Isabel Dinis

Isabel Dinis

TURISMO. Presidente do grupo AAA Activos declara que os hotéis “só têm prejuízos”. Ainda assim, admite construir 50 unidades. Acordo com o francês ACCOR, assinado em 2015, foi rompido.

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O presidente do grupo AAA Activos, Carlos São Vicente, detentor de cinco hotéis da rede ‘IU’, revela que o balanço feito desde a abertura das unidades em 2016 tem sido “uma miséria” e que os empreendimentos “só dão prejuízos”.

Em declarações ao VALOR, São Vicente justifica as perdas com as taxas de ocupação que “são muito baixas” e com custos de operação que “são muito elevados”, por causa da crise. O gestor não quantifica o valor do prejuízo acumulado nos cinco hotéis, preferindo deixar a avaliação para o fecho de contas do grupo que só acontece em Março, mas reitera que “operar hotéis nas condições actuais é um prejuízo daqueles”.

Apesar disso, o grupo está “a resistir e ainda “não atirou a toalha ao tapete”, mantendo os planos de abertura da rede IU e IKA, como previsto. “O país é nosso, não podemos deixar de acreditar em Angola. É uma fase difícil, mas há-de se ultrapassar”, justifica.

Segundo os planos traçados em 2009, o grupo abriria, até 2023, 78 unidades de médio e alto padrões, projectando-se como a maior rede de hotéis de Angola. Passados nove anos do início do projecto, foram abertas apenas cinco unidades, com a perspectiva de abrirem mais quatro. Para Março, está prevista a inauguração dos hotéis do Sumbe, no Kwanza-Sul, e do Huambo e, para Abril, os de Mbanza Congo, Zaire, Benguela e Uíge.

Carlos São Vicente menciona agora a construção de 50 hotéis, mas num “ritmo mais lento” devido à actual situação económica. “Temos uma boa parte das infra-estruturas prontas, mas, lá dentro, estão vazias. Faltam cozinhas, móveis, lavandarias”, explica, apontando, como uma das maiores dificuldades, a importação de equipamentos e de materiais de construção.

AAA rompe com ACCOR

Em Julho de 2015, durante a visita do antigo presidente francês, François Hollande em Angola, a AAA Activos e o grupo francês ACCOR, que gere as cadeias Ibis e Mercure, em cerca de 100 países, assinaram uma parceria para a construção e gestão de hotéis, mas foi interrompida este ano, confirma Carlos São Vicente.

A parceria foi comunicada pelo grupo ACCOR, na Bolsa de Valores de Paris a 3 de Julho de 2015 e previa a abertura de 50 hotéis até ao ano passado, com a promessa de empregar três mil pessoas. No entanto, São Vicente garante que a ACCOR “não investiu nada e nem estava a gerir os hotéis”. A parceria, explica, era na área de marketing, reservas de hotel e formação de pessoal. “Era apenas nesse sentido. Os hotéis são nossos.”

Para São Vicente, romper com a ACCOR foi uma decisão “necessária” porque os benefícios eram “muito fracos” e ficaram “aquém” do acordado. “Não esteve ninguém da ACCOR em Angola e o trabalho todo que realizavam era feito fora. Estava previsto que mandassem uma equipa, mas nunca mandaram”, conta o gestor para quem “o país é para grupos com resistência”.

AVIAÇÃO. Companhia aérea continua sem respostas da AGT relativamente à taxa cobrada pelo transporte de carga em trânsito. A TAAG pretende reportar perdas ao ministro dos Transportes.

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A TAAG continua a perder dinheiro com o pagamento da cobrança de emolumentos aduaneiros da carga em trânsito mesmo depois de ter solicitado, através de uma carta dirigida ao ministro dos Transportes, a abolição ou a diminuição da taxa. O Ministério remeteu a carta para a Administração Geral Tributária (AGT), revelou uma fonte da companhia ao VALOR, mas ainda não houve qualquer resposta.

A companhia já perdeu cerca de 100 milhões de kwanzas com o pagamento da taxa imposta na rectificação que foi feita em Janeiro de 2014, no decreto presidencial que aprovou a pauta aduaneira.

Já foram escritas mais duas cartas ao antigo presidente do conselho de administração da TAAG, Joaquim Teixeira da Cunha, que, por sua vez, as endereçou ao ministro dos Transportes, que remeteu o assunto para a AGT. A TAAG ainda não recebeu qualquer resposta, mas sente-se impedida de fazer pressão, atirando essa responsabilidade para o ministro dos Transportes.

A nova administração da companhia aérea, nomeada em Dezembro do ano passado e liderada por José João Kuvíngua, deverá apresentar outro relatório com as demonstrações das perdas causadas pela referida taxa, ao ministro Augusto Tomás.

