Miguel Daniel

Miguel Daniel

AGRICULTURA. Instituto Nacional do Café (INCA), na província, controla 9.100 cafeicultores e 27 descasques. Destes, apenas cinco funcionam, sendo três no município sede, um no Negage e outro no Mucaba.

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A província do Uíge continua a regredir na produção de café, depois de ter perdido, para o Kwanza-Sul, o estatuto de maior produtora que deteve até 1975, altura em que a produção anual se cifrava nas 80 mil toneladas, o que correspondia a 35% da produção nacional. Actualmente, a província produz apenas duas mil toneladas, 95% das quais produzidas por famílias, segundo os dados oficiais.

De acordo com o chefe do departamento do Instituto Naconal do Café (INCA), na província, Vasco Gonçalves, Uíge conta actualmente com uma área de 161 mil hectares, reservados ao cultivo do ‘bago vermelho’, mas que não são explorados. Como consequência, explica, a província não consegue voltar a posicionar-se entre os principais da produção mundial, tal como foi nos anos 1975, altura em que o café foi considerado o motor da economia nacional.

Vasco Gonçalves lançou um repto aos jovens empreendedores para apostarem no cultivo do ‘bago vermelho’, ao realçar que actualmente o cultivo do café é feito maioritariamente por pessoas idosas, que herdaram a pratica do tempo colonial.

Para o responsável do INCA, a fraca produtividade que se verifica ultimamente resulta do conflito armado, que não permitiu a renovação das fileiras dos cafezais, alguns com mais de 50 anos. O baixo preço praticado no mercado é outro factor apontado que concorre para o desencorajamento dos camponeses.

“Em 2003, por exemplo, a produção total cifrava-se apenas em 800 toneladas, contra as 4.500 de 2004, altura em que o INCA tinha registado 1.792 explorações familiares, com menos de 10 hectares”, comparou.

Vasco Gonçalves lembra ainda que, “enquanto na década de 1970 existiam cerca de 148 médias fazendas com áreas cultivadas de 50 hectares, havia ainda 59 grandes fazendas que detinham mais de 250 hectares cada uma, que trabalhavam em parceria com 42 associações, oito cooperativas e 60 comerciantes que tinham a missão de transaccionar o café”.

Dados do INCA indicam que actualmente Kwanza-Sul é o maior produtor do café, no país, com uma produção calculada em cerca de 60% do total da produção nacional, facto que, segundo Vasco Gonçalves, pode ser revertido nos próximos dias, atendendo os resultados esperados do programa de incentivo e distribuição de mudas nos 16 municípios do Uíge.

“Apenas 10 dos 16 municípios da província produzem o café, mas estamos a sensibilizar os camponeses a apostarem na cultura, para que mais pessoas entrem no negócio”, sublinhou, reiterando que estão preparadas 75 mil mudas de café ‘robusta’ e duas mil plantas de gravilha (árvores para sombra dos cafezais).

“O projecto de criação, reprodução e distribuição das plantas, é assistido por 25 técnicos, que acompanham os 9.100 produtores, actualmente registados, contra os oito mil que tínhamos em 2004”, acrescentou Vasco Gonçalves.

Entretanto, “os cafeicultores, no Uíge, não precisam apenas de plantas”, queixou-se Joaquim Dias, de 85 anos de idade, um dos cafeicultores da cooperativa Kangojo, onde se fez a abertura da colheita do café para a safra 2016/2017, na localidade do Kindenucu.

“As inúmeras dificuldades fazem com que os camponeses abandonem o cultivo do café, cujo resultado surge depois dos cinco anos e com muito sacrifício, já que é preciso manter as plantas limpas e bem podadas”, frisou. Com 25 hectares, a cooperativa controla 13 associados, oito dos quais são mulheres que anualmente colhem cerca de 39 sacos de café Mabuba, (café com cascas), o que faz com que, no final de cada mês, cada associado leve para casa apenas 15 mil kwanzas, como salário.

“Naquele tempo, havia agricultores que colhiam 400 sacos por ano, mesmo depois da Independência. Hoje nem sempre conseguimos atingir os 20 sacos. Este ano será ainda pior”, lamentou Joaquim Dias, justificando que as chuvas não caíram com a regularidade desejada.

Pedro Ricardo é outro cafeicultor, cuja capacidade e os meios revelam por si os resultados que tem vindo a alcançar nos últimos anos. Detentor de uma área arável de 1.550 hectares, 40 dos quais em produção, perspectiva plantar 3.600 novas mudas, 600 das quais devem ser produzidas por ele. “Nós fazemos os nossos viveiros. Assim deixámos de depender apenas das mudas distribuídas pelo INCA”, salientou, lembrando que a fazenda ‘Boa Entrada’ conta com 70 trabalhadores, 40 dos quais mulheres. O agricultor espera colher cerca de sete toneladas este ano, contra as cinco do ano passado.

