os alunos com rendimentos mais elevados frequentam as instituições privadas, em detrimento das públicas, e foram os que melhor avaliaram o “conforto com que vivem”.

Apenas 22% contraíram empréstimos

Apenas 22% dos estudantes inquiridos declaram, no estudo, que contraíram um empréstimo para financiar a formação, sendo que a maior parte (63%), foi pedida em 2015. Cerca de 52% não recorreram aos bancos, mas a outras entidades não identificadas no relatório. O montante médio dos empréstimos foi de aproximadamente 400 mil kwanzas.

Os valores médios mais elevados observaram-se na terceira e sexta regiões académicas (Huíla, Namibe, Cunene e Kuando-Kubango), na área científica da saúde e no ensino privado.

O baixo pedido de empréstimos para financiar os estudos deveu-se essencialmente à falta de condições financeiras e ao medo de contrair dívidas.

ESTADO DEVE SUPORTAR ENSINO SUPERIOR 

A maioria dos estudantes inquiridos (83,3%) acredita que deve ser o Estado a suportar maioritariamente os encargos com o ensino superior e as empresas devem financiar o ensino superior para terem acesso à mão-de-obra qualificada.

O valor médio que os estudantes consideram adequado para a propina anual fixa-se em torno dos 200 mil kwanzas. A média mais elevada observa-se na sétima região académica (Uíge e Kwanza-Norte). O estudo sobre ‘Custos e o Financiamento do Ensino Superior’ foi elaborado entre Setembro e Outubro do ano passado, através de um inquérito por questionário autoadministrado.

O estudo foi feito a nível nacional, com aplicação de cerca de mil questionários.

PEQUENOS NEGÓCIOS. Feira do empreendedorismo juntou mais de quatro dezenas de jovens inovadores de vários cantos do país, no penúltimo sábado, em Luanda. Apesar de perdas de 37%, face ao valor investido, organizadores garantem que o objectivo não era o lucro e que a iniciativa deve repetir-se anualmente.

 

São jovens, uns com negócios já montados e outros apenas com uma ideia, que pode ser um “grande” projecto ou apenas um conceito inovador. Das artes, a prestação de serviços e energia renovável, a feira de jovens empreendedores, organizada pelas empresas de comunicação ‘Jovens da Banda’ e Neovibe, juntou, num único espaço, em Luanda, 42 empreendedores de diversas partes de Angola.

Durante a feira houve quem fosse para comprar, outros por curiosidade e ainda quem fosse à procura de um primeiro emprego. A empresa Allora, de capitais 100% angolanos, foi das que aproveitou a feira para divulgar os seus serviços e captar futuros colaboradores. Com o objecto principal centrado no fornecimento de pessoal especializado e na formação de recursos humanos, a empresa recebeu, durante a feira, uma dezena de currículos de jovens interessados em trabalhar.

Moisés Kuvula, representante da Allora, fez saber que os apurados na feira e não só beneficiarão de uma pequena formação na área em que melhor estiverem habilitados, para depois serem encaminhados para uma empresa que necessite de funcionários.

A empresa, que já funciona há cerca de ano e meio, tem vários casos de sucesso, apesar de, nos últimos tempos, os recursos financeiros estarem escassos para aprimorar a expansão das actividades, como lamenta Moisés Kuvula.

Com passos “firmes” para se tornar num caso de sucesso, está também a confeccionista de bijuterias, Nilsa Chitomba, que transformou o “hobbie” em trabalho e meio de sustento. A jovem começou a confeccionar bijuterias há mais de 16 anos, com os restos de pano da mãe, que era modista, tendo-se tornado num caso de sucesso nas redes sociais. Fios, brincos e pulseiras, feitos de pano ou de missangas, conquistaram quem pasosu pela sua página nas redes sociais e pela sua bancada na feira. Os preços dos produtos variam entre os mil e os quatro mil kwanzas e os principais clientes são jovens mulheres.

O material usado por Nilza Chitomba provém da China e Portugal e, ao contrário das empresas que têm dificuldades de importar, a jovem garante que consegue trazer a matéria-prima “numa boa”, porque são peças pequenas e cabem numa pasta feminina. Com objectivo de um futuro de sucesso, a confeccionista, que já emprega sete pessoas, pretende aumentar o número de trabalhadores e a divulgação da sua página nas redes sociais.