A TAAG paga um emolumento de 35.200 kwanzas que é cobrado pela AGT às companhias aéreas que transportam carga em trânsito por Luanda, seja ela com destino doméstico, regional ou intercontinental. “A TAAG, por ter o monopólio doméstico, é a mais lesada. As outras companhias não fazem voos domésticos. Para as que prestam serviço em trânsito, a mercadoria é remetida à companhia de bandeira nacional que acaba por pagar esse valor”, explica a fonte.

O custo mínimo da carga nas rotas internacionais é de 40 dólares (8.500 kwanzas), mas, se à chegada a Luanda esta mesma mercadoria transitar para outra província, a TAAG é obrigada a pagar 35.200 kwanzas. “Esse valor é superior ao valor que cobramos ao cliente pelo transporte”, reclama a fonte. “A AGT diz que é uma taxa e eu digo que é uma taxa muito cara. A solução passa por aumentar o valor da carga para o consumidor ou arcamos o valor, daí as perdas”, reforça.

FINANCIAMENTO. Governo volta a criar um fundo para as administrações locais, ?oito anos depois de criar o Fundo de Apoio à Gestão Municipal (FUGEM), que foi extinto. Novo fundo vai priorizar municípios com exploração de recursos.

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O Governo criou um fundo com o objectivo de garantir equilíbrio na afectação das receitas aos órgãos da administração local do Estado, denominado Fundo de Equilíbrio Nacional (FEN).

A criação do fundo vem expressa no novo regime de financiamento dos órgãos da administração local, aprovado recentemente pelo Presidente da República, João Lourenço.

O FEN surge da “necessidade de se melhorar a organização do sistema de gestão das finanças, a nível local, no quadro do actual processo de desconcentração e descentralização administrativas”, lê-se no documento.

O organismo vai ser alimentado com receitas provenientes de alguns impostos. Revertem a favor do fundo 30% do imposto sobre o rendimento do trabalho por conta própria, 30% do imposto sobre o rendimento do trabalho por conta de outrem, 50% das receitas do imposto industrial do grupo B, 30% do imposto predial urbano, 20% do imposto de sucessões e doações, 30% do imposto de sisa, 10% do imposto sobre o rendimento do petróleo, 10% do imposto sobre o rendimento aplicável ao sector mineiro, 30% da taxa de circulação e fiscalização do trânsito e 10% do valor de multas aplicadas por transgressões administrativas.

Angola já tinha ensaiado, em 2008, a criação de um fundo cujo objectivo era dotar as administrações municipais de recursos financeiros “adequados para uma eficaz e rápida intervenção na resolução de problemas urgentes que contribuíssem para a melhoria do bem-estar das populações”. Foi denominado de Fundo de Apoio à Gestão Municipal (FUGEM).

O FUGEM destinou cinco milhões de dólares a 68 municípios. A experiência durou cerca de três anos. Em 2011, o vice-ministro da administração do território, Cremildo Paca, admitia que o FUGEM “teve alguns erros” que deviam ser corrigidos com a criação de outros diplomas. O organismo foi extinto e, no seu lugar, surgiu o Programa Integrado de Desenvolvimento Rural.

O novo fundo vai ser gerido pelo titular das Finanças Públicas em articulação com o departamento ministerial responsável pela Administração do Território e Reforma do Estado.

Aos titulares deste dois departamentos fica a competência de propor ao Presidente da República a percentagem da afectação de orçamentos das províncias e municípios os recursos consignados no FEN com base em alguns critérios. Os critérios passam por destinar maior percentagem às províncias com maior densidade populacional, potenciar as províncias com elevado índice de pobreza, desenvolver zonas de difícil acesso, tendo em atenção a localização geográfica e os encargos de contingência.

Estes encargos são referentes às despesas sociais extraordinárias resultantes de catástrofes, desastres naturais ou qualquer outro acontecimento imprevisível. O fundo deve priorizar, na afectação das receitas, as províncias onde se exploram diamantes e petróleo.

Administrações com 70% dos impostos

As administrações municipais vão passar a gerir 70% de vários impostos arrecadados nas respectivas circunscrições, adianta o novo regime de financiamento dos órgãos locais.

Enquanto ainda se discute a legislação para a preparação a criação das autarquias, os municípios vão passar a gerir 70% do imposto sobre o rendimento do trabalho, tanto por conta própria como de outrem, 70% do imposto predial urbano e 70% do imposto de sisa e outros impostos pagos directamente aos municípios.

A empresa de distribuição e representação de produtos tecnológicos, Sistec, despediu cerca de 700 trabalhadores por causa da crise e pode voltar a reduzir mais este ano, revelou o presidente do seu conselho de administração, Rui Santos, ao VALOR.