O cafeicultor disse ter beneficiado de um tractor, aquando da visita do candidato do MPLA às eleições, João Lourenço, o que vai permitir o alargamento da área plantada para mais 30 hectares. Por seu turno, Isabel Menezes, uma das cafeicultoras que beneficiou de três mil novas mudas do INCA, agradeceu o gesto, sublinhando que vai ajudar no processo de substituição dos velhos cafezais que já têm mais de 60 anos. “Tenho actualmente cerca de 20 hectares, mas anualmente vamos aumentando a zona cultivada, de acordo com o número de mudas que recebemos”, declarou.

Os preços, apesar de registarem ligeira subida em relação aos anos anteriores, ainda não vão ao encontro dos custos de produção, disse a cafeicultora, que fixou o quilo do café mabuba (café com cascas) entre 200 e 300 kwanzas, contra os 600 do café comercial (café descascado).

“Esperamos que o quilo suba para 1.000 kwanzas, para compensar os custos operacionais”, aventou, concluindo que o investimento no café é a longo prazo. “Por isso, os bancos furtam-se a conceder financiamentos aos cafeicultores”, atirou.

INCENTIVOS

No quadro do crédito agrícola de campanha, o INCA tem seleccionados 37 comerciantes que beneficiaram de empréstimos que vão de dois a seis milhões de kwanzas, concedidos pelo BAI Micro Finanças.

Vasco Gonçalves recordou que, até ao momento, a província conta apenas com uma torrefacção, com capacidade de transformar 300 quilos por dia. O facto, segundo ele, faz com que a maior parte da produção seja comercializada ou transformada em outras províncias.

O responsável, apesar de não precisar as quantidades, salientou que Luanda, através da Angonabeiro e a Cafangol, absorve a maior parte do café produzido na província, que depois é exportado para outros mercados.

O município do Mucaba continua a liderar o ranking de produção na província. Já a nível nacional, o responsável assinalou que, no ano passado, a produção foi de 7.950 toneladas de café comercial, contra as 16 mil toneladas previstas.

Kwanza-Sul, segundo ainda Vasco Gonçalves, foi a província que maior produção de café teve na campanha 2015/2016, tendo registado, no período, 3.841 toneladas de café comercial (correspondente a cerca de 60% da produção nacional), seguida do Uíge (41,24%). As duas províncias produzem em conjunto 91.85% do café nacional, segundo os dados oficiais.

A empresa de tecnológica Primavera e o Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social (MAPTSS) firmaram uma parceria, visando a simplificação do sistema de Registo Nominal de Trabalhadores (RENT) daquele órgão do Governo, acabando, assim, com a burocracia que se regista actualmente a este nível, avançou, em exclusivo, ao VE, Sérgio Lopes Country manager da Primavera.

A integração do RENT, segundo o responsável, é o de responder as necessidades detectadas na simplificação do trabalho administrativo do MAPTSS, por isso, “encetamos parcerias com as entidades daquele Ministério para que a digitalização seja um facto”, sublinhou, prevendo que a iniciativa vai estender-se a outras instituições.

Sérgio Lopes disse igualmente que o RENT foi desenvolvido em parceria com o MAPTSS através do SIAC, lembrando que já passaram pelo mesmo processo o Instituto de Segurança Social (ISS), aventando ainda que outros venham a seguir o exemplo.

Sendo esta a filosofia da empresa, “simplificar continuamente a gestão empresarial”, sustentou, amenizando os utilizadores que não terão custos adicionais com a actualização feita ao Primavera na integração do RENT.

O gestor lembrou que, por força da parceria com o MAPTSS, as instituições públicas e empresas estão obrigadas a conformar os seus processos ao RENT até ao final do mês de Abril, integrando os dados relativos ao mês de Março, alertando que a comunicação deve ser feita através do preenchimento dos dados directamente no site do MAPTSS ou através de submissão na plataforma do MAPTSS de um ficheiro em formato Excel.

As lojas localizadas nas centralidades de Luanda estão à venda desde Outubro do ano passado, ao preço de dois mil dólares o metro quadrado, soube o VALOR de fonte oficial da Imogentin, a empresa gestora das centralidades do Estado.

O processo teve início na centralidade do Sequele, no ano passado, e, segundo a empresa, vai estender-se à centralidade do Kilamba, onde as lojas estão em regime de arrendamento, antes de chegar a todo o país.

O responsável de comunicação e Marketing da Imogestin, Mário Guerra, indicou que as lojas comportam três categorias, sendo que o valor de cada uma dependerá da área que ocupa.

Mário Guerra alertou os candidatos já inscritos a regularizarem a situação, sob pena de perderem as lojas, e reconheceu haver um certo atraso na conclusão do processo, tendo prometido, para breve, a entrega de chaves aos contemplados.

A imogentin avisa que novos candidatos poderão substituir os já inscritos que não forem seleccionados e assegura que o processo vai decorrer em todas as centralidades do país.

As queixas sobre os pagamentos das rendas mantêm-se. O VALOR ouviu alguns arrendatários e potenciais proprietários de lojas no Sequele e no Kilamba que alegam excesso de “burocracia” da Imogestin, além de os custos serem “demasiado altos”.

Vários clientes, que não se quiseram identificar, temem pelo agravamento das dívidas, tal como aconteceu com as casas, visto que muitas das lojas já têm mais de quatro anos de funcionamento sem pagar qualquer taxa.