Comunidade de Criptomoedas disposta ajudar BNA a criar kwanza digital
TECNOLOGIA FINANCEIRA. Benefícios do kwanza digital incluem o fim da dependência das divisas, que se tornaram escassas em resultado da crise. Facilitação nas transações comerciais em milésimos de segundo é outra.
Os empreendedores digitais, ligados à Comunidade de Criptomoedas, contrariam o argumento de José Massano, governador do Banco Nacional de Angola (BNA), apresentado no webinar sobre ‘Inclusão Financeira e Globalização’, segundo o qual a implementação e regulamentação das criptomoedas no mercado angolano carece de um estudo em torno dos benefícios e protecção dos usuários ou clientes.
Para Euclides Manuel, fundador do Bitcoin Angola, a preocupação de José Massano é uma “falsa questão”, porquanto a nova tendência de troca de moeda “está a provar em todo o mundo a sua eficiência e segurança”, sobretudo em países com crise de divisas. O especialista cita o exemplo da Venezuela que, diante das sanções impostas pelos EUA, criou a própria criptomoeda (petro) com vista a contornar a crise causada pela escassez da moeda norte-americana. Outro caso é o da Nigéria que, recentemente, foi obrigada a regulamentar o bitcoin, face à desvalorização da sua moeda fiduciária perante ao dólar. “Um kwanza digital em forma de stablecoin (moeda estável) seria uma excelente aposta do BNA, porque a mesma stablecoin, apesar de usar a tecnologia blockchain, será diferente das outras criptomoedas em termos de volatilidade.
O seu valor estará atrelado ao kwanza, o que permitiria pagamentos instantâneos mesmo se forem feitos por bancos diferentes”, explica, esclarecendo que as transacções são feitas em questões de segundos ou minutos, dependendo do fluxo da rede, ao contrário do sistema tradicional, cuja duração é de 24 a 48 horas.
Outro benefício das criptomoedas, elencado pelo jovem empreendedor, é que são descentralizadas, ou seja, não têm nenhuma instituição central ou organização com total poder sobre as mesmas. Em vez disso, são as suas comunidades que controlam e determinam o valor, o que corresponde à desburocratização das divisas. “As criptomoedas são globais, não existem fronteiras. Sendo assim, a população angolana poderá usar as mesmas para o envio de remessas no exterior. Na verdade, os angolanos já fazem uso das criptomoedas para pagamentos de bens e serviços no exterior, mas em pequena escala. No entanto, a regulamentação da tecnologia blockchain permitiria o envio de remessas em criptomoedas em larga escala, algo que já acontece em vários países africanos, como a Nigéria, que tem enfrentado uma certa escassez de divisas nos últimos tempos e tem usado o bitcoin como meio de pagamento de bens e serviços no exterior”, exemplifica.
Euclides Manuel observa, no entanto, que a implementação pelo BNA não seria onerosa pelo facto de não ser necessária a criação de uma central de mineração, factor que implicaria a contratação de programadores e compra de computadores de alta capacidade. Quanto à protecção de clientes, assegura ser difícil surgirem unidades falsificadas, já que todas são rastreadas desde a origem.
Valdick Faria, também membro da Comunidade, explica, por seu lado, que as moedas digitais têm custos de transação bastante reduzidos. E considera que a entidade financeira receia optar pelas criptos porque, alegadamente, acabará com o seu monopólio. “Em vez de o Governo controlar o sistema financeiro, serão os usuários, caso se opte por uma blockchain pública”, precisa.
Criada em 2017, a Comunidade de Criptomoedas, considerada ainda informal, tem cinco mil membros usuários de bitcoin e outras moedas digitais. No ano passado, fez chegar ao BNA um inquérito sobre os benefícios e seguranças no uso de criptomoedas com a intenção de ajudar na regulamentação do mercado angolano.
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