Presente na feira e que despertou a atenção de muitos esteve também o jovem inventor Miguel Pereira, oriundo de Nambuangongo, Bengo. Com um projecto de energia renovável, usando combustível biológico em frutas e em excrementos de seres humanos e de animais, o jovem pretende “iluminar” o seu município. Miguel Pereira diz que começou a ter “ideias inovadoras” muito cedo, quando percebeu que podia “dar outra vida” a Nambuangongo, onde, segundo ele, “há pessoas que nunca viram luz eléctrica, carros e quando vêem um avião fogem”.

O projecto ainda não teve nenhum estudo de viabilidade, mas o jovem garante que funciona e custa “muito pouco”. E, apesar de ter despertado a atenção dos presentes na feira, nunca recebeu uma resposta concreta de financiamento. “As pessoas estimam e encantam-se com o projecto. Dizem que é o melhor das feiras que já passaram, mas não passa disso. Nunca ninguém quis efectivar o meu projecto”, lamenta. De qualquer forma, e porque “a esperança não morre”, o jovem empreendedor diz que vai continuar a mostrar a sua invenção até que apareça algum financiador.

As oito integrantes do projecto ‘Muarte’, cujo objectivo passa por mostrar que as mulheres angolanas podem fazer arte, também conversaram com o VALOR. Apesar de ter sido criado recentemente (no princípio do ano), o projecto tem sido “muito bem recebido pelo público”, segundo a sua mentora, Inês Molina. Com idades entre os 18 e os 25 anos, as integrantes pretendem levar ao debate temas como a raça, a cor e os costumes. Os quadros expostos na feira variavam entre os 30 mil e os 180 mil kwanzas.

MAIS GASTOS QUE RECEITAS 

A organização da feira custou às empresas promotoras 1,325 milhão de kwanzas, conforme orçamentado, o que implicou perdas na ordem dos 37%, com as receitas a fixarem-se nos 835 mil kwanzas. Os organizadores dizem, no entanto, que o objectivo do evento não é o lucro, mas antes “permitir que os jovens mostrem trabalho”.

Os promotores pretendem que o evento passe a ser anual e já têm na forja a criação de um canal de “divulgação do trabalho e talento dos jovens”, como declarou o director da revista ‘Jovens da Banda’, Deslandes Monteiro.

O Governo aprovou, no começo de Junho, projectos de obras de construção e apetrechamento de hospitais e institutos de saúde no valor de cerca de 405,5 milhões de dólares, com várias empresas, segundo dados consultados pelo VALOR.

 

Os montantes correspondem às obras de construção e apetrechamento da primeira fase dos hospitais de Cabinda, Geral e Pediátrico de Luanda, dos institutos Hematológico Pediátrico de Luanda e do de Anatomia Forense.

A empresa de origem portuguesa Mota-Engil vai ser a responsável pelas obras de construção da primeira fase do hospital geral de Cabinda por 165,2 milhões de dólares e pela construção do Instituto Hematológico Pediátrico em Luanda, por 38,5 milhões de dólares. A empresa Casais Angola vai ser contratada para a construção do hospital geral de Pediatria em Luanda por 194,1 milhões de dólares, e o projecto de construção do instituto de Anatomia Forense no valor de 7,6 milhões de dólares vai estar com a empresa Scontrading Sociedade de Construção Civil.

As obras dos hospitais e institutos são justificadas pelo Estado pela “necessidade de se desenvolver e assegurar a funcionalidade do Serviço Nacional de Saúde em todo o território Nacional, construindo e apetrechando novas unidades sanitárias para garantir uma assistência diferenciada à população”, lê-se nos documentos consultados.

O ministro da Saúde, Luís Gomes Sambo vai ser a entidade autorizada a celebrar os contratos em representação do Estado com as empresas, e o ministro das Finanças, Archer Mangueira, a proceder o enquadramento financeiro dos projectos em linhas de crédito disponíveis.