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A mais antiga loja de distribuição de produtos tecnológicos em Angola conta actualmente com cerca de 600 trabalhadores. Rui Santos explica que, se os planos da empresa “não se concretizarem, será difícil manter o número actual, mas, se se concretizarem, ainda pode voltar a admitir outros trabalhadores”.

A empresa, que tinha representações em quase todas as províncias, teve de encerrar as lojas no Uige, Saurimo, Sumbe, Lunda-Norte. Em Luanda, fecharam as lojas de Viana e do Nosso Centro, no bairro Gamek. Os planos que o grupo tinha de expandir a loja no Namibe foram “abortados”.

Rui Santos lamenta não conseguir comprar produtos suficientes no exterior para repor o ‘stock’ e estima que, desde 2015, a empresa apenas conseguiu fazer a reposição de 10%. As nossas principais dificuldades têm sido a reposição de produtos e encontrar clientes com capacidade para comprar produtos”, frisa.

A empresa sentiu-se obrigada a “inovar” e a passar a comprar no mercado informal, sobretudo peças de reposição, no interior de Angola.

O homem forte da Sistec refere que estes anos têm sido “complicados” principalmente o 2017. “Foi um ano particularmente complicado porque essencialmente a empresa teve de adoptar medidas previstas no plano de contingência e, em termos de vendas, as mesmas mantiveram-se nos níveis do ano anterior embora as margens se tivessem reduzido devido à grande incapacidade de reposição de stocks.”

A empresa, segundo o gestor, tem apenas divídas com dois fornecedores estrangeiros com quem assumiu compromissos em 2014 que “foram apanhados pela crise”, mas garante “não dever nada ao Estado e a todos os fornecedores e bancos nacionais”.

O grupo é abastecido normalmente por países como a China, Portugal, Alemanha, Itália e África do Sul. Apesar das dificuldades, Rui Santos refere que a “crise mostrou o verdadeiro tamanho do mercado angolano.” “Angola estava a viver uma euforia que não tinha realmente a ver com o tamanho real do mercado.”

A Sistec tinha 24 lojas em 12 províncias. A empresa existe há 25 anos e está voltada para a venda de electrodomésticos, meios informáticos e tecnologias de informação.

SECTOR PETROLÍFERO. Depois de passar de 10% para 7%, o percentual a que a petrolífera tem direito, enquanto concessionária, passa para 5%. As opiniões divergem, havendo quem defenda a extinção definitiva da taxa.

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A Sonangol volta a ver reduzido o percentual a que tem direito pela actividade de concessionária, passando de 7% para 5%, segundo as recomendações decorrentes da apreciação do Orçamento Geral do Estado para 2018.

Assim, a petrolífera sofre a segunda redução nas receitas a que tem direito, depois de, em 2013, passar de 10% para 7%. A redução tem diversas opiniões com uma corrente a defender ser prejudicial para a empresa e uma segunda a considerá-la justa.

“Os 5%, ao contrário do que pensa a maioria das pessoas, são somente para a gestão da função concessionária que são cerca de 650 pessoas. A Sonangol tem cerca de 8.500 trabalhadores dos quais somente 650 são da concessionária”, explica um alto funcionário da Sonangol que se coloca a favor da corrente que considera “justa” a posição.

Esta corrente entende que as pessoas que defendem a continuidade dos 7% acreditam que a Sonangol continuará a acumular as várias actividades que desempenha actualmente. Ou seja, não acredita na reestruturação que se perspectiva e que deverá separar a actividade da concessionária.

“É natural esta forma de pensar porque esta percentagem que inicialmente era de 10% e depois 7% e agora 5% foi utilizada não só para a gestão da função concessionária como para investir noutras áreas e até mesmo cobrir as ineficiências da empresa. No universo empresarial da Sonangol, existem muitas empresas deficitárias e, infelizmente, essa taxa cobre também estes buracos.”

Existe, entretanto, uma terceira corrente que defende a extinção deste percentual.

“Num sistema ideal a Sonangol ou a concessionária deveria apresentar, anualmente, quanto o custo da gestão da concessionária e submeter ao Executivo que, por sua vez, disponibilizaria a verba, em vez, de uma percentagem fixa.

Seria mais transparente, daí a grande importância da separação entre os negócios da Sonangol e a função concessionária, o Estado só ganharia. Mas claramente é necessário que se tenha coragem para avançar para a reestruturação do sector”, observa um analista do sector petrolífero.

Segundo o acordo de partilha, a Sonangol, enquanto concessionária, reparte com os grupos empreiteiros 50% da produção.