ANGOLA GROWING
Onélio  Santiago

Onélio Santiago

Derninha Tulitileni e Adriana Chiqueio, ambas de 16 anos, foram as grandes vencedoras da 4.ª edição do Concurso Nacional de Física, após criarem um cofre de madeira cujo funcionamento se baseia na aplicação das leis desta disciplina.

 

ACORDO. Estabelecido em 2008, o acordo, cuja implementação iniciou em 2011, já permitiu o financiamento de 11 projectos de investigação científica. Ambos têm cooperado também na mobilidade de investigadores e estudantes e procuram medidas para se ultrapassarem as dificuldades que condicionam outros projectos.

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Delegações de Angola e da África do Sul reuniram-se recentemente, em Luanda, para o 8.º encontro técnico conjunto em ciência e tecnologia. A reunião resultou de um acordo que os dois países assinaram em 2008 e cuja implementação teve início três anos depois, dando origem ao lançamento de dois editais de financiamento conjunto de projectos de investigação científica, com a aprovação faseada de um total de 11 projectos nas tecnologias de informação e comunicação, biociências e biotecnologia, além do chamado “conhecimento endógeno ou tradicional”.

Os trabalhos dos técnicos, cujas conclusões não foram divulgadas à imprensa, constituiu em analisar os ‘frutos’ desta cooperação, apresentando um balanço do que já foi feito, além de propor caminhos para que a plataforma bilateral siga em frente e proponha métodos que ajudem a transferir para o sector produtivo/industrial os resultados obtidos nas investigações. Na reunião, que permitiu igualmente a troca de experiências entre investigadores angolanos e sul-africanos, ficou o desafio de os técnicos prepararem uma brochura com a compilação dos principais resultados de uma cooperação de quase uma década.

O comité técnico conjunto é co-liderado por António de Alcochete, do lado de Angola, e Mabuzela Mampei, da África do Sul. Esta última declarou, na abertura do encontro, que a cooperação tem sido “frutífera”, na medida em que permitiu a criação de uma “vasta” rede de pesquisas com capacidade para dar resposta aos desafios sociais. “Sabemos que o actual contexto financeiro não é dos melhores”, admitiu a responsável sul-africana, que teve o apelo reforçado pelo ‘homólogo’ angolano. António Alcochete, em declarações à imprensa, reconheceu que o país ainda precisa de melhorar neste domínio.

O responsável, que lidera a Direcção Nacional de Investigação Científica, explicou que o país tem realizado, desde 2012, inquéritos nacionais sobre indicadores de ciência, tecnologia e inovação. As falhas nos procedimentos internacionalmente recomendados, sobretudo na primeira edição, impediram o país de ter êxito no início, pelo que apenas em 2014/2015 Angola conseguiu publicar, pela primeira vez, no relatório mundial da Unesco sobre a ciência, dados sobre o nível de desenvolvimento da investigação científica no país. “Quem quiser fazer alguma definição sobre as condições de Angola neste domínio pode basear-se neste relatório e tirar as suas próprias conclusões”, considera António de Alcochete, embora avance que, pelos dados recolhidos, o país está numa posição “relativamente baixa”.

ENSINO SUPERIOR. Constituído pelas universidades Católica, Independente, Privada e Gregório Semedo, chamado ‘G4’ assinou, na semana passada, um acordo com duas instituições portuguesas de ensino superior, visando reforçar-se com a experiência dos organismos lusos em ensino, investigação e serviços.

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O ‘G4’ do ensino superior angolano, que congrega as universidades Católica, Independente, Privada e Gregório Semedo, assinou, na semana passada, um protocolo de cooperação com duas instituições portuguesas de ensino superior, a Universidade Aberta e o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Rubricado em Luanda, o acordo tem por objectivo “a troca de experiências nos domínios do ensino, docência e investigação”, prevendo-se que “alavanque a formação de quadros, a melhoria dos currículos e dos processos administrativo-financeiro”.

Para já, não se definiu ainda de que forma se vai ‘desdobrar’ a parceria. As seis organizações avançam apenas que se deverão criar, “a curto prazo”, equipas de trabalho para se estabelecer o que é “urgente” fazer-se. Depois disso, cada um dos responsáveis executivos, em conformidade com os promotores, deverá “respaldar aquilo que fica claramente no papel”, com vista a que se comecem a dar passos, explicou o reitor da Universidade Católica de Angola (UCAN). José Cacuchi, que lidera a presidência anual do ‘G4’, tranquilizou os estudantes e docentes das universidades que compõem o grupo, referindo que “haverá sempre comunicados”, em que se vão detalhar em que ‘pé’ se está, o que já se fez e qual o próximo passo da parceria entre angolanos e portugueses. “Estivemos a assinar papéis que nos comprometem a assumir este projecto, mas, depois, precisamos de criar equipas, nas nossas instituições, para proceder ao trabalho executivo”, reforçou.

