Isabel Dinis

Isabel Dinis

CERÂMICAS. Apesar de se debater com a falta de fuel e divisas para a importação de peças de substituição, a Novicer teve crescimento na facturação. A direcção da fábrica garante que é uma empresa “para durar em Angola”.

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A Cerâmicas de Angola, Novicer facturou, nos primeiros 10 meses do ano em curso, cerca de 570 milhões de kwanzas, correspondendo a um crescimento na ordem dos 10% em relação ao mesmo período do ano passado.

Segundo o director da unidade fabril, Miguel Azevedo, ao VALOR, o crescimento já resgiatado mantém a tendência dos últimos anos, mais concretamete desde 2015.

Em termos de produção, a empresa do grupo português Mota-Engil registou uma média mensal de seis mil toneladas, correspondentes a 1,3 milhões de tijolos por mês. Até ao final de 2017, segundo o gestor, prevê-se a produção de 15,7 milhões de tijolos, o que corresponderia a 72 mil toneladas e um crescimento de 16,1%, comparativamente a 2016, ano em que a produção foi de 62 mil toneladas.

A empresa debate-se, no entanto, desde o passado mês de Março, com a falta de ‘fuel oil’ para alimentar o forno que trabalha 24/24 horas.

Face à dificuldade, a empresa passou a fazer recurso ao gasóleo, o que representa custos mais elevados. O gestor estima em cerca de 45% o aumento dos custos da empresa com o combustível e em cerca de 35% o custo de produção do tijolo.

Segundo Miguel Azevedo, a fábrica tem tentado negociar com o Ministério da Indústria a solução do problema. E acrescenta que, dos vários fornecedores do produto, a Sonangol é o que mais tem ajudado a empresa que também se debate com problemas de quebras de energia da rede pública, “situação que pode danificar a maquinaria, apesar de ter melhorado nos últimos anos”.

Além destes constrangimentos, Miguel Azevedo destacou aquele que, nos últimos anos, faz parte das preocupações de grande parte das empresas, falta de divisas. No caso, a empresa necessita, sobretudo, de peças de substituição.

Apesar destes constrangimentos, Miguel Azevedo garante que a empresa está disposta a “ficar e durar” em Angola e que as “vicissitudes” a têm tornado “mais forte a cada ano”.

A unidade fabril foi inaugurada em 2010 numa cerimónia assistida pelos antigos presidentes de Portugal e de Angola, Cavaco Silva e José Eduardo dos Santos, respectivamente. Na altura, a empresa contava com cerca de 80 trabalhadores, tendo reduzido o número em mais de 50%, nos últimos anos, para 48 funcionários.

LEGISLAÇÃO. Dois anos depois de entrar em vigor a actual Lei Geral do Trabalho, o juiz Aldino Pedro Fonseca lançou o livro sobre o contrato de trabalho, em que a consagração do novo modelo contratual constitui o tema central.

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A relação laboral “é originalmente desigual em Angola” por permitir ao empregador deter um poder de supremacia face ao trabalhador, defendeu o juiz de direito Aldino Pedro da Fonseca.

A declaração foi feita por altura do lançamento do livro de sua autoria “O contrato de trabalho no ordenamento jurídico angolano antes e depois da nova Lei Geral do Trabalho ”, lançado na semana passada, em Luanda.

Com a consagração do novo paradigma contratual, que constitui o tema central do livro, o autor considera que, tendencialmente ,a classe empregadora passará a celebrar contratos de trabalho a termo, por ser uma modalidade que permite uma fácil desvinculação. Acrescenta que os trabalhadores, com o novo modelo, correm “o risco real de debater-se com um abuso por parte da entidade patronal”.

“O empregador facilmente pode contornar a proibição de despedimento sem justa causa, não renovando o contrato de trabalho a termo celebrado com o trabalhador, sem correr o risco de instaurar o competente processo disciplinar.”

Aldino Pedro da Fonseca acredita que o legislador, na LGT, pretendeu alterar a cultura laboral dos angolanos por via da flexibilização das relações laborais. Um objectivo alcançado pelo legislador foi a forma como regulou as indemnizações que são feitas em função da dimensão da empresa. “Mas, por altura da contratação, houve uma autêntica desregulação do legislador, deixando o trabalhador à sua sorte.”

O juiz defendeu também que o novo modelo contratual laboral é susceptível de inibir o labutador de exercer livremente os seus direitos fundamentais. Com dois mil exemplares disponíveis, o livro, segundo o autor, surge para dar resposta às dificuldades que os auditores de justiça, candidatos a Magistratura Judicial e ao Ministério Público enfrentavam no acesso à bibliografia, por a actual lei ter alterado o modelo da contratação laboral. “Entendi por bem elaborar um manual que pudesse servir de apoio à formação judiciária e que estivesse de acordo com a nossa realidade, tendo em conta a legislação em vigor”, explica.

Publicado dois anos depois da vigência da actual Lei Geral do Trabalho (LGT), em vigor desde Setembro de 2015, o livro deveria ser apresentado no ano passado, mas não houve concretização por razões técnicas e foi comercializado a quatro mil kwanzas.