Dar Angola vai fiscalizar

A empresa DAR Angola vai ser a empresa contratada pelo Estado para fiscalizar as obras dos hospitais e institutos de saúde dos projectos aprovados. O valor total da fiscalização das quatro obras está avaliado em 9,6 milhões de dólares.

A DAR Angola tem sido das empresas que nos últimos anos tem sido responsável pela fiscalização de muitos projectos de investimento público.

A empresa foi contratada no princípio deste ano para assegurar a assistência técnica, consultoria e gestão de projectos para implementação de oito obras de abastecimento de água por 5,4 milhões de dólares.

A DAR Angola também foi contratada segundo um decreto de Dezembro do ano passado, para fazer a gestão e coordenação técnica das obras ao abrigo do plano operacional da Linha de crédito da China (LCC), por 20,3 milhões de dólares. Uma das obras conhecidas e que está paralisada há mais de um ano, ao cargo da fiscalização desta empresa são as obras do novo sistema de trânsito rápido por autocarros (BRT) que visava descongestionar a circulação em Luanda.

RECURSOS FLORESTAIS. Volumes de exportação da madeira em toro chegam a ser seis vezes mais em relação do que foi exportado, no mesmo período, em madeira serrada, cujos níveis de exportação corresponderam a 36.266 metros cúbicos.

 

Nos últimos cinco anos, Angola exportou 220.385 metros cúbicos de madeira em toro, seis vezes acima das exportações da madeira serrada, fixadas em 36.266 metros cúbicos, revelam dados do Instituto de Desenvolvimento Florestal (IDF) a que o VALOR teve acesso.

2016 foi o ano mais produtivo do último quinquénio, com as vendas para o exterior a reclamarem cerca de 56% das exportações globais de madeira em toro, para os 125.189 metros cúbicos. Em 2015, as exportações fixaram-se em 31.313 metros cúbicos, muito acima dos 23.185 de 2014. Os primeiros dois anos foram os menos produtivos , com as exportações a atingirem 25.168 metros cúbicos em 2012 e 15.529, no exercício seguinte.

No caso das exportações da madeira serrada, no mesmo período, os números são mais modestos. Em 2012, foram 7.898 metros cúbicos; 1.520, em 2013, e, em 2014, 1.217. Nos últimos dois anos, houve, entretanto, um aumento nas exportações, atingindo 6.426, em 2015, e 19.225 metros cúbicos, em 2016, com países como a China, Vietname, Portugal, Índia, Dubai, França e Itália a perfilarem-se como os principais destinos.

Na semana passada, o Ministério da Agricultura, através de um decreto, oficializou o início da campanha florestal de 2017, especificando o que é permitido explorar em cada província, medidas fixadas em função da Lei de Faunas e Florestas, aprovada em Dezembro do ano passado e que ainda não está regulamentada.

A campanha para este ano prevê a exploração e licenciamento de madeira em toro de, pelo menos, 228.864 metros cúbicos. A vigorar desde 12 de Junho, a campanha encerra a 31 de Outubro, com 15 províncias listadas com potencial para a exploração da madeira. Uíge lidera a lista, com uma quota máxima de 60.523 metros cúbicos, seguida de Cabinda com 51.822 e o Bengo com 14.083. Com quotas mais baixas aparecem o Zaire, com 3.992, e o Cunene, com 1.434.

Em relação à produção, nos últimos quatro anos, registou-se algum crescimento, destacando-se 2015, ano em que foram produzidos 163.371 metros cúbicos e, 2016, com 170.000.

Para a quantidade máxima de carvão vegetal a ser licenciada e explorada, nesta campanha, a quota é de 33.650 toneladas, em 16 províncias. Kwanza-Sul, Kwanza-Norte, Huambo e Bengo colocam-se no topo das quantidades admitidas para licenciar, com seis mil para a primeira, e cinco mil para cada uma das outras três.

Quanto ao volume máximo de lenha a ser licenciado na Campanha Florestal de 2017, a quota máxima é de 4.805 esteres. Uíge e Kwanza-Norte são as líderes, com 1.500 e 1.000 esteres.

O IDF está actualmente a fazer o licenciamento para as empresas que vão explorar, prevendo o arranque da campanha para breve.