Pelo ‘G4’, assinaram o acordo, além de José Cacuchi, pela UCAN, os reitores da Universidade Independente de Angola (UNIA), Filipe Zau, Universidade Gregório Semedo (UGS), Luís Rocha, e da Universidade Privada de Angola (UPRA), Augusto Caetano João. Do lado português, a Universidade Aberta esteve representada por Carla Padrel, a vice-reitora, enquanto o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas esteve representado pelo próprio presidente, Manuel Meirinho.

Criado em Setembro de 2017, o ‘G4’ surgiu, entre outros aspectos, para permitir “maior mobilidade docente e estudantil” entre as quatro universidades, além da organização de programas comuns no que diz respeito à graduação e pós-graduação, assim como da investigação e extensão. A ideia é que a iniciativa melhore a qualificação dos professores, técnicos administrativos e não só.

LITERATURA. Em véspera do lançamento de mais uma obra, Lopito Feijóo critica a desvalorização do livro em Angola, lamentando que as pessoas só se preocupem em ter “bons bolsos”. Ao VALOR, o escritor afirma que a literatura angolana está no “bom caminho” e mostra-se optimista com as eleições, pois “há indícios do provir de uma nova gestão”.

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O que vem contrariar o livro ‘Imprescindível Doutrina Contra’, a ser lançado na quarta-feira, 16 de Agosto?

Segundo o professor Jonuel Gonçalves, é a perspectiva de um “novo pan-africanismo”, do ponto de vista poético. É um livro com uma perspectiva contrária à da visão comum. Não raras vezes, será confundido com um livro político, embora seja apenas poético.

Porque faz sempre paralelismo entre a poesia e a história ou política?

Sou um crítico social. E o poeta, em princípio, é um ser premonitor, pelo que, na minha arte literária, abordo questões do dia-a-dia. Sinto-me obrigado a revelar, por via da poesia, aspectos que o ser comum não vê. Toda a minha escrita é de intervenção. Tenho de reflectir sobre a falta constante de energia e de água, em pleno século XXI. E isso tem implicações, pois sou obrigado a fazer uma viagem pelo mundo da gestão da coisa pública não de Angola, mas também do mundo.

Como ‘premonitor’, o que diz acerca do momento político que Angola vive?

Há indícios do provir de uma nova gestão, até mesmo em razão dos pronunciamentos de todos os candidatos a Presidente da República. Independentemente das promessas eleitoralistas que vão acontecendo, todos se alvoram como sendo os arautos da mudança. Inclusive o MPLA, que é o partido da situação. E acredita que, depois de 23 de Agosto, haverá mudança? Tenho de acreditar. Se não acreditar, estarei a ser pessimista.

O músico Calabeto afirmou que todos os artistas esperam que o MPLA vença as eleições. Confirma isso?

Tenho muita consideração pelo kota Calabeto, mas sublinho: não lhe dei nenhum mandato para falar da minha perspectiva sobre os resultados das eleições. Porém, todos nós temos de aceitar e pôr nas cabeças o seguinte: destas eleições, só pode sair um vencedor, mas ganharemos todos.

Como assim?

Ganharemos todos em razão do previsível crescimento da instituição democrática. Quem vai ganhar estas eleições é o povo angolano, principalmente pelo amadurecimento do Estado democrático e de direito em Angola.

Como se define, enquanto poeta?

Um poeta andarilho e doutrinário. Mesmo parado, estou sempre a viajar e com a mente em reboliços. Sou um poeta de vanguarda que, com a sua escrita, procura contribuir para o desenvolvimento da língua em que escreve, o português.

Como vê o estado da literatura angolana?

Está no bom caminho. A primeira década deste século XXI foi muito frágil em todos os sentidos. Mas, agora, nos finais da segunda década, há até o surgimento de elementos que se assumem, no âmbito da prática literária angolana, como sujeitos e objectos do seu próprio fazer antitísico. Já surgem jovens que não estão apenas a produzir literatura, estão a pensar literatura. Isso é muito bom, pois indicia crescimento e um certo progresso paulatino.

É possível viver da literatura em Angola?

Claro que não! Num país onde pessoas que, tendo sido analfabetas, aprenderam a ler, mas já se analfabetizaram novamente, não se pode viver de literatura. Estamos num país em que 500 exemplares de uma obra literária levam anos a ser vendidos. As pessoas não estão preocupadas em ser bons leitores, só estão preocupadas em ter bons bolsos, bons carros e boas mulheres. É só ter, ter e ter. Ninguém quer ser. Como ninguém quer ser, ninguém está preocupado com a firmação do nosso ser, que passa pela cultura do livro. Aliás, tem-se dito que um país se faz com homens e livros. Se as pessoas não compram livros, como é que vão ser cultas?

TELEVISÃO. Tomás Ferreira Walter considera “uma utopia” esperar que o empresariado privado invista no cinema. Em entrevista ao VALOR, o actor e realizador defende uma televisão que privilegie a cultura angolana, afirma que já não se faz cinema há décadas e lamenta que os políticos olhem para esta arte como “um brinquedo de malucos”.

 

Qual dos papéis mais gosta: actor, realizador ou apresentador?

Depende. Por exemplo, quando se trata de ficção, que é a minha maior paixão em televisão, adoro realizar e actuar. No caso de programas, prefiro a apresentação.