Aldino Pedro da Fonseca é licenciado em direito pela faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto. É juiz de direito, em exercício na sala do trabalho do tribunal provincial de Luanda e formador no Instituto Nacional de Estudos Judiciários (INEJ).

INDÚSTRIA. Fábrica de concentrado de tomate na Huíla, parcialmente detida pelo Estado, clama por financiamento adicional aos 10 milhões USD de fundos públicos que recebeu há quase uma década.

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Uma década após beneficiar de um financiamento público de 10 milhões de dólares para reactivar as suas actividades, a Sociedade de Desenvolvimento da Matala (Sodmat), vocacionada para o processamento de tomate, continua paralisada. A empresa precisa de cerca de 1,5 milhões de dólares para arrancar, declarou, ao VALOR, o presidente do seu conselho de administração, Cipriano Ndulumba.

O montante serviria para a montagem de uma linha de embalagens e outros equipamentos, conclusão a que se chegou após um diagnóstico, realizado em 2015, por três empresas estrangeiras e uma nacional para se determinarem as condições necessárias ao reinício da produção.

O Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) financiou a reactivação da unidade, paralisada desde os anos 1980, com 10 milhões de dólares. O Estado detém 30% do capital da Sodmat, distribuindo-se o restante por entidades privadas.

Segundo o responsável da Sodmat, o empreendimento já tem cerca de 75% de nível de execução e o investimento adicional necessário para a conclusão é “aceitável” e até “muito abaixo do que o BDA já investiu”.

Ndulumba garante que o básico para a retoma está feito, mas alerta que, segundo o resultado do mesmo diagnóstico, alguns equipamentos já instalados são considerados semi-industriais e estão, por isso, ultrapassados.

Em 2011, a Sodmat tentou resolver a inoperância colocando o empreendimento a concurso público, mas as empresas interessadas na sua gestão debatem-se até hoje com a falta de divisas, dado que os equipamentos necessários para o funcionamento têm de ser importados. “Há muitas empresas interessadas, mas todas encontram o problema dos cambiais”, declara o responsável, para quem o investimento numa fábrica de concentrado de tomate é um dos melhores que se pode fazer no país, devido ao excesso da principal matéria-prima.

Os produtores no perímetro irrigado da Matala e de outras províncias produtoras de tomate receberam com particular satisfação o anúncio, em 2009, da reinauguração da unidade fabril. Viram no desenvolvimento uma saída para as enormes quantidades do produto que se deterioram todos os anos, por dificuldades de escoamentos.

Com capacidade para processar 12.500 toneladas de tomate fresco por ano, a fábrica da Matala foi montada em 1960 e encontra-se inoperante desde 1980.

SECTOR RODOVIÁRIO. Proposta enviada pelo Ministério dos Transportes ao Ministério das Finanças prevê um aumento para os 150 kwanzas. Mas Governo ainda não divulga quem vai suportar o aumento.

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A tarifa dos transportes públicos urbanos vai sofrer um aumento com a esperada aprovação da proposta do Ministério dos Transportes remetida ao Ministério das Finanças, revelou a directora do Instituto Nacional dos Transportes Rodoviários, Noélia Costa. Actualmente, o bilhete custa 90 kwanzas por viagem e é subvencionado em mais de 66% pelo Estado. O passageiro paga 30 kwanzas e o Estado cobre os restantes 60 kwanzas. A proposta remetida a8o Ministério das Finanças propõe um aumento da tarifa acima dos 66% para os 150 kwanzas.

O último aumento oficial do custo dos transportes públicos verificou-se em Maio de 2005, quando o bilhete passou de 25 kwanzas para 30 kwanzas. No início do ano passado, algumas operadoras, sem aviso prévio aos passageiros, passaram a cobrar o preço de 50 kwanzas, situação que causou embaraço a quem faz o uso regular dos autocarros.

Noelia Costa não revelou quanto será a participação do Estado e dos passageiros com a aprovação da proposta pelos dois sectores, assim como não avançou uma data específica para a aprovação do documento. “Infelizmente, não depende só do sector dos transportes. Há dois sectores envolvidos, as Finanças e os Transportes. A proposta já foi remetida, aguardamos apenas a decisão para a nova tarifa”, declarou. A proposta do aumento dos preços dos bilhetes surge numa altura em que as operadoras, incluindo a estatal TCUL (Transportes Colectivo e Urbanos de Luanda, consideram que a tarifa praticada actualmente não cobre os custos operacionais. Noélia Costa adianta que o problema da TCUL não é exclusividade da companhia, mas do sector dos transportes em geral, como os caminhos-de-ferro e dos transportes marítimos.

Cortes nas subvenções

No início do ano, o VALOR noticiou que o Estado pretendia rever o programa de subvenção dos bilhetes dos transportes, no âmbito do ‘Programa de Optimização de Subsídios’, de acordo com fontes dos Ministérios das Finanças e da Economia. Caso o programa se concretizasse, os passageiros poderiam pagar a ‘factura real’ para o consumidor, que chegaria aos 200 kwanzas.

