Isabel Dinis

Isabel Dinis

COMÉRCIO. Importações marítimas voltaram a estar em baixa. Mas o sal regista aumento superior a 200%, ante as queixas dos produtores nacionais. Produtos da cesta básica ‘salvam-se’ da tendência de queda.

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As importações marítimas, no segundo trimestre deste ano, tiveram uma queda de 11,65% em relação ao mesmo período de 2016, altura em que Angola comprou cerca de 988,9 mil toneladas, revelam dados do boletim estatístico do Conselho Nacional de Carregadores (CNC).

Esta tendência de descida, que se tem vindo a registar desde 2014, foi apenas contrariada pela importação de produtos da ‘cesta básica’ e por alguns produtos alimentares, como o sal, em que são assinalados aumentos significativos.

A farinha de trigo, que liderou as importações dos produtos alimentares, alcançou uma ligeira subida de 1,29% para as 64.294 toneladas, enquanto a quantidade de carnes e miudezas aumentou 72,21%, chegando às quase 43 mil toneladas. As farinhas e cereais tiveram um acréscimo de 10,41% para 42,9 mil toneladas, enquanto as importações de massas cozidas ou recheadas subiram 54,91% para as 24.7 mil toneladas.

A importação de sal, que está a ser contestada pelos produtores nacionais por, alegadamente, “dificultar a comercialização da produção interna”, também esteve em alta. Chegaram ao país, no período em análise, mais de 20,5 mil toneladas, um aumento de cerca de 253%, enquanto os produtores nacionais se queixam de ter 13 mil toneladas em ‘stock’ por falta de mercado.

Clínquer e Porto de Luanda líderes

Dos bens importados, o cimento hidráulico, também conhecido por clínquer, matéria-prima usada no fabrico do cimento Portland, foi o mais importado, conservando, desta feita, a posição dos anos anteriores. No entanto, não escapou a uma redução considerável, cerca de 80%, chegando aos portos 156 mil toneladas.

O Porto de Luanda foi o mais movimentado com a recepção de cerca de 80,73% de toda a mercadoria que chegou ao país. Houve uma redução de 9,46% para as 798,3 mil toneladas. Com excepção do Porto de Cabinda, todos os outros também baixaram o volume de entrada de mercadorias. As importações, que tiveram como destino o Porto de Cabinda, aumentaram 13% para as 27,6 mil toneladas.

Por sua vez, o Porto de Soyo recebeu 12,6 mil toneladas, o que significa menos 26,64% comparativamente ao mesmo período do ano passado, enquanto o do Namibe recebeu menos 16,18%, ou seja, 19,7 mil toneladas. Entraram no Porto do Lobito menos 29,69% de mercadoria, 128,3 mil toneladas, e no do Porto Amboim menos 48,8%, ou seja, 2,1 mil toneladas.

Portugal foi o maior exportador, nesse período, aumentando em 37,32% as vendas para 179,4 mil toneladas, o que representa 18,15% de todos os produtos importados. A China segue em segundo lugar, mas com um aumento de 33%, seguida do Brasil com 2,27%.

A empresa Angoalissar, por seu turno, foi a maior importadora no segundo trimestre, com o registo de pouco mais de 41,3 mil toneladas, um aumento de mais 13.9 mil toneladas relativamente ao mesmo período do ano passado. Na segunda posição, encontra-se a Secil Marítima, com o registo de 39 mil toneladas de carga importada. Completam a lista de maiores importadores a Nova Cimangola, Biocom e o Grupo Zahara que detém a cadeia de hipermercados Kero.

TELECOMUNICAÇÕES. Angola tem mais de 10,3 milhões de utilizadores da rede móvel 87,3% dos quais correspondem à Unitel. Mas faltam quase três milhões de cartões fazerem o registo obrigatório.

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Angola registou, até Outubro deste ano, 10,4 milhões de cartões da telefonia móvel e fixa, revelou o Instituto Angolano das Comunicações (Inacom) ao VALOR, com dados obtidos depois de se ter iniciado a obrigatoriedade de se registarem os números de telefone.

Dados oficiais indicavam, em 2016, que Angola tinha cerca de 13 milhões de utilizadores de telemóveis, o que significa que haverá cerca três milhões de registos por fazer, descontados os números que terão entrado em funcionamento este ano.

Do total de utilizadores, a operadora Unitel detém nove milhões, cerca de 87%, e a Movicel, 1,3 milhões.

De acordo com os dados do Inacom, a Unitel registou 95% dos seus clientes, a Movicel 71% e a operadora estatal Angola Telecom apenas 37,5%. Neste último caso, a percentagem representa 57 mil clientes.