O que é feito da Associação Angolana de Profissionais de Cinema, Televisão e Audiovisual (APROCIMA), na qual exerce o cargo de porta-voz?

Fazendo o seu trabalho. Claro que não na dimensão e ‘agressividade’ que se espera, por ‘n’ razões próprias da nossa realidade.

É rentável fazer cinema em Angola?

Em Angola, já não se faz cinema há décadas. O que se tem estado a tentar fazer, e que, de certa forma, cobre esta ‘sede’ de fazer cinema por parte dos amantes desta arte, é a produção de audiovisual. O pouco cinema que se conseguiu, da Independência ao presente, foram iniciativas isoladas de arrojados profissionais com todo um apoio e aparato estrangeiro, que, em muitos casos, inclusive, até actores não eram angolanos, para não falar dos técnicos.

Porque ainda se preferem estações estrangeiras?

A televisão é uma arte. Quem nela trabalha precisa de saber dominar. A forma como se abordam as questões nos programas, a técnica de comunicar com o telespectador, o ‘desenho’ que a realização estabelece para desenvolver o conteúdo em questão. O povo precisa de se rever no que vê e ouve. É aqui onde reside o segredo de atrair a audiência. Os nossos programas precisam de ir mais ao fundo dos costumes, tradições e culturas do povo que realmente nos assiste. Para tudo isso ser possível e exequível, é preciso entender que o ‘casamento’ entre formação e televisão é incontornável para o sucesso de qualquer canal de TV.

Quando houve a polémica sobre a exibição de ‘As 50 sombras mais negras de Grey’ a menores, algumas ‘casas de cinema’ revelaram que, para a exibição de filmes, seguem os critérios de Portugal por falta de legislação angolana! O que acha disto?

O importante aqui é assumirmos a importância dos ‘filtros’ (censura) relativamente à fronteira das idades e os conteúdos do que se vê nos cinemas. Sempre foi assim e deve continuar a sê-lo. Tudo o que tiver de ser feito com esse propósito, ponderando questões objectivas e subjectivas da lei e dos direitos do consumidor, é bem-vindo.

Em que medida o cinema pode contribuir para a diversificação da economia?

Sempre tive a impressão de que os políticos entendem que o cinema é apenas um elemento de entretenimento. Não têm uma visão mais filosófica e sociológica desta arte. Para eles, o cinema é um brinquedo de meia dúzia de malucos metidos a artistas para delírios momentâneos. Enquanto for assim, o poder político nunca irá perceber o valor desta ‘magia’, o cinema, na concretização da estratégia de Nação que eventualmente se tenha, se é que o têm. Basta vermos o papel da indústria cinematográfica na expansão daquilo que hoje é a imagem do país mais poderoso do mundo, os EUA. Estes há muito descobriram a importância do cinema.

Como o Estado pode contribuir para o desenvolvimento do cinema?

Se perceberem o quão ele pode ser um instrumento valioso até para a politica, claro, há que se ‘botar’ mãos à obra e reactivar esta indústria. Sabemos que os custos não são poucos, pois não existe nada no país. Mas, aos poucos, ano a ano, a coisa vai. Precisam-se de duas coisas, acima de tudo: vontade política e dar os primeiros passos. Se começarmos em 2018, por exemplo, acredito que nos próximos 20 anos, mais ou menos, teremos os primeiros sinais desta indústria no país.

E o empresariado privado?

Contar agora com o empresariado no incentivo desta ou outra arte é utopia. Empresário que investe em cultura é um empresário com um outro nível, outra educação, sem falarmos também que, para isso, o país teria que estar numa situação diferente no que diz respeito à própria Lei sobre o retorno e benefícios para quem tem esta prática. É muito cedo para falarmos disso. Nos próximos 50 anos, só o Estado estará em condições de investir no cinema, até porque faz parte de toda uma estratégia de desenvolvimento do Estado ou pelo menos devia.

Qual tem sido o contributo do ‘Stop Sida’ na consciencialização sobre o VIH?

O ‘Stop Sida’ é um dos elementos de maior contacto ‘sistemático’ com a população no que concerne à educação e prevenção do VIH, dentro da estratégia de luta do Ministério da Saúde. O Instituto Nacional de Luta Contra a Sida considera-o um dos parceiros mais valiosos no combate à doença. No facebook, publica conselhos e/ou críticas.

Há um escritor a caminho?

Tenho recebido muitas propostas nesse sentido, mas ainda não pensei nisso. Crio os textos impulsionado mais pelo meu ‘defeito’ de desejar ajudar as pessoas e transmitir os poucos conhecimentos que penso que possuo. Entretanto, a reforma está a chegar a ‘galope’. Terei mais tempo para reflectir e, ao invés de ficar só a ler jornais no jardim ou a ver TV, talvez escreva livros.

PERFIL

Na TPA há mais de 30 anos, onde já realizou programas como ‘Janela Aberta’ e ‘Carrossel’, Tomás Ferreira Walter possui uma licenciatura em Ciências da Comunicação. Actualmente, além de realizador, é o subdirector de conteúdos da TPA.