O Instituto Nacional dos Transportes Rodoviários não revelou qual será o pagamento da tarifa por parte do utente nem a subvenção do Governo, apenas que haverá um aumento da tarifa para os 150 kwanzas por viagem com a aprovação da proposta.

INDÚSTRIA TÊXTIL. Ministra da Indústria admite que o pelouro não tinha competência para conceder direitos de superfície e que o processo de entrega das unidades a privados está eivado de “vícios procedimentais”. Em causa estão projectos cuja reactivação orçou 1,2 mil milhões de dólares.

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O Ministério da Indústria e o Instituto de Desenvolvimento Industrial (IDIA) admitiram terem sido “incompetentes em absoluto” na entrega das instalações de três unidades estatais a empresas privadas para gestão, num processo que envolve investimento estrangeiro de 1,2 mil milhões de dólares.

Em despacho datado de 15 de Setembro, a que o VALOR teve acesso, a ministra da Indústria refere que a entrega, em 2013, das instalações da África Têxtil, Satec e Textang à Mahinajethu SA, Nova Textang II e a Alassola SA, respectivamente, está enfermada de “vícios procedimentais” e, por essa razão, as adjudicações são nulas. Bernarda Martins sublinha que a resolução é “título bastante para a autoridade competente proceder ao averbamento da nulidade dos actos notariais e de registo que possam ter sido praticados” durante o processo.

A Mahinajethu SA, Nova Textang II e a Alassola SA assumiram a gestão daquelas unidades têxteis que estiveram paralisadas durante vários anos, e beneficiaram de uma linha de financiamento do Japão para a sua reactivação, em 2013.

No despacho datado de 15 de Setembro, Bernarda Martins admite que o seu pelouro não teve competências para conceder direitos de superfície, ao abrigo da Lei de Terras de 2004 e o seu regulamento, tendo revogado os actos administrativos de adjudicação e celebração de contratos com as mesmas.

O documento revogou também o termo de entrega e promessa de concessão de direitos de superfície, assinado em Setembro 2013, sobre 90 mil metros quadrados de parcelas de terrenos localizados no Kwanza-Norte à Sociedade Mahinajethu, de 167 mil metros quadrados em Benguela, à Alassola, e de 140 mil metros quadrados no Cazenga, em Luanda, à Nova Textang II. No mesmo despacho, a agora reconduzida ministra ressalta que a adjudicação e celebração dos contratos teve como contrapartes entidades que não participaram no procedimento pré-contratual, o que torna a Mahinajethu, Alassola e a Nova Textang II “partes ilegítimas da relação jurídico- contratual”.

As empresas tinham até sexta-feira última, 29 de Setembro, 15 dias para reverterem o controlo das respectivas unidades ao Ministério da Indústria, tendo sido advertidas a não obstaculizar a entrada nas instalações de representantes seus. Estavam ainda obrigadas a entregar as instalações, os activos móveis e imóveis “em boas condições de conservação”, “considerando o investimento feito pelo Estado na recuperação” das mesmas.

O investimento estatal para a reactivação da África Têxtil, Satec e Textang totalizou perto de 1,2 mil milhões de dólares provenientes de um financiamento do Japão desde 2013, segundo o ‘Jornal de Angola’. A apostava visava a modernização, apetrechamento e ampliação destas unidades estatais.

Os gestores

A SATEC tem como presidente do conselho de administração Matos Cardoso, gestor demitido da Feira internacional de Luanda (FIL) e actualmente alvo de dois processos judicias movidos pelos trabalhadores e pelo Estado angolano, respectivamente, sob alegação de incumprimentos salariais e gestão danosa de bens públicos.

A Nova Textang II é presidida por Hélder David, enquanto a África Têxtil (mais conhecida por Alassola) tem como PCA Tambwé Mukaz, um angolano formado em Medicina Veterinária na Faculdade Agrária do Huambo.

As unidades entregues à gestão privada foram dois anos depois extintas, num processo que levou os respectivos trabalhadores a reivindicarem o pagamento de indeminizações. Em recente entrevista ao VALOR, representantes do sindicato dos trabalhadores da antiga Textang acusaram o Ministério da Indústria e o Instituto de Fomento Empresarial (ISEP) de não pretenderem o pagamento de indemnizações, uma vez que as duas instituições divergem sobre a quem cabe essa responsabilidade. Certo é que os trabalhadores continuam sem receber quaisquer indemnizações.

Sem produtos no mercado

Das três unidades fabris, apenas a Nova Textang II iniciou, em Fevereiro, a produção e comercialização de tecido. A Satec e a África Têxtil continuam em fase de testes, os quais previam terminar em Julho do ano passado. A reactivação das mesmas passava pela importação na totalidade da sua principal matéria-prima, o algodão, visto que Angola deixou de produzir essa commodity.

A aposta do Estado nas três fábricas decorreu das iniciativas do Governo de diversificação da economia e captação de receitas. O VALOR vai continuar a seguir o processo em próximas edições.