O registo obrigatório iniciou-se em 2015 e o Governo apresentou, como razões para ter adoptado a medida, a prevenção dos “efeitos maléficos e criminais, desvirtuadores dos bons usos e costumes socioculturais do país com o combate ao uso abusivo por algum segmento da sociedade das redes e serviços de comunicações electrónicas”.

O procedimento mostrou não ser “uma tarefa fácil”, chegou a admitir o ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação e Comunicação, Carvalho da Rocha, que defendeu a “necessidade de garantir o uso das tecnologias de um modo cada vez mais seguro”. “Pedimos desculpas pelos transtornos causados aos utentes, mas era importante fazer esse exercício”, chegou a reiterar o governante, em conferência de imprensa de balanço do sector das comunicações.

Bloqueio em vigor

As operadoras de telefonia já começaram a efectuar o bloqueio dos cartões de utentes que não efectuaram o registo, segundo o presidente do conselho de administração, do Inacom, ao VALOR, António Benge. “Muitos números já estão bloqueados e o processo vai continuar nos próximos tempos se os utilizadores não efectuarem o registo”, alertou, sem, no entanto, revelar números.

O bloqueio dos números ocorre 30 dias depois de as operadoras efectuarem avisos aos clientes. Após o fim desse tempo, o número é bloqueado definitivamente e os saldos revertidos para o Fundo de Apoio às Comunicações (FADCOM).

Líderes do mercado

Os últimos dados estatísticos do Inacom dão conta que Angola contava, até ao ano passado, com 13 milhões de usuários de telemóveis.

O país tem ainda 4,1 milhões de utilizadores de internet, 304.493 da rede fixa. A Unitel liderava o mercado da telefonia móvel, com 73%, enquanto os clientes da Movicel correspondem a 27%. Na rede fixa, a Angola Telecom é a ‘campeã’ com 68% da quota de mercado, a MS Telecom com 18%, a TV Cabo com 12% e a Startel com apenas 2%.

VIATURAS. Sector automóvel foi dos mais ressentidos pela crise. Associação só prevê melhorias em 2019 e 2020. Até Outubro, houve uma redução de 53,7% comparando a igual período do ano passado.

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O mercado automóvel continua em queda livre desde que Angola começou a ressentir-se da queda do preço do petróleo no mercado internacional. Até final do ano, prevê-se que a venda de viaturas recue 90,2%, face a 2014.

Segundo dados provisórios da Associação dos Concessionários de Equipamentos de Transportes Rodoviários (Acetro), que controla 24 concessionárias no sector automóvel, e 42 marcas, Angola vendeu, em 2014, 44.536 viaturas e, até final do ano, prevê vender apenas 4.324 unidades.

O mercado vem apresentando resultados sombrios sucessivos desde o início da crise económica e financeira. Depois das 44.536 viaturas em 2014, no ano seguinte, as vendas recuaram para menos da metade para 20.584. No ano passado, mais uma queda menos da metade para 9.178 viaturas comercializadas.

Segundo os dados da Acetro, até Outubro deste ano, houve uma redução homóloga de 53,7%, tendo sido vendidas 3.771 viaturas, contras as 8.153 de 2016.

E, ao contrário dos discursos recentes mais optimistas para o próximo ano, a associação não prevê agora melhorias em 2018. A previsão é de que sejam vendidas apenas 3.908 viaturas, o que representaria uma redução de 9,6% face a 2017. O cenário só ganha contornos mais risonhos, segundo as previsões, em 2019 e 2020. Em 2019 prevê-se a venda de 7.492 viaturas e, em 2020, 11.142.

Fiat, a mais vendida

A Fiat foi a líder das marcas mais vendidas este ano. A concessionária Autostar, representante da marca em Angola, vendeu 611 viaturas. Seguem-se a KIA, com 411 carros vendidos, pela Imporáfrica; Renault com 336 vendidos pela TDA, e a Chevrolet com 292, vendidas pela VAUCO.

A venda de veículos de luxo, como Porsche, Jaguar e Chrysler foi a que mais se ressentiu nesses anos. Desde o ano passado que não é vendida uma única viatura de marca Porsche ou Jaguar.

TELECOMUNICAÇÕES. Empresa está a ser gerida por uma direcção interina desde o ano passado. Ministro reitera responsabilidades de a tornar competitiva, mas reconhece estar “preocupado”.

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A reestruturação da Angola Telecom “não está a ser um processo fácil” pelo estado em que se encontra, e o Executivo está “bastante preocupado” com a empresa, reconheceu o ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação e Comunicação, em conferência de imprensa.

Apesar de admitir as dificuldades, José Carvalho da Rocha não rejeita a “responsabilidade de fazer com que a Angola Telecom seja uma empresa importante no mosaico de operadoras do mercado”.

O governante evitou confirmar se a empresária Isabel dos Santos coordena, efectivamente, a reestruturação da empresa como se veiculou no início do processo, no ano passado. “Está apenas a ser monitorada pelo Estado e apenas pelo Estado”, reafirmou, esquivando-se a referir o nome ou a participação de Isabel dos Santos no processo de reestruturação da Angola Telecom.

A operadora, que tem apresentado resultados financeiros sucessivamente negativos, tem uma direcção interina desde o início do ano passado.

O Estado desencadeou procedimentos para a privatização de 45% do capital da empresa, que, entretanto, já recebeu o título que a habilita a funcionar como terceiro operador da rede móvel nacional.

A alienação insere-se no recente ‘Plano Intercalar’ aprovado pelo Presidente da República. Mas a ideia de privatizar a empresa e vender os activos não é nova. Em decisão governamental, assinada pelo ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, no início do ano passado, o Executivo criou uma comissão interministerial responsável por conduzir o processo de reestruturação da Angola Telecom que previa a identificação, em 90 dias, dos activos da empresa a alienar.

Num edital tornado público pelo Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, na semana passada, o Governo confirma a atribuição à Angola Telecom do Título Global Unificado, que transforma a empresa no “terceiro operador de telefonia móvel, além de estar permitida a prestar qualquer serviço de comunicações electrónicas, com base em qualquer tipo de tecnologia”, ao abrigo do Plano Estratégico sobre o Regime de Licenciamento dos operadores de comunicações electrónicas (PERL), aprovado em Junho de 2016.

A Angola Telecom é uma empresa pública de telecomunicações e multimédia, fundada em 1992, resultado da fusão da ENATEL e EPTEL, e disponibiliza serviços comerciais de voz e dados.

COMÉRCIO. Conceito de operador ‘especial’ já funciona na Europa e em alguns países africanos e vai entrar em Angola. Concorrem para esse estatuto empresas sem dívidas ao fisco e sem infracções aduaneiras “significativas” nos últimos cinco anos.

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A Administração Geral Tributária (AGT) vai implementar o programa denominado Operador Económico Autorizado (OEA), que visa facilitar os exportadores e importadores nacionais a acelerar procedimentos administrativos, ‘livrando-se’ de processos burocráticos.

O projecto de lei, que traz para Angola esse conceito, já foi concluído, restando apenas a aprovação para a posterior entrada em vigor, explicou o chefe de departamento de tarifas da AGT, Santos Mussano, durante um evento em que foram abordadas as exportações.

A figura do operador especial já vigora em muitos países da Europa e em alguns de África, sendo parte de uma convenção da Organização Mundial das Alfândegas, que visa facilitar o comércio. Concorrem para esse estatuto os operadores sem dívidas ao fisco, sem infracções aduaneiras significativas nos cinco anos imediatamente anteriores ao ano de adesão. Para poderem aderir a esse procedimento aduaneiro especial, as empresas vão ser submetidas a um concurso livre. A AGT, após o processo, realiza vistorias e procede à selecção dos operadores que considera de “confiança”.

Segundo o responsável da AGT, o projecto prevê que, em todas as delegações e postos aduaneiros, haja técnicos especializados para tratar apenas das exportações e importações. “Quando o operador for de confiança, não precisaremos de verificar a sua mercadoria depois de aprovada a lei. Pode pagar depois do processo e aceitarmos até declarações verbais. Por ser mesmo uma empresa de segurança”, garantiu Santos Mussano.

Mundialmente, a figura do OEA começou a ser implementada em 2005 e está presente em mais de 70 países, com todos a seguirem as directrizes estabelecidas pela Organização Mundial das Alfândegas.

EXPORTAÇÕES ISENTAS

Santos Mussano considerou ainda que a nova versão da pauta aduaneira também prevê facilitar a exportação. “Ao exportador apenas vamos exigir o básico, como documentos de transporte para o cálculo das taxas de serviços que a AGT cobra. Os demais poderão ser apresentados em 30 dias.”

A exportação da mercadoria nacional passa a ser, na nova Pauta Aduaneira, isenta de taxas, mas a reexportação vai ficar agravada em 20%, como tributo por se vender noutros países bens importados por Angola. Esta taxa de reexportação passa a ser unicamente ajustável aos produtos nacionalizados. O Governo rejeita a ideia de proteccionismo e lembra que é apenas aplicável aos produtos importados por Angola quando forem exportados e não à produção nacional. Para promover as exportações nacionais, a taxa vai passar dos actuais 1% para os 0,5%.